Autor:
Naercio Menezes Filho
Estudos e indicadores publicados recentemente parecem mostrar que o Brasil caminha para uma situação da economia pior do que a dos últimos anos, o que é amplamente abordado nos maiores meios de comunicação. Nesse contexto, a parcela jovem da população é sempre objeto de preocupação, pois sua taxa de desemprego é sempre maior em comparação com a de adultos e tende a aumentar mais em períodos recessivos. Mas, o aumento do desemprego dos jovens é devido à maior dificuldade de inserção por quem já estava procurando emprego, ou ao crescimento de procura por trabalho? Quais seriam as consequências de uma deterioração mais persistente das condições do mercado de trabalho para essa faixa etária?
Estudo recente do Centro de Políticas Públicas do Insper intitulada como O crescimento da renda dos adultos e as escolhas dos jovens entre estudo e trabalho traz uma possível explicação. Com um período de análise mais longo, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) utilizados na pesquisa mostram que a estimativa pontual da taxa de desemprego geral (jovens e adultos) apresenta forte redução na segunda metade da década de 2000, até 2012, quando atinge 6,2%. No mesmo período, a renda domiciliar dos adultos continuou aumentando em termos reais. O material revela indícios de que o crescimento da renda dos pais e adultos de um domicílio está relacionado à redução da oferta de trabalho dos filhos e ao aumento da dedicação exclusiva deles aos estudos. O aumento da renda pode fazer com que a demanda do domicílio pela qualidade dos filhos também aumente e isso significa mais recursos gastos em educação.
Extrapolando o resultado, em 2013 a taxa de desemprego geral aumenta, porém a oferta de trabalho dos jovens ainda se reduz, o que pode estar associado, ao menos em parte, à manutenção do crescimento da renda dos adultos naquele ano. No sentido oposto, caso a renda dos adultos do domicílio se reduzisse, jovens ofertariam relativamente mais trabalho e sobraria menos recursos para seus estudos. Nesse sentido, dados recém-divulgados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE para maio de 2015 (sempre comparação a maio de 2014) mostram que nas regiões metropolitanas houve redução real dos rendimentos do trabalho de adultos. Esse fato, aliado a perspectivas de evolução ruim da economia nesse e no próximo ano, podem esclarecer o fim da queda na taxa de participação entre os jovens no mercado de trabalho, que se manteve em 50%.
Mesmo que haja, de fato, maior dificuldade de obtenção de empregos em 2015, a manutenção da taxa de participação dos jovens pode ajudar a explicar o forte aumento da taxa de desemprego dos jovens, de 14% para 18% entre meses de maio de 2014 e de 2015.