Unidade hospitar no Rio Branco, Acre
A pandemia de coronavírus colocou sob teste a capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) de responder a uma crise simultânea em todo o território nacional. O saldo, segundo escrevem os pesquisadores Elize Massard da Fonseca e Francisco Inácio Bastos no livro “Legado de uma Pandemia”, lançado pelo Insper, deixou evidente uma série de lacunas a preencher.
Considerado um exemplo de programa público em países emergentes, o SUS desenvolveu alguns mecanismos de vigilância epidemiológica ao longo dos últimos anos. Em 2003, em razão da gripe aviária, criou-se o primeiro plano nacional de contingência da influenza. Mecanismos de consolidação de notificações, como o Sivep-Gripe (unidades-sentinela) e o Sinan Influenza (casos e óbitos de síndrome respiratória aguda grave), facilitaram o acesso tempestivo a dados.
Mesmo com essa estrutura ativa, a chegada da pandemia ao Brasil encontrou os governos federal, estaduais e municipais em descoordenação, o que dificultou a resposta ao avanço da Covid-19. Autoridades federais minimizaram os riscos da infecção, patrocinaram tratamentos sem eficácia comprovada e investiram contra as medidas de distanciamento e prevenção preconizadas pelas melhores práticas.
A maior carga das ações antipandêmicas recaiu sobre as administrações subnacionais, ainda assim com disparidade entre elas. Nem todas, por exemplo, instituíram um comitê de crise para orientar, com base em evidências científicas, as condutas dos gestores públicos.
Dentre as lições a serem absorvidas com a emergência sanitária do coronavírus, os autores ressaltam a necessidade de reforçar ainda mais a vigilância epidemiológica no país –num modelo descentralizado inspirado nos CDCs dos Estados Unidos–; esclarecer as linhas coordenadas da ação de União, estados e municípios durante surtos infecciosos; ampliar o financiamento e o incentivo à pesquisa na área de doenças emergentes; e assegurar que as respostas sejam orientadas unicamente por evidências científicas e sanitárias.
Leia o livro
“Legado de uma Pandemia”