Renda com a exportação agrícola impulsionou a alfabetização no Brasil
Entre o final do século XIX e meados do XX, as localidades mais beneficiadas pela alta no preço dos principais bens agrícolas exportados pelo Brasil apresentaram menor analfabetismo. Essa relação, mais intensa antes da abolição da escravidão e da fundação da República, operacionalizou-se pela atração da população branca imigrante, com afastamento da preta e parda, e pela expansão de indústria e serviços sobre a agricultura. Ao analisarem dados coletados entre os censos de 1872 e 1960, os pesquisadores do Insper Naercio Menezes Filho, Bruno Proença e Bruno Komatsu, com seu colega da USP Leandro Anazawa, apuraram quais foram os impactos no letramento da população dos choques positivos de renda propiciados pelas elevações nos preços das mercadorias agrícolas mais exportadas pelo Brasil: café, cana de açúcar, algodão, tabaco e cacau. Quando uma comunidade é contemplada com ganhos extraordinários, advindos da valorização dos bens que produz e comercializa, pode utilizar esses recursos para elevar a instrução da população, seja porque as famílias disporão de mais renda e inclinação para investir na formação dos filhos, seja porque os governos, mais bem aquinhoados de receitas tributárias, acabarão levados a expandir os serviços de educação pública. A fim de testar essa hipótese, os pesquisadores desenvolveram uma variável para captar apenas os efeitos dos choques de preços de exportações. Batizada de vantagem comparativa de preços internacionais (CAIP, na sigla em inglês), ela leva em conta a interação entre os potenciais de produtividade devidos a condições geográficas favoráveis, inerentes a cada uma das 482 localidades e cada um dos principais produtos de exportação, e a variação dos preços internacionais desses produtos, avaliados ao longo do período de 88 anos. O estudo econométrico indicou que a elevação de um desvio padrão no CAIP – variação relevante do indicador de sensibilidade ao preço internacional — reduz em até 14 pontos percentuais a fatia de analfabetos numa localidade. Esse efeito foi maior em 1872, antes da abolição da escravidão e do advento da República, que em 1960, após tais mudanças. A análise dos pesquisadores também circunscreveu alguns mecanismos pelos quais o bônus na renda de exportações pode ter impulsionado o avanço da população instruída. Nas regiões beneficiadas pelo choque de preços das exportações, foi menor a proporção de pretos e pardos na população. A atração de imigrantes brancos para essas áreas, com maior grau de instrução e inclinados a demandar educação pública dos governos, e o deslocamento da população não branca são hipóteses que podem explicar o fenômeno. Além disso, detectaram-se graus superiores de diversificação setorial, com maior participação de indústria e serviços e menor da agricultura, nas localidades beneficiadas pela valorização de suas commodities. A expansão dessas atividades…
Estados mais ricos se beneficiam de foco no ensino médio
O desempenho recente da renda per capita nos estados brasileiros está associado à qualidade do ensino, e não ao volume de recursos públicos empregado em cada etapa da instrução de crianças e jovens. Quanto melhor o ensino médio, mais cresce a renda nos estados mais ricos. Nos mais pobres, compensa mais melhorar a educação fundamental. Há décadas está bem estabelecida na literatura especializada a conexão entre progresso econômico, de um lado, e as habilidades acumuladas pelas populações ao longo do ciclo educacional, do outro. Uma região consegue produzir mais bens e serviços por pessoa empregada quanto mais seus trabalhadores são dotados do chamado capital humano. Nas localidades pobres, o avanço mais veloz pode se dar pela adoção e imitação de técnicas e tecnologias já disponíveis no mercado, habilidades que as etapas básicas do ensino fornecem. Já em sociedades ricas, manter o ritmo do crescimento depende mais da capacidade de inovar, o que os níveis avançados de educação costumam favorecer. Foi com base nessas hipóteses que os pesquisadores do Insper Eduardo Correia e Naercio Menezes Filho analisaram o desempenho dos 26 estados brasileiros no início do século 21 --de 2004 a 2013. Numa primeira abordagem, verificaram se o nível de gastos públicos com educação em cada uma de três etapas do ensino (fundamental, médio e superior) poderia ajudar a explicar o desempenho econômico dessas regiões. O resultado da análise econométrica, porém, não acusou relação entre gasto educacional e variação da renda per capita. O estudo então substituiu os volumes de despesa com ensino por indicadores de qualidade da instrução: o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), para as etapas fundamental e média, e as notas do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), para a formação universitária. Desta vez, encontrou correlações estatisticamente significativas entre desempenho econômico e educacional. Como segmentou a análise por três etapas, a dupla de pesquisadores concluiu que a qualidade do ensino fundamental ajuda a explicar o crescimento da renda per capita apenas nos estados mais pobres, cuja atividade se distancia de práticas tecnológicas de vanguarda e pode se beneficiar de habilidades aprendidas no ciclo inicial da educação. Já nos estados de economia mais avançada, é a qualidade sobretudo do ensino médio --e em menor medida a do superior—que, quanto mais elevada, contribui para impulsionar a renda. O trabalho de Eduardo e Naercio, com base num modelo desenvolvido por Philippe Aghion e coautores, estimou em 60% da renda per capita estadual mais alta o limite a partir do qual a qualidade do ensino médio importa mais para a prosperidade. Isso recomendaria aos 11 estados abaixo dessa linha focalizar a qualidade do fundamental. Aos 15 demais, seria melhor fomentar o desempenho dos adolescentes do médio. Leia o estudo O impacto do gasto público e da qualidade por nível de ensino sobre o crescimento da renda dos estados brasileiros.
Ensino remoto gera perda de aprendizagem em português e matemática
Estudantes da rede pública iniciaram o atual ano letivo com menor desenvolvimento em língua portuguesa e em matemática em decorrência da substituição do ensino presencial pelo remoto durante a pandemia de coronavírus. Essa perda de proficiência deve levar à redução de rendimentos ao longo da vida. E, se mantido o atual modelo de aulas, o quadro pode piorar. As repercussões da mudança forçada pela Covid-19 são investigadas no estudo “Perda de Aprendizagem na Pandemia”, elaborado pelos professores Ricardo Paes de Barros e Laura Muller Machado, do Insper, em parceria com o Instituto Unibanco. O trabalho concentra-se no desempenho de terceiranistas, para quem são menores as chances de recuperar o aprendizado perdido ao longo da crise sanitária, uma vez que estão prestes a encerrar a educação básica. Simularam-se diferentes cenários: o do início deste ano, produto de um 2020 com poucas aulas presenciais e muitas remotas; outro em que se manteria o formato remoto até o fim deste ano; e um terceiro, em que ocorreria a adoção de algum modelo alternativo ao remoto, bem como medidas de reforço e recuperação do aprendizado. O modelo desenvolvido pelos pesquisadores para efetuar as simulações compreende tanto dados nacionais quanto de estudos acerca de experiências no exterior. Uma das fontes é o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que oferece um retrato dos níveis de aprendizado no país. Seus indicadores, representados em uma escala de pontuação, provêm de testes e de questionários aplicados em escolas públicas e de uma amostra de colégios privados. Já a distribuição do aprendizado no ensino médio considerou informações de outros dois sistemas: o de Avaliação Educacional do Piauí (Saepi) e o Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece). Em ambos, o desempenho em língua portuguesa e matemática é aferido nas três séries. A análise da evolução da proficiência em um ano letivo, por sua vez, teve como referência parâmetros tratados na pesquisa “The Learning Curve: Revisiting the Assumption of Linear Growth Across the School Year”. Neste trabalho, dados de testes de mais de 7 milhões de alunos de escolas públicas americanas sugerem a desaceleração do aprendizado em matemática e sobretudo em linguagem ao longo de séries. Na metodologia do estudo do Insper em parceria com o Instituto Unibanco, também foram consideradas as perdas em períodos de férias escolares, que correspondem a 25% e a 28% em língua portuguesa e matemática, respectivamente, em relação ao aprendizado de todo o ano letivo anterior. Ensino remoto X presencial Dados das redes de cada estado e do Distrito Feral permitiram aos pesquisadores apurar que, em 2020, apenas 13% do ano letivo, em média, se deu com atividades presenciais. Os demais foram cumpridos…
Pandemia ameaça aprofundar desigualdades no Brasil
Ao reagir para mitigar a transmissão do novo coronavírus, a sociedade e os governos brasileiros fecham escolas e reduzem a atividade dos trabalhadores. Em razão disso, crianças e adolescentes vulneráveis e a população não-idosa, já preteridos na partilha da renda nacional e das transferências públicas, tendem a ficar ainda mais para trás. No livro “Legado de uma Pandemia”, lançado pelo Insper, Naercio Menezes Filho, Ricardo Paes de Barros e Laura Muller Machado discutem as repercussões educacionais e intergeracionais da pandemia no país. Também apresentam sugestões para combater seus desdobramentos indesejáveis na desigualdade social. Quando o sistema de ensino interrompe abruptamente a instrução presencial de dezenas de milhões de crianças e adolescentes e passa a operar a distância, os efeitos sobre o aprendizado dos estudantes variam fortemente conforme a inserção socioeconômica, escreve Naercio. Quanto mais vulneráveis, pior tenderá a ser o seu desempenho. Habitações precárias, com baixo acesso a infraestrutura sanitária e alta densidade de pessoas sob o mesmo teto, tornam-se ambientes hostis à boa evolução das habilidades cognitivas na primeira infância (0 a 6 anos). Insegurança na renda familiar, ao que a população pobre está desproporcionalmente exposta, também é fator de risco. Sem apoio de creches e educadores especializados, que contribuem também na nutrição, e com o fim do auxílio monetário emergencial, crianças pequenas estarão submetidas a condições ainda mais adversas ao desenvolvimento intelectual e emocional. Na ausência de políticas corretivas, os danos à renda e à saúde dessa geração tendem a ser perenes. Os prejuízos para os alunos vulneráveis do ensino fundamental ao médio relacionam-se ao acesso restrito às ferramentas da instrução a distância, bem como à baixa capacidade de pais ou responsáveis de incentivar e colaborar com o aprendizado domiciliar. Naercio sugere que equipes da Estratégia Saúde da Família, presentes em 98,4% dos municípios, passem a instruir os pais também sobre o desenvolvimento educacional dos filhos, em especial na primeira infância. A expansão do Bolsa Família, maior para lares com crianças pobres, e a definição de um plano eficaz de recuperação imediata do aprendizado para a volta às escolas também integram as sugestões do pesquisador. Outro aspecto da desigualdade brasileira que pode piorar com a passagem da crise sanitária é a desproteção relativa dos segmentos jovens e em idade de trabalhar nas políticas de transferências de recursos governamentais. O gasto público per capita com idosos no Brasil é seis vezes a despesa com crianças, adolescentes e jovens –em 30 países avaliados pela Cepal, braço das Nações Unidas para a América Latina, nenhum outro ultrapassa a marca de quatro vezes nessa comparação. Ricardo Paes de Barros e Laura Muller argumentam que o esforço de toda a…
Saúde da Família impulsionou matrículas na pré-escola
Criado para melhorar o atendimento da saúde pública no Brasil, o programa Estratégia Saúde da Família resultou em efeitos indiretos em outra área, a da educação. Ele contribuiu para o aumento do número de crianças na pré-escola e está associado a um melhor desempenho em matemática. Por outro lado, levou à redução de matrículas em creche. As repercussões são tratadas por Maria Clara Mancilha Silva na dissertação “Efeitos da Estratégia Saúde da Família sobre a Educação Infantil”, orientada por Naercio Menezes Filho, coordenador da Cátedra Ruth Cardoso. O trabalho foi apresentado no fim de 2020 no Mestrado Profissional em Políticas Públicas do Insper. Um dos pilares do Sistema Único de Saúde (SUS), o Saúde da Família começou a ser implementado nos anos 1990 e conta com equipes que visitam moradores de uma determinada área para acompanhar a saúde deles. Em sua dissertação, Maria Clara analisou reflexos do programa em matrículas na educação infantil e no desempenho de estudantes. Para tanto, reuniu dados que permitiram observar o que ocorria a partir do momento que o Saúde da Família começava a funcionar em municípios. O trabalho concentra-se nos efeitos relacionados a crianças nascidas no intervalo de 2000 a 2014. No caso da pré-escola, houve crescimento no número de matrículas de alunos de 4 a 5 anos de idade. O impacto foi maior em cidades mais ricas e mais populosas e nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do país. A autora do trabalho cogita duas hipóteses para esse resultado. A primeira é a queda da taxa mortalidade infantil desencadeada pelo programa. Com isso, mais crianças passaram a sobreviver e atingir essa etapa de ensino. A segunda é a maior conscientização de pais a respeito dos benefícios da educação. Em relação a creches, no entanto, o movimento foi contrário: houve uma retração no volume de matrículas. Esse processo restringiu-se a filhos de mães com escolaridade mais alta. Para a autora da dissertação, uma das possibilidades é que elas optaram por cuidar das crianças em casa ao serem alertadas por equipes do Saúde da Família acerca da baixa qualidade do serviço de educação infantil na região. O estudo traz, ainda, as implicações do programa na alfabetização. Identificou-se um impacto positivo em notas de matemática da Avaliação Nacional de Alfabetismo (ANA), principalmente em cidades com populações menores e renda baixa. Em todos os casos –tanto matrículas quanto provas–, o impacto do Saúde da Família se acentua em cidades com maior cobertura do programa. Leia a dissertação Efeitos da Estratégia Saúde da Família sobre a Educação Infantil
12 leituras e 1 podcast para entender os desafios do Brasil em 2021
Quer uma ajudinha para começar este ano com informações e referências para discutir os principais desafios do Brasil? Fizemos uma seleção do nosso conteúdo que pode facilitar essa tarefa. Confira abaixo. Podcast Primeiro Turno explica o que prefeitos e vereadores podem fazer pelas cidade Prefeituras e Câmaras municipais começam, neste mês, um jornada que se estenderá pelos próximos quatro anos. Em oito episódios, mergulhamos em estudos e conversamos com pesquisadores do Insper e de instituições como Columbia, Harvard e Rice para reunir as evidências do que pode dar certo –ou errado– em ações para transformar as cidades. Ouça já! Spotify | Apple | Google Economistas propõem agenda de reformas essenciais pós-pandemia O trabalho coordenado por Marcos Lisboa faz um diagnóstico de deficiências do Estado brasileiro e sugere uma série de medidas para tornar o setor público mais eficiente e criar condições para que o país possa voltar a crescer. Leia também >> O Brasil cresce pouco –e não é de hoje Renda do brasileiro cresce em média 0,9% ao ano desde 1980 Expandir transferência de renda custaria até R$ 918 bi a mais por ano O auxílio emergencial desencadeou uma onda de debates a respeito de como o Estado pode proteger as famílias mais vulneráveis. Marcos Mendes fez as contas da verba necessária para expandir a transferência de renda. Leia também >> Conheça propostas para aprimorar a proteção social Série de medidas pode financiar expansão de programa assistencial Cada vez menos países ricos têm imposto sobre fortunas Com a pandemia, a ideia de instituir um imposto sobre grandes fortunas voltou a ganhar a atenção de congressistas no Brasil. Mas, em países ricos, esse tipo de tributo vem perdendo força nos últimos anos, segundo pesquisa do Núcleo de Tributação do Insper. Leia também >> Glossário da reforma tributária: saiba o que é IVA, ICMS, IR e guerra fiscal Estudos detectam vulnerabilidades da CPMF Evasão escolar gera, em 1 ano, perda de R$ 214 bilhões Só em 2020, estima-se que cerca de 575 mil jovens não concluiriam a educação básica, soma superior à população inteira de Florianópolis. Pesquisa liderada por Ricardo Paes de Barros, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, calculou o custo individual e coletivo dessa evasão. Leia também >> Instrução para poucos repercute no salário Dobrar número de recém-formados eleva PIB de cidades
Podcast Primeiro Turno: creche e pré-escola, repercussões e riscos
A primeira infância, que vai do nascimento até os 6 anos de idade, é uma etapa crucial. Pesquisas mostram que investir nesses primeiros anos da vida tem repercussões no desenvolvimento socioemocional da criança, aumenta as chances de conclusão das demais etapas de ensino e contribui para o desempenho em matemática. O quarto episódio do Primeiro Turno, um podcast do Insper, conversou com a gerente de conhecimento aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Beatriz Abuchaim, e com o economista Flávio Cunha, professor da universidade de Rice, nos Estados Unidos. Com dados e exemplos de experiências de políticas para a primeira infância, eles contam como as creches (0 a 3 anos) e a pré-escola (4 e 5 anos), que são etapas educacionais de responsabilidade dos municípios, influenciam o desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Nos últimos anos, o acesso à creche e à pré-escola aumentou no Brasil. Segundo dados do Observatório do PNE (Plano Nacional de Educação), em 2008, 23% das crianças de até 3 anos de idade estavam em creches. Dez anos depois, essa fatia subiu pra 36%. Também houve crescimento no caso de crianças de 4 a 5 anos na pré-escola. A parcela passou de 81% pra 94% nos mesmos anos. “Muitas vezes nas campanhas eleitorais e nos debates a questão da primeira infância aparece apenas com a vaga na creche”, afirma Beatriz. “E a gente sabe que apenas a vaga na creche não garante o desenvolvimento pleno dessa criança. A gente precisa de ações integradas com a saúde principalmente que garantam um apoio para essas famílias com crianças pequenas e que permitam que essa criança se desenvolva de forma saudável”. Segundo Beatriz, apesar dos avanços no acesso, sabe-se pouco sobre a qualidade da educação infantil no Brasil. Alguns estudos, no entanto, ajudam a compor um retrato. A Beatriz é uma das autoras de um estudo que avaliou a qualidade de 147 creches em seis capitais: Belém, Campo Grande, Florianópolis, Fortaleza, Rio de Janeiro e Teresina. O trabalho foi publicado em 2011.“Infelizmente, os dados do estudo não foram bons, principalmente no que diz respeito às práticas pedagógicas, mostraram práticas pedagógicas muito empobrecidas e algumas diferenças regionais.” Recentemente, em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisa em Economia Social da USP Ribeirão Preto, a fundação Maria Cecilia Souto Vidigal adaptou uma iniciativa, promovida pela Unesco, Unicef e outras instituições, que permite aos gestores municipais ter um retrato da rede escolar. O instrumento já foi aplicado nas cidades de São Paulo, Sobral (CE) e Boa Vista (RR). No ano que vem, a fundação pretende expandir a avaliação para 12 cidades. Riscos Quando a qualidade do serviço educacional é…
Evasão escolar gera, em 1 ano, perda de R$ 214 bilhões
O Brasil deve chegar ao fim deste ano com o saldo de 575 mil jovens de 16 anos que não concluirão a educação básica, quantidade pouco superior à população inteira da capital catarinense, Florianópolis. Em 2021, essa marca pode se repetir. Conforme a vida desses adolescentes avançar, a formação incompleta deve se traduzir em salários mais baixos, pior qualidade de vida e maior exposição à violência. Acabarão também prejudicando a coletividade, pois vão contribuir menos para a produtividade econômica do país. Em seu conjunto, os efeitos dão forma a cifras expressivas. Trata-se de R$ 372 mil, em média, perdidos em relação a cada um desses jovens ao longo da sua vida. Os 575 mil fora da escola neste ano correspondem a R$ 214 bilhões dissipados. O custo foi estimado na pesquisa “Consequências da Violação do Direito à Educação”, elaborada pelo Insper em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Liderados por Ricardo Paes de Barros, professor titular da cátedra Instituto Ayrton Senna, pesquisadores colocaram em cifras o resultado de um jovem não terminar o ciclo básico, composto pelos ensinos infantil, fundamental e médio. A quantia abrange as implicações da evasão em escolas públicas e privadas do país em relação a emprego e salário, atividade econômica, saúde e violência. Um dos primeiros números apurados pelos pesquisadores foi a projeção da quantidade de brasileiros que devem deixar os estudos a cada ano. Para tanto, utilizou-se a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, de 1992 a 2018. Os dados permitiram determinar as probabilidades de um adolescente de 16 anos vir a se formar no ensino médio até os 25. Levaram-se em conta na análise as desigualdades relacionadas a idade, cor e região do país, uma vez que, quanto mais vulnerável for a situação do adolescente, maiores serão os obstáculos para que avance nos estudos. Com base nessas probabilidades, os pesquisadores estabeleceram que, caso seja mantido o ritmo atual de evasão, 575 mil dos 3,3 milhões de brasileiros hoje com 16 anos não devem finalizar a educação básica neste ano. O mesmo quadro, indica o estudo, pode ocorrer novamente nos próximos. Embora esteja em declínio, o saldo permanece expressivo, segundo os autores da pesquisa. Uma comparação feita por eles ajuda a entender o porquê: a conta de R$ 214 bilhões gerada pela evasão escolar corresponde a quase 70% do que a União, os estados e os municípios gastaram em 2017 para oferecer educação básica. A pesquisa do IBGE também serviu de fonte para que pudesse ser calculada a probabilidade de um jovem vir a estar ocupado no futuro, de se tornar um trabalhador independente –empregador ou por conta própria–…
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