CPP divulga edição 2018 da pesquisa sobre vitimização na cidade de São Paulo e debate os desafios da implementação de políticas públicas para a Segurança
O índice de vitimização na cidade de São Paulo cresceu 8% em relação a 2013, com 41,5% das pessoas tendo sofrido algum tipo de violência na cidade. Essas são algumas das conclusões da Pesquisa de Vitimização realizada pelo Centro de Políticas Públicas (CPP) do Insper em parceria com a Radar Pesquisas, apresentada no 8º Fórum Insper de Políticas Públicas.
O encontro contou com a participação de Naércio Menezes Filho, professor coordenador do CPP do Insper, Daniel Cerqueira, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Ivan Marques, diretor executivo do Instituto Sou da Paz, Renato Sergio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e Vanessa Campagnac, coordenadora de projetos do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP/SESEG), que debateram os entraves e caminhos para minimizar o impacto da violência na sociedade.
“Mais de 30% dos paulistanos apresentam distúrbios de sono, têm dificuldade de se concentrar no trabalho e têm sua produtividade impactada. Esse dado aliado ao das 34,1% das mulheres entrevistadas que foram vítimas de assédio sexual por seis ou mais vezes impactarão o futuro das novas gerações, uma vez que o desenvolvimento infantil depende de uma mãe disponível e despreocupada com a violência”, destaca Menezes Filho.
Pesquisa
Do total de entrevistados, 48,2% dos paulistanos declaram ter sido vítima de roubo ou furto alguma vez na vida, um aumento de 2% em relação à pesquisa de 2013, e 26% já foram ameaçados por armas de fogo. “Esses incidentes geram um trauma que as pessoas carregam para a vida”, avalia o coordenador do CPP.
Nas quatro edições da pesquisa, os resultados apresentam uma curva em “U” dos resultados, em que o índice obtido foi alto na primeira edição, caiu nos anos seguintes e subiu novamente em 2018. “Esse comportamento é visto com frequência no estudo e tem uma correlação com a taxa de desemprego, que atualmente está acima de 30% entre os jovens”, analisa.
O estudo também avaliou o comportamento da sociedade em relação ao grau de confiança entre os cidadãos. Entre os países em que as pessoas mais confiam umas nas outras estão a Suécia e China, com 60%. No Brasil, esse número é de 8%. “A sociedade perde muito com isso, pois torna-se mais difícil fazer negócios, a relação empregado e empregador é impactada, os créditos ficam comprometidos”, alerta Menezes Filho.
Esta edição da pesquisa abordou novas questões sobre tipos de crimes e ocorrências que vêm ganhando espaço no noticiário e no debate público, como assédio sexual e violência on-line, avaliando agressões na rede, além de alguns tipos de estelionato relacionados a aplicativos de celular, como problemas com sites ou aplicativos de compras e de transporte. Os dados foram coletados entre março e maio deste ano, com uma amostra representativa de 3 mil entrevistas em domicílios, com pessoas maiores de 16 anos.

Desarmamento
Com base nos resultados da pesquisa do Insper, os especialistas debateram caminhos para implementação de políticas públicas para a Segurança. A aprovação do Estatuto do Desarmamento, de 2003, provocou uma queda nos crimes mais violentos em 2003 e 2008, sugerindo que uma população mais armada não garante a redução nas taxas de violência. “Uma pessoa com arma de fogo aumenta a probabilidade de morte em 56% no caso de um confronto”, exemplifica Cerqueira.
Segundo o pesquisador do IPEA, em 2017 foram adquiridas 100 mil novas armas no Brasil. “Ter mais armas em circulação faz com que seu preço caia no mercado ilegal e favorece que os bandidos tenham acesso a armamento mais letal.”
No mesmo ano, o número de roubos ultrapassou o número de furtos na cidade do Rio de Janeiro. “Esse fato é muito preocupante porque está diretamente relacionado à disponibilidade de armas de fogo na cidade”, avalia Campagnac.
Tecnologia e inteligência policial
Para os especialistas, ações de Segurança Pública baseadas em evidências e inteligência policial é a melhor forma de combater a criminalidade, além de uma repressão qualificada acompanhada por um programa de investimento na educação de jovens.
Para Lima, a falta de coordenação entre os órgãos de Segurança é um problema para políticas efetivas de redução da criminalidade. “A Polícia tem tecnologia, procedimentos, segue a literatura, mas não consegue controlar a criminalidade porque não há um órgão que orquestre os vários esforços feitos, nem na esfera federal”, avalia. “Existem cerca de 1 300 entidades ligadas à Segurança Pública no Brasil, mas elas não se comunicam entre si e não interagem. Portanto, as autoridades precisam focar na implementação de políticas pensando na criação de uma cultura organizacional e de governança, deixando de lado os interesses pessoais”, destaca.
Para fortalecer a gestão da Segurança Pública, o ISP desenvolveu o ISPGEO, uma ferramenta de análise criminal baseada em evidências que permite que os setores de planejamento operacional das polícias possam realizar análises mais eficazes e dar respostas mais rápidas aos problemas de criminalidade. “A ferramenta também possibilita a edição de mapas por parte dos policiais, com a marcação da alocação de pessoal e viaturas, possibilitando uma melhor gestão dos resultados do planejamento operacional”, explica Campagnac.
Assista ao evento na íntegra: