O marco legal do saneamento básico foi o tema do Prêmio Pensamento Crítico II, realizado pela disciplina Pensamento Crítico e Ética, dos cursos de Administração e Economia do Insper. Os professores Fernando Schüler, Leandro Consentino e Aparecido Alves propuseram aos alunos a escrita de uma resenha sobre a legislação aprovada em 2020, que está reconfigurando o cenário do setor no Brasil. Quatro trabalhos do primeiro semestre de 2024 foram selecionados e podem ser lidos, na íntegra, nos links ao final desta página.
A atividade ocorre duas vezes por semestre. Na primeira, refletiu-se sobre ética empresarial relacionada à fraude da startup de tecnologia Theranos. O segundo prêmio focou na teoria da escolha pública e a relação entre Estado e mercado. “Procuramos apresentar ao aluno a base teórica e desafiá-lo a aplicar os conceitos ao estudo de algum caso específico”, diz Schüler. “É um desafio um pouco mais pragmático, porque o aluno precisa se debruçar sobre um caso real sem perder a dimensão teórica e conceitual. Não se trata de oferecer uma opinião simplesmente. Significa aplicar de maneira adequada os conceitos.”
Complementando a teoria e a leitura de textos indicados pelos professores, houve um debate com Fabiano Dallazen, diretor de relações institucionais da Aegea, empresa privada responsável pelo tratamento de água e esgoto em municípios de 15 estados brasileiros. Os alunos lotaram o auditório do Insper. “Foi um grande momento aquele congraçamento das quatro turmas para assistir a um debate com alguém da relevância do Dallazen sobre a questão do saneamento básico”, afirma Consentino. “Mobilizar as pessoas em torno desse tema e refletir criticamente sobre o problema dentro de uma escola da envergadura do Insper é extremamente importante.”
Na opinião de Consentino, ouve-se muita verdade pronta com relação a questões de privatização e gestão de políticas públicas, portanto é fundamental desenvolver a capacidade de reflexão crítica, independentemente do posicionamento político e ideológico de cada um. “Esse é um ganho que propiciamos aos alunos já no primeiro semestre, pois eles podem trabalhar com toda essa informação e construir textos de qualidade, como os quatro selecionados”, diz Consentino.
Alves ressalta a oportunidade de mostrar para os estudantes de Administração e Economia, logo no primeiro ano de curso, que as decisões envolvendo questões políticas e econômicas não ocorrem no vácuo. Sabe-se que alguns grupos vão ganhar e outros vão perder. Alguns atuarão de maneira mais aguerrida e organizada, e outros de maneira mais dispersa. “A ideia é analisar quais são os incentivos desses grupos e, sobretudo, quais são as retóricas que eles vão utilizar no debate público”, afirma Alves. “Tentar fazer essas vinculações acrescenta demais ao aprendizado dos alunos, para eles perceberem que aquilo que surge nos debates públicos, muitas vezes, é basicamente a superfície de toda a discussão.”
Diante da expansão do uso de ferramentas de inteligência artificial na criação intelectual, teme-se que o texto seja visto como um processo que pode ser terceirizado, observa Schüler. As atividades do Prêmio Pensamento Crítico seguem a direção contrária. “Em que pese o aluno possa utilizar ferramentas das mais diversas em tecnologia, ele não pode abrir mão da arte da escrita, da elaboração, da criatividade e da argumentação”, diz Schüler. “Ou seja, o aluno não pode terceirizar o próprio raciocínio. Nesse sentido, é uma formação clássica que a disciplina propõe e que espero que se mantenha.”
A aluna Nathalie Michele Garrison destaca a chance de aprimorar as habilidades de análise crítica e argumentação, que considera essenciais para o seu desenvolvimento acadêmico e profissional. “Pude compreender melhor a integração entre políticas econômicas e sociais, além dos desafios da implementação de novas legislações em setores essenciais como o saneamento básico”, afirma Nathalie. “Um dos principais desafios na pesquisa e redação do texto foi lidar com a complexidade do novo marco regulatório e a divergência de opiniões das partes interessadas. Foi necessário conciliar e incluir diferentes perspectivas, que variam desde políticas públicas até os impactos econômicos e sociais para a população e as empresas de saneamento.”
Para a aluna Maria Luiza Leão, a grande quantidade de informações disponíveis e a diversidade de opiniões sobre o tema exigiram uma seleção de fontes e um esforço contínuo para manter a objetividade. “A complexidade dos conceitos abordados, como a teoria da escolha pública e a noção de busca de renda, demandou uma compreensão profunda para que pudessem ser explicados de forma clara e acessível”, diz Maria Luiza. “Minha formação foi fortemente impactada pela pesquisa e produção deste artigo. Tenho agora uma melhor compreensão das complicações das políticas públicas e da importância de um quadro regulatório eficaz para o desenvolvimento sustentável. Além disso, estudar a teoria da escolha pública e os comportamentos de busca de renda entre vários grupos de interesse me ajudou a descobrir como diversos elementos afetam a criação e a execução de políticas.”
Prêmio Pensamento Crítico II
TURMA A
Gustavo Borges Arruda
TURMA B
Nathalie Michele Garrison
The challenges and opportunities that come along with the new legal framework for basic sanitation
TURMA C
Maria Luiza Leão de Oliveira
From source to sewer: the multi-faceted impact of Brazil's sanitation legal framework
TURMA D
Laila Toledo Assef de Mattos
A fundamental right denied: the critical state of basic sanitation in developing countries