Desenvolver noção de pluralismo pode reverter ‘desertos de notícias’
Dos 5.570 municípios brasileiros, 3.280 não têm qualquer veículo jornalístico local: nenhum jornal, revista, emissora de rádio ou TV, site, blog informativo. Eles são “desertos de notícias”. Isso é resultado de diversos fatores econômicos, históricos, políticos, culturais que tornaram imensas áreas do país desprovidas de instrumentos que permitam a seus cidadãos se manter a par, de forma sistemática e independente, dos fatos que ocorrem em suas próprias comunidades. Este é o tema de um capítulo de livro da série Companion da editora Routledge, que trata de mídia e jornalismo locais em diversos países e que tem como coautor o professor do Insper Carlos Eduardo Lins da Silva, ao lado da jornalista Angela Pimenta. A série “Routledge Companion” reúne contribuições-chave em áreas específicas do saber com a perspectiva de analisar tendências atuais por meio de uma visão internacional, como diz a editora, fundada em 1836 na Grã-Bretanha. Os dois autores do texto sobre o Brasil foram presidentes do Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo), entidade fundada por Alberto Dines, um dos principais jornalistas brasileiros do século passado. No Projor, Lins da Silva e Pimenta lideraram outra idealização de Dines, o projeto Grande Pequena Imprensa (GPI). O artigo que eles escreveram para o Routledge Companion é em grande parte o resultado da pesquisa e da prática que ambos realizaram nesse período, na década de 2010. O GPI partiu do pressuposto de que não pode haver democracia vigorosa sem um jornalismo independente, diversificado, identificado com as aspirações das pessoas em todos os segmentos e quadrantes do território nacional. A concentração dos meios de comunicação em poucas regiões só pode ser atenuada e revertida quando na base da pirâmide for desenvolvida a noção de pluralismo. Nas sociedades com instituições consolidadas, a presença de uma imprensa local ativa e sustentável tem sido apontada como fundamental para a democracia. Na maioria das cidades e estados brasileiros fora dos eixos mais ricos, os veículos de comunicação enfrentam historicamente dificuldades para sobreviver e não oferecem produtos com bom nível de qualidade. Na parte inicial do artigo para o Companion, os autores se debruçam sobre as diferenças entre as sociedades dos Estados Unidos e do Brasil no que se refere a veículos jornalísticos de pequenas cidades. A imprensa chegou à América do Norte junto com os primeiros europeus, que vieram para o novo continente com suas famílias para ali permanecerem. No caso brasileiro, os europeus vinham em geral sem suas famílias e por períodos curtos de tempo. Só com a chegada da Família Real, em 1808, é que veículos jornalísticos começaram a circular no país. O aparecimento tardio do jornalismo no país se deu em especial nos grandes…