O Sistema Único de Saúde, o SUS, foi criado em 1990, dois anos depois da nova Constituição. O advento de um programa que atenderia irrestritamente toda a população trouxe desafios de expansão dessa rede. E os municípios têm papel central na atenção primária, porta de entrada do sistema.
Para entender a importância do cuidado primário, o terceiro episódio do Podcast Primeiro Turno conversou com Marcia Castro, demógrafa e chefe do departamento de saúde global e população na escola de saúde pública de Harvard, e Rodrigo Soares, economista e professor titular do Insper na cátedra Fundação Lemann.
Marcia é uma das autoras de um estudo que, ao realizar um balanço dos 30 anos do SUS, atribui parte do avanço do sistema à expansão da rede de atenção primária, especificamente com a implementação do Estratégia de Saúde da Família. Naercio Menezes Filho, professor titular da Cátedra Ruth Cardoso no Insper, também é coautor desse estudo.
A Estratégia é uma rede de atendimento descentralizada que conta com equipes formadas por diferentes profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros, que acompanham de perto os moradores de uma determinada região.
Até o ano passado, 44 milhões de domicílios no país estavam cadastrados no programa. Em 2013, eram quase 35 milhões.
“A espinha dorsal de um sistema universal de saúde é a atenção primária, porque ela tem um fator de prevenção também”, afirma Marcia. “Então, sem dúvida nenhuma, a expansão da atenção primária via estratégia de saúde da família trouxe ganhos em termos de redução de morbidade e mortalidade que é algo que a gente nunca tinha visto antes.”
Em outra pesquisa, realizada por Rodrigo Soares e Romero Rocha, os autores exploram o fato de os municípios terem aderido paulatinamente ao Programa Saúde da Família para analisar como a expansão da rede contribuiu para a redução da mortalidade infantil.
“Quando o Saúde da Família entrava num determinado município, essa velocidade de queda da mortalidade infantil era acelerada”, conta Rodrigo. “A gente mostra que provavelmente isso está sendo gerado por uma expansão significativa no acesso à pré-natal.”
A redução estimada na mortalidade infantil chegou a 24% em cidades que contavam com o programa havia oito anos. E esse impacto positivo ocorreu principalmente em municípios do Norte e do Nordeste do país.
Outros avanços decorrentes da expansão da rede de atenção primária no Brasil estão documentados por uma série de estudos.
O funcionamento dessa rede, no entanto, deve passar por desafios nos próximos anos, na avaliação de Marcia. Entre eles estão as repercussões do envelhecimento da população e os efeitos da pandemia do novo coronavírus. “A gente vai ter uma demanda por doenças crônicas que a gente está só aprendendo ainda, que são sequelas de quem teve Covid.”
Ouça o terceiro episódio do podcast Primeiro Turno para saber mais sobre como a expansão da atenção primária foi um importante fator de redução da desigualdade no acesso à saúde no Brasil. No episódio você também saberá mais sobre o que as próximas gestões municipais podem fazer para não só manter essa operação, mas também para expandir essa cobertura.
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