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A professora Vanessa BoaratiA professora Vanessa Boarati

 

Doutora e mestre em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), Vanessa Boarati passou por uma fase complicada durante a infância, quando quase foi reprovada na segunda série da escola pública que frequentava em Taubaté, no interior de São Paulo. “Como eu aprendia muito rápido, a escola não me dava motivação. Se minha mãe não tivesse me transferido para outra escola, eu provavelmente teria me tornado uma aluna problemática”, conta Vanessa, hoje professora do Insper, onde está desde 2015. Além de lecionar a disciplina de Economia da Saúde no curso de graduação de Economia e Microeconomia no curso de Direito, ela atua como coordenadora executiva do Escritório de Apoio à Pesquisa do Insper, ajudando a viabilizar projetos acadêmicos.


“Minha função no Escritório é garantir que os professores tenham todo o suporte para desenvolver pesquisas de ponta, desde a captação de recursos até a gestão de seminários”, diz. Vanessa também coordena, juntamente com a professora Carolina Melo, o Núcleo de Saúde, vinculado ao Centro de Gestão e Políticas Públicas (CGPP). Na pesquisa, seu foco de interesse é a judicialização da saúde, um fenômeno que ocorre quando cidadãos recorrem à Justiça para garantir o acesso a tratamentos médicos que não estão sendo oferecidos pelo sistema público de saúde ou pelos planos de saúde suplementar.


A seguir, conheça mais sobre a trajetória da professora Vanessa Boarati.

 

Infância e família


Eu nasci em São Paulo, mas fui criada em Taubaté, no Vale do Paraíba. Comecei meus estudos em uma escola pública, mas quase fui reprovada na segunda série porque conversava muito e havia parado de aprender. Minha mãe veio conversar comigo para entender o que estava acontecendo. Expliquei que a professora repetia o conteúdo dez vezes, então eu deixava para prestar atenção só na décima vez. Foi então que minha mãe decidiu me transferir para uma escola particular mais exigente, e isso transformou minha trajetória. Na nova escola, onde estudei boa parte do tempo como bolsista, encontrei os desafios que me faltavam. Como eu aprendia muito rápido, a escola anterior não me dava motivação. Se minha mãe não tivesse me mudado de escola, eu provavelmente teria me tornado uma aluna problemática.


Minha família sempre foi uma base muito forte para mim. Meu pai era contador, uma profissão que tem uma certa ligação com a área de exatas, mas ele nunca me influenciou diretamente na escolha da carreira. Já minha mãe era enfermeira, e sou a caçula de três irmãos. É curioso que todos nós seguimos caminhos acadêmicos diferentes, mas igualmente desafiadores. Enquanto meus irmãos mais velhos escolheram cursos mais tradicionais — um deles fez Medicina e o outro, Engenharia —, eu segui uma rota mais ligada às ciências humanas, buscando desde cedo entender mais sobre o mundo à minha volta e os mecanismos que o movem.

 

Descobrindo a Economia e o Antitruste


No ensino médio, tive um professor que despertou meu interesse por história e planos econômicos, o que me seduziu para a área. Embora estivesse em dúvida entre Economia e Direito, gostava de matemática, história e disciplinas relacionadas à Economia, o que acabou direcionando minha escolha. Entrei na Faculdade de Economia da USP, mas ainda sem muita certeza do que exatamente queria fazer. Foi durante o segundo ano de faculdade que tudo começou a clarear para mim. Tive a sorte de ter aulas com a professora Elisabeth Farina, que foi uma grande influência na minha trajetória. Ela falava sobre a defesa da concorrência, mencionando casos que envolviam o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Esse contato me despertou um interesse profundo pela área de antitruste, que está na intersecção entre Economia e Direito, e foi aí que decidi que queria seguir por esse caminho.


Durante as férias, comecei a estagiar no Cade, em Brasília. Foi minha primeira experiência prática na área e pude ver de perto como funcionavam os processos de fusões, aquisições e cartéis. Depois de me formar, segui trabalhando com consultoria econômica em grandes escritórios de advocacia, sempre na área de defesa da concorrência. Atuei como consultora econômica em dois escritórios importantes, onde meu trabalho era fornecer análises técnicas sobre casos de antitruste e ajudar a interpretar os impactos econômicos de fusões e práticas comerciais. Foram mais de 15 anos trabalhando nessa área.

 

Paixão pela docência e a jornada acadêmica


Minha primeira experiência como professora foi na Faap, em 2000. As oportunidades foram surgindo, e acabei aceitando o desafio de lecionar. E foi ali que descobri uma paixão que ainda não tinha percebido em mim. Ensinar se tornou uma parte fundamental da minha vida, e me apaixonei pelo processo de compartilhar conhecimento e, ao mesmo tempo, aprender com os alunos. Fiquei na Faap por quase 17 anos, dando aulas de Economia para diferentes turmas.


O que mais me atrai em lecionar é o fato de que o ensino não é uma via de mão única. A interação com os alunos é sempre surpreendente, e cada turma é única. Embora haja um currículo e tópicos definidos, a maneira como os alunos absorvem e interagem com o conteúdo faz com que eu me transforme também. Eles me instigam a pesquisar mais, a buscar novas formas de ensinar e a não me acomodar em uma zona de conforto.


Durante esse período, também decidi seguir com meus estudos e fiz o mestrado em Economia na USP. O mestrado foi uma experiência que me ajudou a aprofundar meu conhecimento na área e a trazer novas perspectivas para a sala de aula.

 

 

Gestão e docência


Minha chegada ao Insper, em 2015, foi resultado de um convite do professor Paulo Furquim, com quem já havia trabalhado no Cade. Ele me chamou para participar de uma pesquisa, e essa oportunidade acabou sendo a porta de entrada para minha atuação na instituição. No início, fui convidada a trabalhar no Centro de Estudos em Negócios (Ceneg), onde fiquei responsável pela parte administrativa, cuidando dos contratos, em parceria com o departamento jurídico, gerenciando o pagamento dos assistentes de pesquisa e auxiliando os professores na organização de eventos acadêmicos.


Durante o período em que estava no Ceneg, concluí meu doutorado e, em 2021, após finalizar essa etapa, mudei para o Escritório de Apoio à Pesquisa. Lá, passei a coordenar a equipe que dá suporte aos professores em várias frentes, como a submissão de projetos para agências de fomento, gestão de verbas, acompanhamento de orçamentos e compra de equipamentos e bancos de dados. Também ficamos responsáveis pela organização de seminários acadêmicos, lidando com toda a parte logística para a vinda de pesquisadores e convidados.


Hoje, além de coordenar o Escritório de Apoio à Pesquisa, leciono a disciplina de Economia da Saúde no curso de Economia, juntamente com a professora Isabela Furtado, e dou aulas de Microeconomia no curso de Direito.
Além dessas atividades, coordeno, ao lado da professora Carolina Melo, o Núcleo de Pesquisa em Saúde, vinculado ao Centro de Gestão e Políticas Públicas (CGPP). Meu tempo, portanto, se divide atualmente entre essas atividades de gestão, ensino e desenvolvimento de pesquisas, com ênfase na área de Economia da Saúde, que se tornou o foco da minha atuação acadêmica nos últimos anos.

Centro de Gestão e Políticas Públicas

Debates informados sobre diagnóstico, formulação e avaliação de políticas públicas no Brasil

Economia da saúde


Minha migração para a área de economia da saúde aconteceu de forma gradual. Quando comecei a trabalhar com o professor Paulo Furquim no Insper, entrei em contato com pesquisas voltadas para a saúde suplementar e me vi atraída por esse campo, especialmente pela possibilidade de estudar questões como os custos e o impacto das políticas públicas nessa área. A economia da saúde é uma área que tem crescido muito, tanto no Brasil quanto internacionalmente, e traz oportunidades de estudo com relevância social, o que me motiva bastante.


Com o tempo, esse interesse foi se aprofundando e, quando fiz meu doutorado, decidi focar minha tese nesse tema, com especial atenção à judicialização da saúde e à assistência farmacêutica para portadores de diabetes mellitus. Esse trabalho me ajudou a desenvolver uma compreensão mais ampla sobre os desafios e oportunidades na área de saúde, tanto no setor público quanto no privado.


Atualmente, o Insper tem se destacado como uma instituição que promove pesquisas de ponta na economia da saúde. Um exemplo disso é o projeto coordenado pela professora Carolina Melo, que faz uma avaliação de impacto de tecnologias de tomografia com operação remota, em parceria com grandes instituições de saúde, como o Hospital das Clínicas. Esse tipo de iniciativa mostra como o Insper está investindo cada vez mais na área, e estar envolvida nesse ambiente de inovação e pesquisa é algo que me inspira a continuar explorando as complexidades e os desafios da economia da saúde.

 

Judicialização da saúde


A judicialização da saúde é um fenômeno que ocorre quando cidadãos recorrem à Justiça para garantir o acesso a tratamentos médicos que não estão sendo oferecidos pelo sistema público de saúde ou pelos planos de saúde suplementar. No Brasil, a saúde é um direito garantido pela Constituição e um dever do Estado, o que dá margem para que, em muitos casos, as pessoas busquem amparo jurídico para obter medicamentos, procedimentos ou tratamentos que não estão disponíveis de forma acessível.

Essa prática se tornou bastante comum e representa um desafio significativo, tanto em termos de custo quanto de organização do sistema de saúde.
Um exemplo concreto que estudei foi o caso dos portadores de diabetes mellitus, que frequentemente recorrem à Justiça para obter medicamentos essenciais para o controle da doença. Durante minha pesquisa, fiz uma análise dos perfis dos pacientes que judicializam esse tipo de tratamento e quais são as variáveis que influenciam o sucesso dessas ações. Outro exemplo relevante está relacionado ao transtorno do espectro autista (TEA), especialmente no sistema de saúde suplementar. A judicialização para garantir terapias e tratamentos para pessoas com TEA tem sido um dos principais motivos de processos contra os planos de saúde.


A judicialização da saúde é uma questão complexa. Meu objetivo é entender o processo e suas características sem tomar partido. Por exemplo, medicamentos para doenças raras são muito caros e não estão previstos no SUS, o que torna o papel do Judiciário importante, já que essas doenças são frequentemente negligenciadas. Ao mesmo tempo, a judicialização pode desorganizar o orçamento da saúde. O foco é analisar o perfil dos casos e os dados concretos para, a partir disso, propor medidas práticas, como negociar com a indústria ou buscar alternativas de tratamento, sem buscar vilões e mocinhos.

 

Diferenciais do Insper


Na minha visão, um dos grandes diferenciais do Insper é a forte ênfase na interdisciplinaridade e na integração entre os cursos. Aqui, não é raro ver alunos de diferentes áreas trabalhando juntos em projetos e trocando conhecimento em disciplinas compartilhadas. Essa abordagem integrada faz com que os alunos desenvolvam uma visão mais ampla e conectada da realidade, algo essencial no mundo atual, onde os problemas e desafios são complexos e exigem soluções que cruzam fronteiras entre disciplinas.


Por exemplo, tenho alunos de Direito que se interessam por matérias tipicamente associadas à Economia, como a minha eletiva de Economia da Saúde. Esse tipo de integração é fundamental, pois, no futuro, um profissional de Direito pode ter que lidar com questões que envolvem conhecimentos de contabilidade, finanças ou até mesmo programação. No Insper, essa diversidade de competências é incentivada, e os alunos têm a oportunidade de construir um repertório mais rico, o que aumenta suas chances de sucesso no mercado de trabalho.


A interdisciplinaridade também fortalece a capacidade dos alunos de resolver problemas de maneira criativa e colaborativa. Ao integrar conhecimentos de diferentes áreas, eles são desafiados a pensar de forma mais crítica e inovadora.

 

 

Projetos para o futuro


Estou muito satisfeita com os projetos e trabalhos que venho desenvolvendo, mas também sinto que há sempre espaço para explorar novos desafios e continuar me aprimorando. Um dos temas que mais me interessam atualmente é a questão das doenças raras e a judicialização da saúde nesse contexto. Já começamos algumas pesquisas nesse campo, mas ainda há muito a ser investigado, especialmente sobre como podemos melhorar o acesso a tratamentos e a qualidade de vida dos pacientes sem comprometer a sustentabilidade do sistema de saúde. Vejo nessa área uma oportunidade de contribuir de maneira significativa para o debate público e para o desenvolvimento de políticas mais eficientes.


Outro projeto que tenho em mente é continuar expandindo o trabalho no Escritório de Apoio à Pesquisa do Insper. A ideia é fortalecer ainda mais o suporte aos professores, buscando novas oportunidades de fomento e parcerias institucionais, tanto no Brasil quanto no exterior. A pesquisa acadêmica é fundamental para o avanço do conhecimento, e quero ajudar a garantir que os pesquisadores do Insper tenham todos os recursos e apoio necessários para desenvolver trabalhos de ponta.
 




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