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Rodrigo Soares e Victor de Faro Quadros O professor Rodrigo Soares e o aluno Victor de Faro Quadros

 

A destinação oficial de uso de florestas públicas — como reserva indígena ou área de proteção ambiental, por exemplo — pode ajudar a reduzir o comércio ilegal de madeira na Amazônia. Esse é um das conclusões do trabalho “Investigando a relação entre o desmatamento da Amazônia e o mercado de produtos florestais primários”, do aluno Victor de Faro Quadros, do oitavo semestre de Economia do Insper. Orientado pelos professores Rodrigo Soares, Leila Pereira e Rafael Pucci, ele recebeu o Prêmio Insper de Iniciação Científica, escolhido entre os participantes do 2º Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica.

 

O projeto de Quadros, realizado no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica (PIBIC), tentou entender como a atividade no mercado legal de madeira está associada ao desmatamento ilegal em florestas públicas não destinadas. Na pesquisa, foram usadas estatísticas de 2012 a 2022, que formaram um banco de dados sobre o fluxo de toras. “Um contexto mais amplo da discussão sobre crimes ambientais na Amazônia Legal está associado à relação entre mercados legais e ilegais das atividades madeireiras na Amazônia”, explica o professor Soares. “Supõe-se que uma madeireira legalizada, com licença para operar, possa tanto coibir quanto incentivar atividades ilegais ao redor.”

 

A premiação causou certo espanto em Quadros. “Eu me dediquei bastante à iniciação científica e tinha chegado a um nível de qualidade que me deixou satisfeito, então tinha esperança de que o relatório seria um dos bons trabalhos”, diz o aluno. “Mas sabia que os trabalhos de outros colegas, inclusive de meus amigos, também haviam ficado muito bons. Então, quando anunciaram o prêmio, foi um pouco de surpresa. Fiquei feliz por ter sido escolhido entre vários trabalhos que ficaram bacanas, não só os do curso de Economia, mas de todas as áreas.”

 

Conforme os pesquisadores, há muitas formas de cometer um crime ambiental. Uma madeireira legalizada pode explorar áreas proibidas e declarar que extraiu as toras da área autorizada. Assim, haveria um mercado legal incentivando uma atividade ilegal, num ciclo semelhante ao da lavagem de dinheiro. Em outra situação, a madeireira legalizada pode realmente estar monitorando a extração ilegal e colaborando com a fiscalização, mas outras pessoas estariam desmatando as áreas proibidas ao redor. Como mostra o relatório, algumas fragilidades no processo do Documento de Origem Florestal (DOF) podem ajudar a burlar a identificação da madeira ilegal.

 

O tratamento das informações do DOF e de outras fontes impôs o maior desafio para o projeto de iniciação científica de Quadros, como ele próprio e o professor Soares reconhecem. “São dados administrativos que não estão prontos para uso, então o aluno teve um esforço enorme de baixar esses dados, colocar num formato legível e fazer uma série de ajustes até entender os dados”, diz Soares. Posteriormente, precisou relacionar o movimento legal de madeira entre municípios ao desmatamento ilegal. Outro mérito do trabalho foi a obtenção de resultados a partir da utilização de dados georreferenciados e da aplicação de técnicas econométricas.

 

A conclusão é que existe, de fato, um ciclo de “lavagem de madeira” na Amazônia Legal. “O trabalho mostra que municípios que são origem de muito transporte legalizado de madeira, com tudo documentado, experimentam maior desmatamento em florestas públicas não destinadas”, diz Soares. “Ao mesmo tempo, o trabalho ainda mostra que nas áreas com destinação de uso, sejam reservas indígenas, sejam áreas de proteção ambiental, isso tende a acontecer muito menos. Então, os mecanismos oficiais de proteção parecem ser razoavelmente efetivos em coibir essa atividade ilegal.”

 

Este foi o segundo projeto de iniciação científica de Quadros no Insper. Em 2023, ele havia terminado um estudo sobre os gastos dos governos latino-americanos durante a pandemia de covid-19, orientado pelo professor Fernando Ribeiro. “Eu já conhecia o rito da iniciação científica, relacionado a inscrição, tempo de duração, bolsa e comunicação com o professor”, diz Quadros. “Quando entrei no projeto da floresta amazônica, tinha interesse no tipo de dado que estavam utilizando no estudo. Achei que eu colocaria em prática muitas coisas que vinha estudando na Economia. Analisar dados de verdade ajudou no meu desenvolvimento e terá uma importância brutal para a minha carreira e para as minhas escolhas, depois da faculdade inclusive.”

 

Nascido em Salvador, na Bahia, Quadros pretende seguir a carreira de pesquisador. Ele também estuda Matemática Aplicada e Computacional na Universidade de São Paulo. Em julho, começará um pré-doutorado de dois anos na Universidade de Chicago, possibilitado pela parceria entre a instituição dos Estados Unidos e o Insper. Quadros vai trabalhar como pesquisador para os professores e economistas Rodrigo Adão e Esteban Rossi-Hansberg. Não será a primeira experiência por lá. Em 2023, Quadros fez dois meses de intercâmbio no programa de verão da Universidade de Chicago.

 

O aluno percebeu um esforço contínuo dos professores do Insper em apresentar as possibilidades da carreira em pesquisa para os alunos de graduação, por meio de projetos como o PIBIC e o PIBITI (de iniciação tecnológica). Na opinião de Soares, o esforço valeu a pena. “O Victor desenvolveu um projeto de pesquisa do começo ao fim, envolvendo revisão bibliográfica, busca e processamento de dados que não haviam sido usados com esse propósito e aplicação de técnicas econométricas, com geração de resultados e conclusões”, diz o professor. No futuro, a pesquisa pode gerar um artigo científico mais aprofundado, com potencial para publicação em periódico acadêmico.

 



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