Zanone Fralssat/Folhapress
CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL
As políticas instituídas para mitigar a disseminação do novo coronavírus têm gerado projeções pessimistas acerca do futuro da economia brasileira. Porém, se nada fosse feito para tentar desacelerar o avanço da doença, as atividades também estariam sujeitas a um forte abalo devido aos efeitos da perda de capital humano, estimada em R$ 1,702 trilhão.
O cálculo foi elaborado por Ricardo Paes de Barros, professor titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna no Insper, e pela economista Laura Müller Machado, do Insper. “O que esse exercício mostra é que vale a pena a atual parada na economia para proteger vidas”, afirma Paes de Barros.
O valor corresponde a 23% dos R$ 7,275 trilhões do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro de 2019, que soma todos os bens e serviços finais gerados no intervalo de um ano.
No exercício, trabalha-se com a hipótese de que nenhuma iniciativa para conter o avanço da doença, a exemplo da suspensão de aulas presenciais e do funcionamento de boa parte do comércio, tivesse sido posta em prática.
Nesse cenário, três quartos dos 212 milhões de habitantes do país contrairiam o vírus Sars-CoV-2. A proporção foi calculada considerando que uma pessoa infectada poderia contaminar outras quatro. Essa taxa de transmissão supera a de doenças como o Ebola e a Sars, também causada por um coronavírus.
O exercício estima que, dos pacientes infectados, 965 mil morreriam, sendo 79% deles com mais de 60 anos –a doença torna-se mais perigosa conforme o avanço da idade. A taxa de mortalidade aplicada é a que foi apurada por pesquisadores de universidades britânicas: 6,6 mortes em média por mil infectados. Publicado em março na revista científica “Lancet”, o estudo concentra-se em casos registrados na China.
Recorreu-se, então, às estimativas de quantos anos perderiam aqueles vitimados pela Covid-19 e de valor atribuído a cada um desses anos, que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), equivale a três vezes ao do PIB per capita do país.
O resultado revela um quadro de forte perda de capital humano, sobretudo com a morte de pessoas acima de 60 anos. Só essas perdas de vida representariam R$ 1,1 trilhão, ou seja, mais da metade do total estimado.
“Com essa crise, temos toda a razão de proteger os mais velhos, mas, ao mesmo tempo, há uma dramática transferência de renda dos jovens para eles”, diz Paes de Barros. A transferência se dá, por exemplo, com o possível atraso no desenvolvimento educacional de jovens decorrente da interrupção das aulas presenciais, levando à perda de renda deles ao longo da vida.
Com isso, segundo o professor, faz-se necessário buscar no futuro formas de compensar a decisão da sociedade de salvar vidas.
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