[{"jcr:title":"Quando a engenharia encontrou a sala de aula","cq:tags_0":"centro-de-conhecimento:centro-de-gest-o-e-pol-ticas-p-blicas","cq:tags_1":"centro-de-conhecimento:núcleo-de-estudos-de-gênero","cq:tags_2":"area-de-conhecimento:políticas-públicas","cq:tags_3":"area-de-conhecimento:políticas-públicas/diversidade","cq:tags_4":"area-de-conhecimento:engenharia","cq:tags_5":"docentes:"},{"richText":"A professora Bruna Arruda de Oliveira transformou a introspecção da infância em paixão pela docência e liderança em iniciativas de diversidade","authorDate":"22/08/2025 09h51","madeBy":"Por","tag":"centro-de-conhecimento:núcleo-de-estudos-de-gênero","title":"Quando a engenharia encontrou a sala de aula","variant":"imagecolor"},{"jcr:title":"transparente - turquesa - vermelho"},{"themeName":"transparente - turquesa - vermelho"},{"containerType":"containerTwo"},{"jcr:title":"Grid Container Section","layout":"responsiveGrid"},{"text":"Na infância, a paranaense  [Bruna Arruda de Oliveira](https://www.insper.edu.br/pt/docentes/bruna-arruda-de-oliveira)  era uma menina introspectiva, que preferia desmontar objetos e observar plantas arquitetônicas no jornal a brincar com outras crianças. Escolheu a engenharia acreditando que poderia se dedicar a cálculos, projetos e máquinas sem precisar interagir muito com pessoas. A sala de aula, nessa época, estava longe de seus planos. O destino, porém, tomou outro rumo. Engenheira química formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Maringá e doutoranda na Unicamp, Bruna se apaixonou pela docência durante o mestrado, quando precisou dar aulas como parte da formação. Desde então, descobriu que ensinar era não apenas compartilhar conhecimento, mas também criar conexões e transformar realidades. Hoje, no Insper, leciona Química Tecnológica e Ambiental no curso de  [Engenharia](https://www.insper.edu.br/pt/cursos/graduacao/engenharia) , atua na Educação Executiva em temas como diversidade, sustentabilidade e ESG, coordena o Laboratório de Química e é Embaixadora de Diversidade da instituição. Integra o  [Núcleo de Estudos de Gênero](https://www.insper.edu.br/pt/pesquisa/centro-de-gestao-e-politicas-publicas/nucleo-de-estudos-de-genero)  (NEG), ligado ao  [Centro de Gestão e Políticas Públicas](https://www.insper.edu.br/pt/pesquisa/centro-de-gestao-e-politicas-publicas)  (CGPP), apresenta o videocast  [NEG Convida](https://www.youtube.com/playlist?list=PLw0ygoHfe_jOZi13nVNI-gpZZp7JuQj-q)  e lidera iniciativas como o coletivo  [Raposas Negras](https://www.instagram.com/raposasnegras.insper/)  e o projeto Mulheres Negras na Engenharia (MNE), sempre guiada por um propósito: “Mais do que ensinar, quero ser voz para meninas negras que sonham com carreiras em tecnologia”. A seguir, conheça mais sobre a trajetória de Bruna Arruda de Oliveira. Minhas raízes e o início do sonho Nasci em Maringá, no Paraná, mas cresci em Nova Esperança, uma cidade de pouco mais de 20 mil habitantes. Só nasci em Maringá porque minha cidade não tinha hospital — minha mãe precisou ir até lá apenas para o parto. Nova Esperança é pequena, tranquila, e foi nesse ambiente que começaram a surgir os primeiros sinais de que minha vida teria um rumo muito diferente da maioria das meninas da minha idade. Desde criança, eu preferia ferramentas a bonecas. Lembro que minha mãe queria me colocar lacinhos e me dar bonecas, mas eu me encantava mesmo quando podia mexer em uma torneira, consertar alguma coisa ou brincar com a furadeira. Eu também adorava abrir o jornal — naquela época, ainda de papel — e procurar plantas arquitetônicas. Ficava avaliando se o banheiro estava perto demais da cozinha e concluía que aquele não era um bom projeto. Esse olhar crítico para construções e objetos fazia parte de mim, muito antes de eu saber que existia um curso chamado Engenharia. Cresci sem ter plena consciência de minha identidade racial. Meu pai é negro e minha mãe é branca, mas nunca tivemos conversas sobre isso em casa. Na escola, eu percebia que era diferente, mas não sabia exatamente por quê. Na minha cidade, 99% da população era branca, e essa falta de referência fez com que eu me tornasse uma criança introspectiva. Naquele tempo, eu dizia que queria um trabalho que me permitisse ficar sozinha, longe de interações constantes. Meu pai, professor de química, me falava sobre cadeias de carbono e fórmulas químicas, e eu me fascinava com a lógica e as cores desse universo. Foi aí que decidi unir minhas duas paixões: engenharia e química. O destino estava traçado — eu queria ser engenheira química.   A vida universitária e os primeiros desafios Passei no vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e, dos 16 para 17 anos, saí de casa pela primeira vez. A mudança foi um choque: vinda de uma cidade sem transporte coletivo, demorei a perceber que precisava acenar para o ônibus parar. Florianópolis, com sua dimensão e ritmo, me apresentou um mundo totalmente novo. Os dois primeiros anos do curso foram difíceis. O currículo era dominado por cálculo e disciplinas teóricas, e eu sentia falta de enxergar, na prática, como a engenharia poderia melhorar a vida das pessoas. Era frustrante estudar derivadas e integrais sem entender o impacto real disso na profissão. Pensei em desistir, mas, incentivada pelos meus pais, decidi continuar. A partir do terceiro ano, comecei a ter disciplinas mais aplicadas, como petróleo e gás e corrosão — área em que leciono hoje. Foi também nesse período que percebi os desafios de ser mulher em um ambiente majoritariamente masculino. Ouvi piadas como “lugar de mulher é na cozinha” e não tive nenhuma professora mulher como referência. Ainda assim, insisti, me dediquei e, ao final do curso, me formei com média acima de 9, sem nenhuma reprovação, recebendo a Láurea Acadêmica como melhor aluna da turma.   Primeiros passos no mercado de trabalho Meu plano inicial era passar em um concurso público da Petrobras, que era o grande sonho dos engenheiros químicos na época. Enquanto estudava, trabalhei na Transresíduos, empresa especializada em transformar lixões em aterros sanitários. Foi minha primeira experiência profissional, mas minha meta continuava sendo atuar na área de petróleo e gás. Um ano depois, surgiu a oportunidade de trabalhar como engenheira de processos júnior na Camargo Corrêa, em São Paulo, em projetos de refinarias da Petrobras. Era o sonho se tornando realidade, ainda que indiretamente. Passei oito anos nesse setor, até que a Operação Lava Jato paralisou as grandes empresas de engenharia. Sem projetos, fui desligada e precisei repensar minha trajetória.   A descoberta da docência Voltei para Maringá, para morar com meus pais, e decidi iniciar um mestrado em Engenharia Mecânica na Universidade Estadual de Maringá (UEM). A escolha foi estratégica: teria onde morar, receberia bolsa e poderia me manter ativa academicamente. Durante o mestrado, precisei dar aulas na graduação como parte do estágio docente. Ao entrar na sala, senti algo que não esperava: uma enorme satisfação em ensinar. Eu, que sempre fui introspectiva, descobri prazer em me comunicar e compartilhar conhecimento. Fui a primeira mulher a concluir o mestrado em Engenharia Mecânica na UEM — e, mais tarde, percebi que também fui a primeira mulher negra. Enfrentei resistência de colegas, que não acreditavam que mulheres pudessem dominar a área de mecânica, mas essa conquista me deu confiança para seguir adiante.   O retorno a São Paulo e a consolidação como professora Após o mestrado, iniciei doutorado na Unicamp, mas não o concluí por não me adaptar à vida em Campinas. Mudei-me para São Paulo e comecei a lecionar em instituições como Oswaldo Cruz, Uniso e Anhembi Morumbi. As turmas eram grandes, às vezes com mais de 70 alunos, e muitos estudantes trabalhavam o dia todo antes de chegar à aula noturna. Essa dedicação dos alunos me inspirava a buscar sempre ser uma professora melhor. Foi nessa fase que percebi que minha vocação estava na docência. No entanto, a baixa remuneração por hora-aula exigia que eu assumisse muitas turmas, o que acabou adiando a conclusão do doutorado.   A chegada ao Insper Em 2017, vi no LinkedIn uma vaga para professora de química no Insper. Não sabia muito sobre a instituição, apenas que seus alunos sempre apareciam muito bem vestidos nos arredores da Anhembi Morumbi, onde eu lecionava. Ao me candidatar, percebi que mais de 500 pessoas estavam concorrendo à vaga. Passei por um processo seletivo de seis meses e fui aprovada. Logo nos primeiros meses, percebi que o Insper tinha uma infraestrutura e uma metodologia de ensino muito diferentes do que eu conhecia. Salas equipadas, cortinas e lousas automáticas, um ambiente muito bem organizado. Mas também percebi algo que me chamou a atenção: a falta de diversidade racial entre professores e alunos. Eu e um colega, Rodolfo Avelino, éramos as únicas pessoas negras no corpo docente. Decidi escrever para o então presidente, Marcos Lisboa, pedindo uma reunião para falar sobre isso. Foi um gesto ousado, mas necessário. Em vez de rechaçar a pauta, ele me perguntou se eu poderia ajudar a mudar essa realidade. A partir daí, comecei a me envolver com a Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão, que até então era um grupo voluntário. Com o apoio da presidência e de diretores como Marcelo Orticelli, hoje vice-presidente de Desenvolvimento Organizacional do Insper, a diversidade entrou para o planejamento estratégico da instituição.   O nascimento e o crescimento das Raposas Negras Paralelamente, junto com um pequeno grupo de alunos, fundamos o coletivo Raposas Negras, voltado para estudantes negros do Insper. No início, éramos sete pessoas que se reuniam para conversar e se apoiar. Organizávamos encontros na minha casa, geralmente com pizza, para falar sobre nossas experiências e desafios. A sensação de pertencimento era fundamental para a permanência de todos nós na instituição. O grupo cresceu rapidamente. Passamos de encontros em casa para reservar churrasqueiras e, depois, espaços maiores. Hoje, temos mais de 100 integrantes ativos, incluindo estudantes internacionais. Ver esse crescimento é a realização de um sonho: criar um espaço de acolhimento e fortalecimento para quem, muitas vezes, se sente sozinho.   Projetos e papéis atuais no Insper Atualmente, sou professora de Química Tecnológica e Ambiental no curso de Engenharia e também atuo na Educação Executiva, ministrando disciplinas ligadas a diversidade, sustentabilidade e ESG. Coordeno o Laboratório de Química, garantindo o funcionamento e a segurança no uso de reagentes controlados. Sou Embaixadora de Diversidade do Insper e integrante do Núcleo de Estudos de Gênero (NEG), onde atuo no eixo “Tecnologia e Futuros Inclusivos” e apresento o videocast NEG Convida. Além disso, idealizei o projeto Mulheres Negras na Engenharia (MNE), maior coletivo do Brasil dedicado a engenheiras e estudantes negras, hoje com mais de 200 integrantes. Essas funções me permitem unir minha experiência técnica à missão de promover diversidade e equidade na área acadêmica e no mercado de trabalho.   Propósito e próximos passos Meu grande propósito é ser voz para meninas negras que sonham com carreiras em tecnologia. Quero que vejam, na minha trajetória, um exemplo de que é possível ocupar espaços que historicamente nos foram negados. Também quero avançar na produção de pesquisas sobre a presença (ou ausência) de mulheres negras em STEM no Brasil, para que possamos formular ações baseadas em dados concretos. Em breve, retomarei o doutorado na Unicamp, agora com foco na interseção entre educação em engenharia, gênero e tecnologia. Um marco importante nesse caminho acontecerá agora entre 27 e 31 de agosto, quando participarei, pela primeira vez como palestrante principal, do congresso da National Society of Black Engineers (NSBE) — a maior associação de engenheiros negros do mundo —, em New Orleans, nos Estados Unidos. Lá, conduzirei um workshop sobre mulheres negras em STEM, apresentando as iniciativas que o Insper vem desenvolvendo, especialmente na agenda de diversidade, e comparando dados e desafios do Brasil e da América do Sul com outras realidades internacionais. Também participarei de um painel chamado “Leading While Lifting: Black Women Building the Future of STEM”, ao lado de profissionais de destaque de diferentes países. Será uma oportunidade única para mostrar que as ações realizadas aqui têm impacto e relevância global, ao mesmo tempo em que troco experiências e trago novas ideias para fortalecer ainda mais o nosso trabalho no Insper.  "}]