Podcast Primeiro Turno: creche e pré-escola, repercussões e riscos
A primeira infância, que vai do nascimento até os 6 anos de idade, é uma etapa crucial. Pesquisas mostram que investir nesses primeiros anos da vida tem repercussões no desenvolvimento socioemocional da criança, aumenta as chances de conclusão das demais etapas de ensino e contribui para o desempenho em matemática. O quarto episódio do Primeiro Turno, um podcast do Insper, conversou com a gerente de conhecimento aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Beatriz Abuchaim, e com o economista Flávio Cunha, professor da universidade de Rice, nos Estados Unidos. Com dados e exemplos de experiências de políticas para a primeira infância, eles contam como as creches (0 a 3 anos) e a pré-escola (4 e 5 anos), que são etapas educacionais de responsabilidade dos municípios, influenciam o desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Nos últimos anos, o acesso à creche e à pré-escola aumentou no Brasil. Segundo dados do Observatório do PNE (Plano Nacional de Educação), em 2008, 23% das crianças de até 3 anos de idade estavam em creches. Dez anos depois, essa fatia subiu pra 36%. Também houve crescimento no caso de crianças de 4 a 5 anos na pré-escola. A parcela passou de 81% pra 94% nos mesmos anos. “Muitas vezes nas campanhas eleitorais e nos debates a questão da primeira infância aparece apenas com a vaga na creche”, afirma Beatriz. “E a gente sabe que apenas a vaga na creche não garante o desenvolvimento pleno dessa criança. A gente precisa de ações integradas com a saúde principalmente que garantam um apoio para essas famílias com crianças pequenas e que permitam que essa criança se desenvolva de forma saudável”. Segundo Beatriz, apesar dos avanços no acesso, sabe-se pouco sobre a qualidade da educação infantil no Brasil. Alguns estudos, no entanto, ajudam a compor um retrato. A Beatriz é uma das autoras de um estudo que avaliou a qualidade de 147 creches em seis capitais: Belém, Campo Grande, Florianópolis, Fortaleza, Rio de Janeiro e Teresina. O trabalho foi publicado em 2011.“Infelizmente, os dados do estudo não foram bons, principalmente no que diz respeito às práticas pedagógicas, mostraram práticas pedagógicas muito empobrecidas e algumas diferenças regionais.” Recentemente, em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisa em Economia Social da USP Ribeirão Preto, a fundação Maria Cecilia Souto Vidigal adaptou uma iniciativa, promovida pela Unesco, Unicef e outras instituições, que permite aos gestores municipais ter um retrato da rede escolar. O instrumento já foi aplicado nas cidades de São Paulo, Sobral (CE) e Boa Vista (RR). No ano que vem, a fundação pretende expandir a avaliação para 12 cidades. Riscos Quando a qualidade do serviço educacional é…
Podcast Primeiro Turno: as cidades e o SUS
O Sistema Único de Saúde, o SUS, foi criado em 1990, dois anos depois da nova Constituição. O advento de um programa que atenderia irrestritamente toda a população trouxe desafios de expansão dessa rede. E os municípios têm papel central na atenção primária, porta de entrada do sistema. Para entender a importância do cuidado primário, o terceiro episódio do Podcast Primeiro Turno conversou com Marcia Castro, demógrafa e chefe do departamento de saúde global e população na escola de saúde pública de Harvard, e Rodrigo Soares, economista e professor titular do Insper na cátedra Fundação Lemann. Marcia é uma das autoras de um estudo que, ao realizar um balanço dos 30 anos do SUS, atribui parte do avanço do sistema à expansão da rede de atenção primária, especificamente com a implementação do Estratégia de Saúde da Família. Naercio Menezes Filho, professor titular da Cátedra Ruth Cardoso no Insper, também é coautor desse estudo. A Estratégia é uma rede de atendimento descentralizada que conta com equipes formadas por diferentes profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros, que acompanham de perto os moradores de uma determinada região. Até o ano passado, 44 milhões de domicílios no país estavam cadastrados no programa. Em 2013, eram quase 35 milhões. “A espinha dorsal de um sistema universal de saúde é a atenção primária, porque ela tem um fator de prevenção também”, afirma Marcia. “Então, sem dúvida nenhuma, a expansão da atenção primária via estratégia de saúde da família trouxe ganhos em termos de redução de morbidade e mortalidade que é algo que a gente nunca tinha visto antes.” Em outra pesquisa, realizada por Rodrigo Soares e Romero Rocha, os autores exploram o fato de os municípios terem aderido paulatinamente ao Programa Saúde da Família para analisar como a expansão da rede contribuiu para a redução da mortalidade infantil. “Quando o Saúde da Família entrava num determinado município, essa velocidade de queda da mortalidade infantil era acelerada”, conta Rodrigo. “A gente mostra que provavelmente isso está sendo gerado por uma expansão significativa no acesso à pré-natal.” A redução estimada na mortalidade infantil chegou a 24% em cidades que contavam com o programa havia oito anos. E esse impacto positivo ocorreu principalmente em municípios do Norte e do Nordeste do país. Outros avanços decorrentes da expansão da rede de atenção primária no Brasil estão documentados por uma série de estudos. O funcionamento dessa rede, no entanto, deve passar por desafios nos próximos anos, na avaliação de Marcia. Entre eles estão as repercussões do envelhecimento da população e os efeitos da pandemia do novo coronavírus. “A gente vai ter uma demanda por doenças crônicas que a…
Podcast Primeiro Turno: lei e ordem
Nos últimos anos, muitos candidatos rechearam suas campanhas com promessas de mais segurança. Um discurso que, é claro, tem os seus motivos. Segundo o Atlas da Violência, em 2017, o Brasil atingiu a marca de 65.602 assassinatos, a maior registrada desde 1979, quando a série começou a ser acompanhada. Numa pesquisa de 2011, feita pelo Ibope com a Confederação Nacional da Indústria, a CNI, a segurança pública só perdia para saúde como uma das áreas mais problemáticas do país. Nove anos depois, numa edição da mesma pesquisa, ela ainda continuava entre os principais problemas, logo atrás de desemprego, saúde e corrupção. No segundo episódio de Primeiro Turno, vamos conversar com Lucas Novaes, cientista político e professor do Insper, e Joana Monteiro, economista, professora da FGV e coordenadora do centro de pesquisa do Ministério Público do Rio de Janeiro. As pesquisas A pesquisa de Lucas analisa como a eleição de vereadores “lei e ordem” afeta indiretamente a violência nos municípios brasileiros. Esses candidatos são aqueles que levam no nome de campanha títulos associados à polícia ou ao Exército - delegado, soldado, major etc.- ou seja, que têm a segurança pública como principal plataforma eleitoral. A pesquisa indica que a eleição desses candidatos tem efeitos sobre a taxa de homicídio nos municípios. E, segundo Lucas, “os resultados mostram um efeito bastante grande e um efeito que para muita gente, talvez um pouco pra mim, é surpreendente”. Joana Monteiro e Spencer Chainey, da University College London, testaram a validade da lei de concentração do crime no espaço, termo cunhado por David Weisberg, em oito cidades do Rio de Janeiro, incluindo a capital. Partindo de dados de crimes georreferenciados, eles dividiram a cidade do Rio em pequenos quadrados de 150 por 150 metros. Com isso, eles tentam responder se há no Rio e nas outras seis cidades analisadas um padrão de concentração dos crimes. Saber onde os crimes ocorrem interessa não só a polícia, mas à administração municipal. Com os dados, é possível pensar em intervenções nesses locais. “Há muito tempo se defende dentro da criminologia que as condições do espaço e a situação são grandes preditores de crime”, afirma Joana. “Então, muita gente defende o que se chama de intervenção baseada no espaço urbano, que é olhar a incidência de crimes identificar quais são as condições de ordenamento urbano, que influenciam e que estão associadas a eles.” Como exemplo, Joana cita um experimento feito na cidade americana de Nova York, em 2016, numa parceria entre pesquisadores e a prefeitura. De um grupo de 80 condomínios, alguns foram sorteados para receberem postes de iluminação móveis. Os pesquisadores compararam, então, o índice de criminalidade…
Podcast Primeiro Turno: o eleitor e o voto
O Primeiro Turno é um podcast do Insper que tem como objetivo conversar com pesquisadores para entender o que prefeito e vereadores podem fazer pelas cidades. Em oito episódios, serão debatidos temas relacionados ao dia a dia, como segurança, saúde, educação, saneamento, transporte, habitação. Antes de entrar nesses temas, o episódio de estreia traz conversas conversa com os cientistas políticos Carlos Melo, professor do Insper, e Nara Pavão, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para entender qual é o papel do prefeito e vereadores e como a mente do eleitor funciona na hora de escolher um candidato. Carlos Melo explica quais são as atribuições do executivo e do legislativo no município. Nessa divisão de poderes, vereadores propõem as leis municipais e fiscalizam a atuação do prefeito, que, por sua vez, executa as leis aprovadas pela Câmara. O funcionamento desse sistema deveria focar a resolução de problemas coletivos da cidade. Mas, segundo o professor, não apenas o debate eleitoral se distância dessas questões, mas também muitas vezes os próprios eleitores não reconhecem em seus representantes esse papel. Por exemplo, ao escolher um vereador, um eleitor pode votar em um nome com a expectativa de que o político vai resolver os seus problemas particulares. Mas, segundo Carlos, “ou você resolve essas questões do modo republicano, que é o interesse de todos, ou a gente vai para uma dinâmica perversa. Cada um vai buscar o que é melhor para si e vai construir um péssimo coletivo”. Racionalidade Na hora de escolher um candidato, segundo Nara Pavão, a “racionalidade funciona, mas ela funciona com pouca informação, baseado em atalhos cognitivos”, ou seja, o eleitor busca poucas informações sobre um candidato para decidir o seu voto. E como alguns candidatos percebem que os cidadãos economizam esforços para decidir o voto, a chave dos discursos da campanha eleitoral passa a ser a mobilização. Esses candidatos tentam se conectar com os eleitores não necessariamente pro meio de ideias, mas por meio do carisma e de apelos populistas. Ao ser perguntada se o processo de decisão por meio de atalhos é bom ou ruim para a democracia, Nara diz: “Do ponto de vista do entendimento do que a democracia é de verdade, ela é muito mais mundana e errática do que a gente normalmente quer crer. A democracia funciona com eleitores tomando a decisão dessa forma, com atalhos, com muita preguiça cognitiva, com pouca informação, sem conseguir atribuir responsabilidade, mas funciona”. E como as fake news afetam esse processo de escolha dos eleitores? Durante a entrevista, Nara recorre aos resultados de uma pesquisa conduzida com coautores, desde 2018, para explicar qual é o efeito das notícias…
Educação, trabalho, crime, desenvolvimento: a pesquisa de Rodrigo Soares
Proibir o comércio do mogno da Amazônia decerto satisfaz critérios de uma política responsável. Mas fazê-lo sem reprimir o mercado ilegal que provavelmente surgirá após o veto pode ter efeitos danosos não apenas ambientais, mas também nos homicídios. Foi o que detectou o economista Rodrigo Soares, em colaboração com o colega Ariaster Chimeli, em estados como o Pará na década passada. Soares, que recentemente foi eleito Fellow da Econometric Society é doutor pela Universidade de Chicago, passou a integrar a equipe docente do Insper, como professor titular. Suas pesquisas abrangem temas microeconômicos, como a informalidade no trabalho, e sociais, como os determinantes do crime. Também compôs trabalhos para entender a relação entre os padrões de mortalidade, de um lado, e o desenvolvimento econômico, do outro –um deles em parceria com Gary Becker (1930-2014), pesquisador de Chicago que expandiu as fronteiras temáticas da investigação pela ciência econômica. Conheça abaixo cinco trabalhos publicados por Rodrigo Soares. Instrução do trabalhador reduziu a informalidade No estudo, Soares e Daniel Haanwinckel (Universidade da Califórnia) elaboram um modelo que vai além do que a literatura estabelecera para captar fatores que podem levar empresas a operar ao largo das regulamentações legais. Firmas com produtividades diferentes, trabalhadores com diversas escolaridades, a ação de normas trabalhistas como o salário mínimo e o porte dos empreendimentos entram na análise, que utiliza dados do Brasil de 2003 a 2012. O modelo prevê satisfatoriamente a acentuada formalização ocorrida no período e detecta no aumento da instrução dos trabalhadores o principal fator a reduzir a informalidade. Com a ferramenta, os autores mostram que uma taxação progressiva da folha de salários, que desonerasse os menores vencimentos, seria mais vantajosa para a formalização do que o abono salarial vigente, pelo qual o governo paga bônus de até um salário mínimo anual a quem recebe até dois mínimos mensais. Abertura comercial abateu temporariamente o emprego, o que elevou o crime De 1990 a 1995, a economia brasileira passou por uma redução abrangente e profunda nas tarifas de importação. Em co-autoria com Rafael Dix-Carneiro (Universidade Duke) e Gabriel Ulyssea (PUC-RJ e Universidade de Oxford), Rodrigo Soares explora esse choque para apurar seus efeitos sobre a criminalidade nas regiões brasileiras economicamente mais prejudicadas pela abertura externa. No ano 2000, cinco anos depois da conclusão do choque tarifário, o trio de pesquisadores encontrou impacto significativo na mudança nas taxas de homicídios nessas localidades, expressa numa piora do índice de assassinatos em relação à média nacional. Quinze anos depois, em 2010, esses efeitos tinham desaparecido. O mecanismo preferencial de transmissão entre, de um lado, o choque comercial e, do outro, a elevação do crime, segundo a análise, não foi o…
Dobrar número de recém-formados eleva PIB de cidades
Cidades brasileiras se beneficiaram economicamente com a expansão do número de graduados no ensino superior no início deste século. O ganho no PIB (Produto Interno Bruto) per capita local foi estimado em aproximadamente 0,4% três anos após o número total de recém-formados dobrar. A estimativa foi calculada por pesquisadores do Insper no estudo “Higher education and GDP per capita in the Brazilian municipalities” (educação superior e PIB per capita nos municípios brasileiros), publicado em julho deste ano. Bruno Komatsu, Naercio Menezes Filho e Pedro Gandra identificaram o impacto ao analisar dados de 5.559 municípios referentes ao intervalo de 2002 a 2016, em que houve forte avanço na quantidade de formados no ensino superior. Em seus cálculos, os autores isolaram os efeitos que o crescimento populacional e que as tendências de aumento na demanda por graduados em cada cidade poderiam ter sobre o crescimento do PIB, a fim de distingui-los do impacto gerado pelo maior número de recém-graduados. Eventuais repercussões decorrentes da migração de formados entre municípios não puderam ser apuradas devido à falta de dados sobre esse deslocamento. Os resultados confirmaram o impacto positivo produzido pela maior presença de graduados em uma cidade, sobretudo com a formação de indivíduos nas áreas de ciências sociais, negócios e direito. A hipótese é que os recém-formados elevam a produtividade dos municípios ao aplicar em empresas o conhecimento obtido. Em outros estudos, esse mesmo efeito também foi ligado a fatores como maior disseminação de ideias na sociedade e inovação. O reforço de produtividade, acrescentam os pesquisadores do Insper, estaria associado principalmente à ampliação de formados em instituições particulares, cujos currículos se concentram mais no desenvolvimento de habilidades exigidas pelo mercado de trabalho. Verificou-se, ainda, que o ProUni (Programa Universidade para Todos) e a política de cotas para o ingresso em instituições de ensino superior também contribuem para a alta do PIB municipal, diferentemente do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). A distinção, segundo Menezes Filho, parece refletir as características dessas políticas públicas, pois tanto o ProUni como o sistema de cotas selecionam os melhores candidatos, que apresentam boas notas no Enem e alto aprendizado na faculdade. Com o Fies, porém, essa seleção não ocorre.
Instrução para poucos repercute no salário
O ensino médio privado e o superior público, pelos quais passa minoria dos brasileiros, associam-se a salários mais altos no futuro. O gênero masculino e a cor da pele branca também se relacionam a rendimentos maiores, de acordo com análise de pesquisadores do Insper sobre dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE. Beatriz Ribeiro, Bruno Komatsu e Naercio Menezes Filho investigaram resultados do módulo especial sobre educação, divulgado uma vez por ano desde 2016, que permite estabelecer conexões entre a renda recebida hoje e a instrução realizada do passado de uma amostra estatisticamente representativa da população brasileira de 25 a 59 anos. Em síntese infográfica, veja abaixo o percurso da análise e seus principais achados. Uma minoria cursou escola particular no médio e pública no superior: O bônus salarial de quem fez escola privada no médio é substancial: Quem cursou o médio privado e superior público tem a maior renda: Homens brancos que cursaram faculdade pública ganham mais: Os pesquisadores do Insper também procuraram isolar o peso específico de cada perfil de gênero, cor da pele e nível de instrução no prêmio salarial. Para não desbalancear a comparação, levaram em conta fatores regionais e a faixa etária das pessoas avaliadas. Por esse modelo de investigação, conhecido como análise de regressão, concluiu-se que as variáveis aventadas explicam uma parte relativamente pequena (cerca de 25%) do bônus salarial, o que é comum em estudos de fenômenos sociais complexos. Para cada R$ 100 do salário médio de mulheres não brancas que cursaram o ensino médio em escola pública e o superior em privada, veja abaixo quanto ganham alguns perfis. A análise reforça o que a literatura especializada vem assentando sobre a peculiaridade do Brasil, em termos do impacto relativamente forte de cursar o ensino médio numa instituição privada. Também reitera a indicação da relação entre um sistema muito afunilado de seleção, como o das universidades públicas, e a produção de desigualdades sociais, bem como as dificuldades adicionais enfrentadas por pretos, pardos e mulheres.
Veja ações de 7 países sul-americanos em resposta à Covid-19
Movimentação em rua de Buenos Aires, na Argentina, durante a pandemia do novo coronavírus CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL A reação imediata das sociedades à pandemia do novo coronavírus, de restringir a circulação das pessoas para reduzir o contágio, produz uma série de danos sociais e econômicos. Para tentar mitigá-los, governos recorrem a diferentes gêneros de políticas públicas emergenciais. Essas medidas, segundo estimou em abril o FMI (Fundo Monetário Internacional), custarão aos erários nacionais US$ 3,3 trilhões apenas em 2020 em desembolsos diretos e reduções de tributos. Outros US$ 4,5 trilhões deverão ser mobilizados em ações de socorro financeiro, como empréstimos e garantias a empresas em dificuldades. O efeito dessas ações em meio à queda da arrecadação de impostos –no Brasil, a redução em maio foi de 32,92% e em junho, de 29,59%, em relação aos mesmos meses de 2019– será uma forte e rápida elevação dos déficits e das dívidas públicas. Quanto aos tipos de programas de auxílio, eles misturam abordagens tradicionais, como a proteção aos empregos e às atividades formais da economia, e mecanismos que procuram alcançar segmentos da população e empresariais desprotegidos pelas políticas estabelecidas. A relação das políticas instituidas por esses países vem sendo reunida pelo FMI em uma plataforma criada para o acompanhamento das respostas dadas à crise. Ao todo, há informações de 196 economias. Confira, abaixo, exemplos de medidas anunciadas por sete delas, todas da América do Sul. Argentina Auxílio a trabalhadores e grupos mais vulneráveis, a exemplo da transferência de recursos para famílias mais pobres; ajuda aos setores mais atingidos, com a isenção de contribuições e empréstimos subsidiados a atividades ligadas à construção; garantia de crédito para a concessão de empréstimo a pequenas e médias empresas para a produção de alimentos e itens básicos. Bolívia Pagamento por três meses de contas de energia de consumidores com baixo consumo e auxílio de 50% para as contas de água e gás; transferência de dinheiro para aqueles que não recebiam nenhum outro benefício ou salário de empresas públicas ou privadas; estabelecimento de um fundo para ajudar empresas, sendo uma das ações a concessão de empréstimo para despesas com salários com o compromisso de não demitir por dois meses; adiamento do pagamento de impostos, além da possibiliade de quitá-los em parcelas. Chile Ampliação de benefícios para desempregados; adiamento da cobrança de impostos; criação de um programa de US$ 1,5 bilhão voltado a ajudar famílias da classe média por meio de medidas como empréstimos e subsídios a aluguéis; transferência de US$ 635 ao trabalhador que sofreu grande perda de renda durante a crise; distribuição de 2,5 milhões de cestas básicas. Com…
Evasão escolar gera, em 1 ano, perda de R$ 214 bilhões
O Brasil deve chegar ao fim deste ano com o saldo de 575 mil jovens de 16 anos que não concluirão a educação básica, quantidade pouco superior à população inteira da capital catarinense, Florianópolis. Em 2021, essa marca pode se repetir. Conforme a vida desses adolescentes avançar, a formação incompleta deve se traduzir em salários mais baixos, pior qualidade de vida e maior exposição à violência. Acabarão também prejudicando a coletividade, pois vão contribuir menos para a produtividade econômica do país. Em seu conjunto, os efeitos dão forma a cifras expressivas. Trata-se de R$ 372 mil, em média, perdidos em relação a cada um desses jovens ao longo da sua vida. Os 575 mil fora da escola neste ano correspondem a R$ 214 bilhões dissipados. O custo foi estimado na pesquisa “Consequências da Violação do Direito à Educação”, elaborada pelo Insper em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Liderados por Ricardo Paes de Barros, professor titular da cátedra Instituto Ayrton Senna, pesquisadores colocaram em cifras o resultado de um jovem não terminar o ciclo básico, composto pelos ensinos infantil, fundamental e médio. A quantia abrange as implicações da evasão em escolas públicas e privadas do país em relação a emprego e salário, atividade econômica, saúde e violência. Um dos primeiros números apurados pelos pesquisadores foi a projeção da quantidade de brasileiros que devem deixar os estudos a cada ano. Para tanto, utilizou-se a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, de 1992 a 2018. Os dados permitiram determinar as probabilidades de um adolescente de 16 anos vir a se formar no ensino médio até os 25. Levaram-se em conta na análise as desigualdades relacionadas a idade, cor e região do país, uma vez que, quanto mais vulnerável for a situação do adolescente, maiores serão os obstáculos para que avance nos estudos. Com base nessas probabilidades, os pesquisadores estabeleceram que, caso seja mantido o ritmo atual de evasão, 575 mil dos 3,3 milhões de brasileiros hoje com 16 anos não devem finalizar a educação básica neste ano. O mesmo quadro, indica o estudo, pode ocorrer novamente nos próximos. Embora esteja em declínio, o saldo permanece expressivo, segundo os autores da pesquisa. Uma comparação feita por eles ajuda a entender o porquê: a conta de R$ 214 bilhões gerada pela evasão escolar corresponde a quase 70% do que a União, os estados e os municípios gastaram em 2017 para oferecer educação básica. A pesquisa do IBGE também serviu de fonte para que pudesse ser calculada a probabilidade de um jovem vir a estar ocupado no futuro, de se tornar um trabalhador independente –empregador ou por conta própria–…
Economistas propõem agenda de reformas essenciais pós-pandemia
CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL Sair da crise desencadeada pelo novo coronavírus significa debater não apenas como retomar a situação de antes, e sim planejar e adotar medidas para tornar o setor público mais eficiente e estabelecer condições para que o Brasil possa voltar a crescer. O alerta é feito no trabalho “Uma agenda econômica pós-pandemia: parte I - qualidade do gasto público e tributação”, coordenado por Marcos Lisboa, presidente do Insper. Nele, a equipe do Insper liderada pelo economista apresenta um diagnóstico de deficiências do Estado brasileiro, demonstrando o resultado ineficiente de políticas públicas, os obstáculos criados por regras que levam ao aumento contínuo de despesas e as distorções decorrentes do sistema tributário atual. O conjunto de fragilidades, segundo os autores, mostrou-se ainda mais evidente durante a pandemia. E esse quadro pode ser agravado caso sejam tomadas escolhas como a expansão desenfreada de gastos. “Estamos andando sobre gelo fino e com alto risco de perder o controle da nossa dívida pública, o que nos legaria décadas de inflação alta, instabilidade cambial e estagnação do crescimento econômico”, afirmam os economistas. No trabalho, eles sugerem uma agenda ampla para tornar o setor público mais eficiente nos próximos anos, contribuindo para a redução da pobreza e da desigualdade. Entre as propostas estão a realização de uma reforma tributária, a unificação de benefícios sociais existentes com a realocação dos recursos já utilizados, o controle do crescimento da despesa primária, a racionalização de gastos com pessoal, previdência e assistência social, a alteração de pontos da legislação federal para dar mais flexibilidade à despesa de estados e municípios e a adoção de instrumentos que busquem melhorar os resultados de políticas de educação e saúde. A agenda completa pode ser acessada aqui. Além de Lisboa, participaram de sua elaboração o pesquisador associado Marcos Mendes, a economista Laura Müller Machado, o professor titular da cátedra Instituto Ayrton Senna, Ricardo Paes de Barros, e o também economista Vinícius Botelho. |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL
Cadastre-se e recebe as atualizações