Realizar busca

A paulistana Mariana Lopes Andrade, egressa do Programa Avançado em Gestão Pública (PAGP) do Insper, conclui seu mestrado em Economia e Políticas Públicas pela Universidade de Lisboa, defendendo sua tese no início de 2025. Sua pesquisa focou naquilo que tem sido seu principal interesse acadêmico: o desenvolvimento de políticas públicas para a redução das desigualdades educacionais no Brasil. Mais especificamente, ela analisou fatores que antecedem a experiência escolar e que influenciam não só o aprendizado dos estudantes, mas também suas aspirações e expectativas educacionais.

 

“A educação é a ferramenta mais poderosa para a transformação social, mas precisamos reconhecer que as desigualdades precedem a escola. Os desafios transcendem o aprendizado em sala de aula, englobando o contexto social e as referências disponíveis aos alunos em seu ambiente familiar e comunitário”, argumenta Mariana.

 

Seu trabalho examinou os fatores que moldam as aspirações e expectativas educacionais dos estudantes antes mesmo da experiência escolar, demonstrando como esses elementos influenciam seu desempenho acadêmico e trajetória futura. "Como um estudante pode vislumbrar o ensino superior se nunca teve referências próximas que trilharam esse caminho? Esta é uma questão central para nossas políticas públicas", questiona.

 

 

Aspirações e expectativas

 

De acordo com Mariana, a aspiração educacional refere-se à ambição de alcançar determinado nível acadêmico ou seguir uma carreira específica. Já a expectativa educacional é a projeção mais realista do que pode ser concretizado, considerando as barreiras socioeconômicas existentes. “Enquanto as aspirações são mais idealistas, as expectativas refletem as limitações reais do contexto do estudante”, explica.

 

A capacidade de aspirar é construída por meio da experimentação e da interação com diferentes realidades. Já a janela de aspiração é formada pelas experiências e referências que moldam o entendimento do que é possível alcançar. Assim, estudantes de contextos mais privilegiados costumam ter uma capacidade de aspirar muito maior do que aqueles em situação de vulnerabilidade, simplesmente porque possuem mais referências e oportunidades.

 

“Como um estudante pode aspirar a uma universidade de prestígio se nunca ouviu falar dela? Como ele pode esperar ingressar no ensino superior se precisa dividir seu tempo entre os estudos, o trabalho e o cuidado de familiares?”, questiona Mariana. Sua análise, baseada em dados da Equidade.Info de 2023 e do PISA Brasil de 2022, aponta uma relação forte entre aspirações, expectativas e desempenho escolar, consolidando um ciclo de desigualdades que precisa ser combatido com políticas públicas focadas na equidade educacional.

 

 

História de superação 

 

A trajetória pessoal de Mariana reflete os desafios enfrentados por muitos estudantes brasileiros. Nascida na Zona Leste de São Paulo, ela viu de perto como a falta de oportunidades educacionais pode limitar o potencial de uma pessoa. Seu pai, Marcio Andrade, é sua maior inspiração. Ele precisou abandonar os estudos na quarta série para trabalhar e ajudar no sustento dos irmãos mais novos. Durante muitos anos, trabalhou como representante de vendas de álbuns de formatura, mas precisou mudar de profissão durante a pandemia e hoje atua como motorista de aplicativo.

 

“Meu pai é a pessoa mais inteligente que já conheci e, mesmo sem oportunidades de avançar na educação formal, ele sempre fez de tudo para que eu e meus irmãos tivéssemos acesso ao conhecimento e pudéssemos sonhar alto”, diz Mariana.

 

Sua mãe, Marcia Lopes dos Santos Andrade, também teve papel essencial na dinâmica familiar. Ela trabalhou por muitos anos como representante de vendas, principalmente no setor de móveis, e sempre incentivou os filhos a estudarem. “Minha mãe é uma mulher forte e determinada, que nunca mediu esforços para garantir que tivéssemos um futuro melhor”, destaca Mariana.

 

Além de Mariana, seus irmãos também concluíram o ensino superior. Sua irmã, Fernanda, é formada em Psicologia e trabalha no setor bancário. Já seu irmão, Tiago, formou-se em Contabilidade e seguiu carreira na área financeira, atuando no setor de auditoria e consultoria. “Meus pais sempre fizeram tudo o que podiam para garantir que tivéssemos acesso a uma boa educação. Foi esse suporte que nos permitiu alcançar nossos objetivos”, ressalta.

 

Graças a esse incentivo, Mariana conseguiu concluir a graduação em Economia na Universidade São Judas e, posteriormente, especializar-se em Gestão Pública no Insper, onde estudou de 2019 a 2021. “O Insper foi essencial para minha formação. O Programa Avançado em Gestão Pública ampliou minha visão sobre políticas educacionais e me deu ferramentas para atuar de forma mais estratégica no setor público”, destaca.

 

 

Trajetória em Portugal

 

Quando decidiu fazer o mestrado, Mariana optou pelo ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão) da Universidade de Lisboa. A escolha foi baseada na tradição dessa instituição em economia e políticas públicas, além da perspectiva internacional que oferece. Mariana buscava um programa que combinasse fundamentação teórica e aplicabilidade prática, permitindo aprofundar sua investigação sobre aspirações e expectativas educacionais num contexto global. 

 

Ao se mudar para Portugal em 2022 para iniciar seu mestrado, Mariana precisou se adaptar a uma nova cultura e aos desafios próprios de uma mudança internacional. Inicialmente, trabalhou no setor privado para se manter financeiramente, atuando na consultoria PwC. No entanto, seu desejo de voltar a atuar na área educacional a levou a uma transição para a Universidade Nova de Lisboa, onde trabalha desde 2024 como Gerente de Desenvolvimento de Programas de mestrado da Nova SBE (School of Business & Economics). Em paralelo, dedicou-se à sua pesquisa acadêmica, que culminou na defesa de sua tese em janeiro de 2025.

 

 

Planos de retorno ao Brasil

 

Com o mestrado concluído, Mariana agora se prepara para o doutorado — seu sonho é estudar na Universidade Stanford. “Sei que é uma meta ambiciosa, tanto pelo rigor do processo seletivo quanto pelo desafio de me manter financeiramente, mas acredito que esse seria o caminho ideal para aprofundar minha pesquisa e ampliar meu impacto na área educacional”, diz Mariana.

 

Embora esteja atualmente em Portugal, seu plano no longo prazo é retornar ao Brasil. “O Brasil tem desafios enormes na área da educação. Precisamos de políticas que fomentem aspirações e expectativas educacionais de maneira equitativa, garantindo que todos os estudantes tenham as mesmas oportunidades de sucesso”, diz Mariana. “Quero usar minha pesquisa e minha experiência para ajudar a construir um sistema educacional mais justo e inclusivo.”



Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade