Engenheiro que nunca exerceu a engenharia, executivo de finanças que virou acadêmico, consultor que se tornou professor — esses são apenas alguns dos capítulos da rica trajetória profissional do paulistano Geraldo Setter. Doutor em Ciências, na área de Administração e Governança Corporativa, pela Universidade de São Paulo e mestre em Administração pelo Insper, ele acumula mais de três décadas de experiência como executivo e consultor em empresas brasileiras e multinacionais de diversos segmentos, desde consultoria de TI e gestão até mídia e incorporação imobiliária.
“Sem perceber — para usar uma imagem da biologia —, eu fui fagocitado pelo Insper”, brinca Setter ao explicar como se envolveu cada vez mais com a instituição onde hoje atua como coordenador executivo da Pós-Graduação Lato Sensu. Sua jornada ilustra como experiências diversificadas no mundo corporativo podem enriquecer a carreira acadêmica e a formação de futuros profissionais.
O que começou com um MBA no Insper em 2003 transformou-se em uma relação de pertencimento e dedicação que atravessa diferentes esferas da instituição. Da coordenação de projetos inovadores como o primeiro Contrato de Impacto Social do Brasil até o desenvolvimento de programas acadêmicos na área de sustentabilidade, Setter ilustra, com sua trajetória, o encontro entre o conhecimento prático do mercado e o rigor acadêmico que caracteriza o Insper.
A seguir, conheça mais sobre a trajetória profissional de Geraldo Setter.
Sou paulistano, descendente de italianos na maior parte. Por formação, sou engenheiro mecânico pela Escola de Engenharia Mauá / Instituto Mauá de Tecnologia, mas nunca trabalhei diretamente com engenharia. Como muitos engenheiros no Brasil, fui parar primeiro na área de consultoria em TI e depois na área financeira.
A escolha pela engenharia veio de um conselho que ouvi: “O engenheiro pode ser um administrador, mas o administrador não pode ser um engenheiro”. Em meados da década de 1980, o Brasil estava num momento complicado economicamente — a famosa “década perdida” — e os empregos para engenheiros em engenharia não estavam tão abundantes no mercado. Durante minha graduação, não tinha muita clareza sobre com o que gostaria de trabalhar. Diferente do meu pai, que teve uma carreira de mais de 40 anos na mesma empresa, como executivo de logística de uma multinacional suíça, decidi que queria experimentar diferentes caminhos.
Meu primeiro emprego foi na Arthur Andersen, uma das grandes empresas de auditoria e consultoria da época. O grande atrativo era um programa de treinamento no exterior — algo distante para a classe média brasileira naquele período de crise cambial e inflação. Fiz quatro cursos no centro de treinamento em St. Charles, próximo a Chicago, três como aluno e um como instrutor.
Após três anos, percebi que estava me envolvendo muito com a parte técnica de análise de sistemas, e não era bem o que eu buscava. Comecei então minha primeira pós-graduação na FGV e, pela habilidade quantitativa da engenharia, me interessei bastante pela área de finanças.
Surgiu uma oportunidade para participar de um programa de trainees do Bank Boston. Trabalhei nas mesas de operação do banco por cerca de dois anos, entre 1990 e 1992, até que desenvolvi minha “primeira gastrite” devido à tensão do mercado financeiro — um sinal de que deveria buscar outro caminho.
A próxima etapa foi na Philips, na área de controladoria, trabalhando com reporting para a matriz. Meu papel era reformular todo o processo de reporting gerencial, usando minha experiência anterior em sistemas, bem como – a partir dos conhecimentos da área financeira – explicar para estrangeiros os resultados do Brasil nos anos 1980, com inflação de 50% ao mês e conceitos como correção monetária.
Com cerca de 30 anos, pedi demissão da Philips para fazer um “mochilão” pela Europa — um sabático antes de esse termo se tornar conhecido. Durante essa viagem, que durou quase um ano, recebi um convite especial da Philips para visitar a matriz na Holanda em Eindhoven, com direito a hospedagem e programação especial — um reconhecimento pelo trabalho que havia realizado.
Ao retornar ao Brasil, apesar de um convite da Philips para voltar à empresa, surgiu a oportunidade de ir trabalhar na Promon Engenharia, na área de controladoria dos contratos de fornecimento e implantação de sistemas de telefonia celular — a chamada Banda B da telefonia celular no Brasil —, com contratos de centenas de milhões de dólares. Tive três momentos distintos na Promon: primeiro na controladoria de contratos de telefonia celular, depois na tesouraria operacional, e por fim no desenvolvimento de projetos na área de incorporação imobiliária.
Por conta dessa atuação, fui convidado para ser CFO de uma empresa de incorporação imobiliária do grupo Rossi, voltada para imóveis residenciais e escritórios de alto padrão. Tornei-me diretor estatutário da empresa com pouco mais de 30 anos, mas me preocupava a responsabilidade que o cargo trazia. Com o fim da âncora cambial, que havia vigorado desde a implantação do Plano Real, e nuvens cinza que isso trazia para o horizonte da economia brasileira, entendi que estaria mais tranquilo me afastando da responsabilidade que o cargo implicava.
Trabalhei como consultor autônomo por cerca de três anos, até ser convidado para montar do zero a área de controladoria e finanças do jornal Valor Econômico. Participei da equipe original que estruturou a empresa, implementando processos e sistemas.
Nessa época, já pensava em fazer um curso stricto sensu. Fui aprovado no mestrado em Administração da FEA-USP, mas a implantação do Valor Econômico exigia expedientes de 10 a 14 horas diárias, impossibilitando a dedicação aos estudos. Fiquei no Valor por cerca de três anos, até uma reestruturação interna da empresa.
Ao sair, ganhei como parte do pacote de desligamento um MBA no antigo IBMEC (hoje Insper), em 2003 —meu primeiro contato com a instituição. Após concluir o MBA em 2005, continuei atuando como consultor independente e, todo ano, voltava ao Insper para cursar uma ou outra disciplina como aluno especial.
Em 2011, decidi retomar o plano de obter a titulação de mestre. Ingressei no Mestrado Profissional em Administração do Insper, já conhecendo e sendo fã da escola. Tive como orientador o professor Hedibert Freitas Lopes e como coorientador o professor Sérgio Giovanetti Lazzarini, que já havia inclusive sido meu professor na época do MBA.
Após defender meu mestrado, queria me aproximar da docência. Em algum momento entre o final de 2014 e o início de 2015, decidi marcar um café com o professor Afonso Braga, amigo e colega dos tempos da graduação em engenharia, que já lecionava no Insper. Meu objetivo era explorar possibilidades de networking e entender melhor esse novo caminho que queria trilhar. A partir disso, e alguns meses depois, recebi um convite do professor Guy Cliquet do Amaral Filho, para orientar trabalhos de conclusão de curso na pós-graduação.
Em janeiro de 2016, comecei a atuar como professor de tempo parcial no Insper. Certo dia, na sala dos professores, encontrei o professor Lazzarini, que me perguntou sobre meus planos. Compartilhei que não pretendia voltar ao mundo corporativo, mas comentei também sobre o momento difícil para a oferta de consultoria devido à situação econômica do país.
Foi então que surgiu a oportunidade de participar de um grande projeto: o desenvolvimento do primeiro Social Impact Bond (Contrato de Impacto Social) do Brasil, em parceria com o governo do estado de São Paulo, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e a Social Finance, ONG britânica que desenvolveu originalmente esse conceito. O projeto visava lidar com o problema dos jovens que abandonam o ensino médio e não conseguem se inserir no mercado de trabalho (os nem-nem, que nem estudam, nem trabalham), buscando maior eficiência no uso dos recursos públicos direcionados para educação.
Como gestor desse projeto, coordenei uma equipe de mais de dez pesquisadores por cerca de dois anos, sob a liderança dos professores Sergio Lazzarini e Sandro Cabral. Apesar do trabalho rigoroso e do desenho de um arranjo contratual que poderia trazer grandes benefícios para a sociedade, o projeto acabou não sendo implementado devido a questões políticas, o que foi uma grande frustração para todos os envolvidos.
Esse projeto, no entanto, foi fundamental para minha aproximação com o setor público e de políticas públicas, e para um maior envolvimento com o Insper Metricis, núcleo de pesquisa dedicado a investimentos de impacto social e sua mensuração, fundado vários anos antes pelo professor Sergio Lazzarini. E, em paralelo a isso tudo, busquei ainda o título de doutor pela FEA-USP, na área de Administração / Governança Corporativa.
Com o tempo, fui ampliando minha atuação no Insper: tornei-me coordenador administrativo do Insper Metricis, monitor em disciplinas, assistente de professores visitantes, professor em disciplinas de graduação, e participei do desenvolvimento do Programa Avançado em Sustentabilidade, do qual me tornei coordenador. Como costumo brincar, “fui fagocitado pelo Insper” — envolvido por todos os lados pela instituição.
Há cerca de três ou quatro anos, recebi o convite para ser professor de dedicação exclusiva no Insper. E, desde o final de 2023, atuo como coordenador Executivo de toda a Pós-Graduação Lato Sensu, o que inclui cursos como o MBA, o MBM, os Programas Avançados e cursos na área do Direito, sem esquecer dos cursos na área de políticas públicas, como o Programa Avançado em Gestão Públicas (PAGP) e o Master em Gestão Pública (MGP).
Mantenho também uma pequena atuação docente, com uma disciplina eletiva de fim de curso na graduação — Sustainability-Based Strategy —, ministrada em inglês para aumentar a oferta de alternativas para alunos intercambistas.
Hoje, sob a liderança do professor Silvio Laban, diretor de Educação Executiva e Pós-Graduação Lato Sensu, e contando com um grande time de coordenadores de cursos, trabalhamos no aprimoramento contínuo da Pós-Graduação Lato Sensu como parte do plano estratégico do Insper.
Após muitas experimentações ao longo da minha carreira, encontrei-me verdadeiramente no Insper. É muito gratificante se sentir parte dessa história e dessa instituição que, como o próprio nome sugere, busca “inspirar e pertencer”. É realmente quando você se encontra no que faz, trabalha com um grupo no qual acredita e admira, e está numa organização pela qual você trabalha e torce.