Lançado em inglês no ano passado, o livro A cidade de 15 minutos: uma solução para salvar nosso tempo e nosso planeta (The 15-minute city: a solution to saving our time & our planet), do franco-colombiano Carlos Moreno, professor associado do Institut d’Administration des Entreprises (IAE)), da Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne, chega ao Brasil em maio de 2025, publicado pela BEĨ Editora. Embora a concepção da “cidade de 15 minutos” seja anterior, foi durante a pandemia de covid-19, sobretudo por meio da gestão da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, em conjunto com um grupo de especialistas, Moreno entre eles, que o conceito ganhou dimensão prática.
Referenciando clássicos do urbanismo, como a norte-americana Jane Jacobs (1916-2006) e o dinamarquês Jan Gehl – autor do prefácio da obra –, Moreno sublinha com força a centralidade do cidadão na construção de cidades mais humanas e habitáveis. Estruturado em 21 capítulos, “tanto crônicos quanto críticos”, o livro passa por uma breve contextualização da problemática urbana da contemporaneidade, herdada do funcionalismo e da ênfase dada ao automóvel: cidades desiguais e fragmentadas, uma população que enfrenta longos deslocamentos e possui pouco ou nenhum convívio social são apenas alguns dos desafios enfocados.
A proposta de uma cidade na qual todos possam alcançar necessidades essenciais –trabalho, educação, saúde, cultura e lazer – em uma caminhada ou uma pedalada de 15 minutos a partir da própria residência, parece simples, mas requer, como o autor demonstra com os exemplos apresentados ao longo da obra, engajamento para além dos setores públicos. Rever esses deslocamentos, a configuração urbana e o modo de vida atual revela-se, segundo Moreno, algo incontornável para que os municípios permaneçam habitáveis face às condições ambientais e climáticas nas quais nos encontramos.
Evocando exemplos práticos, o autor mostra que a cidade de 15 minutos está longe de ser uma utopia: ela é, sim, possível. Passando pelos diversos continentes e pelas mais variadas configurações urbanas, Moreno apresenta casos de sucesso que, especialmente impulsionados pelo contexto da pandemia, envolveram componentes de políticas públicas, engajamento civil e pesquisa para propor mudanças. Importante ressaltar que, apesar de trazer uma sequência de exemplos (Paris, Milão, Portland, Cleveland, Buenos Aires, Sousse, Melbourne, Busan, dentre outras localidades), em nenhum momento eles são colocados como modelos a serem replicados. Pelo contrário, a abordagem indica mais o caráter laboratorial e como cada uma das cidades passou por testes e experiências, antes de adotar ações a longo prazo.
Em termos técnicos, não há dúvida de que o autor explora pontos já conhecidos dos estudos urbanísticos – como uso do solo, mobilidade etc. – fazendo convergir esses aspectos para o âmbito das cidades de 15 minutos. No entanto, são palavras como “proximidade”, “comunidade”, “tempo livre” e “qualidade de vida” que ganham destaque ao longo da leitura. Essa linguagem, mais do que acessível para leitores não especialistas, reforça o explicitado por Moreno: “Nosso objetivo não é desenvolver a cidade, e sim desenvolver a vida na cidade”.
Em termos de escala, a obra também trabalha com aspectos não convencionais. Se, usualmente, propostas para o planejamento urbano partem de resoluções amplas, municipais ou regionais, a exposição teórica e os exemplos trazidos pelo autor apontam em outra direção: olhar bairros e as relações policêntricas. Sem ônus ao dinamismo urbano, repensar as conexões e redistribuir ritmos e tempos, permitir encontros e garantir identidade aos lugares são algumas das peças-chave para as cidades de 15 minutos.
A partir de ferramentas, técnicas e exemplos, Moreno nos traz otimismo. Remetendo ao que pontua a norte-americana Martha Thorne, ex-diretora-executiva do Prêmio Pritzker em seu posfácio, ele nos leva a repensar nosso modo de vida. Ler A cidade de 15 minutos pode ser um lembrete poderoso de que as urbes não são um dado – são uma escolha. Uma construção coletiva, política e diária para a qual todos devemos aceitar o convite do autor. Afinal, parafraseando o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)*, o livro deixa claro que juntar cidade e proximidade não é apenas uma rima: é uma solução.
* “Mundo, mundo, vasto mundo / Se eu me chamasse Raimundo / Seria uma rima, não seria uma solução / Mundo, mundo, vasto mundo / Mais vasto é meu coração.” (“Poema de sete faces’’, Alguma poesia, 1930).
Em meio ao lançamento do livro A cidade de 15 minutos: uma solução para salvar nosso tempo e nosso planeta, que acontece no dia 7 de maio de 2025 às 19h na Livraria da Travessa do Shopping Iguatemi (Avenida Brigadeiro Faria Lima, 2232), em São Paulo, Carlos Moreno também participará de dois eventos para discutir as cidades globais e brasileiras. Anote na agenda:
Seminário Arq. Futuro – Novas Centralidades Urbanas
Data: 6 de maio de 2025
Horário: das 8h às 17h30
Local: Teatro Oficina do Estudante Iguatemi – 3º piso no Shopping Center Iguatemi Campinas (Av. Iguatemi, 777, Campinas – acesso pelo P5 do Deck Parking)
Inscrições: gratuitas, até o término das vagas.
Mais informações: https://arqfuturo.cadastro9.com.br/
1º Encontro das Cidades – Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro do Insper
Datas: 8 e 9 de maio de 2025
Horário: das 9h às 16h
Local: Auditório Steffi e Max Perlaman (Rua Uberabinha, s/n - Vila Olímpia)
Inscrições: gratuitas, até o término das vagas.
Mais informações neste link.
.
* Heloisa Loureiro Escudeiro é coordenadora-adjunta do Núcleo Arquitetura e Cidade do Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro do Insper.
Carlos Moreno. BEĨ Editora. Traduçã de Luis Reyes Gil.
304 páginas, R$ 125,00