No último ano, o setor de educação marcou presença entre os jornais e portais de notícias. A ocupação de escolas públicas, a reforma do Ensino Médio e o possível encerramento do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) são apenas alguns dos assuntos que geraram discussões dentro e fora da mídia.
Para debater sobre os desafios enfrentados na educação brasileira, a Cátedra Insper e Palavra Aberta convidou o ministro da Educação, Mendonça Filho, para um bate-papo. O evento ocorreu no último 27 de março no auditório Steffi e Max Perlman. A conversa foi mediada por Fernando Schüler, titular da cátedra Insper e Palavra Aberta, e Sérgio Firpo, titular da cátedra Instituto Unibanco.
Panorama atual
O Brasil gasta 6,6% do PIB com educação, enquanto outros países com desenvolvimento econômico no mesmo nível investem 4,2%. O problema é que os resultados não são melhores ou mesmo equivalentes aos das nações que investem proporcionalmente menos no setor. “É um vexame vermos o quanto gastamos e não obtemos retorno”, afirmou Mendonça.
A situação do setor não melhora também sob análise do ranking mundial do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). Na pesquisa aplicada em 70 países, o Brasil aparece na 59ª colocação em leitura, 63ª em ciências e 66ª em matemática. “Se isso não é um quadro trágico, o que seria?”, indagou o Ministro da Educação.
“A primeira discussão que temos que fazer em relação à educação brasileira é: como gastamos e como podemos aprimorar o investimento na área de forma que haja melhores resultados para a sociedade”, disse Mendonça. “Precisamos fazer, nesse momento, uma reflexão aprofundada sobre nosso modelo de investimento”, completou.
É fato, porém, que o cenário não é totalmente ruim. O Brasil possui poucos, mas bons exemplos de cidades que apostaram no ensino e colheram bons frutos. Um dos casos mais conhecidos é o de Sobral, no Ceará. O município investiu em um plano de gestão diferenciado, focado na erradicação do analfabetismo, na diminuição da evasão escolar, na valorização do professor e na meritocracia. O modelo foi tão bem-sucedido que virou base para um projeto nacional.
Ensino Médio em pauta
“Entre 2010 e 2016, o ministério incrementou os investimentos no Ensino Superior em R$ 30 bilhões. Já para a educação básica, reservou R$ 10 bilhões. Isso mostra que as prioridades estão invertidas”, comentou Mendonça.
Para o Ministro da Educação, a reforma do Ensino Médio é uma maneira de reverter esse quadro. “Estamos oferecendo um ensino com base no que há de melhor no mundo”, afirmou. O novo modelo fará um mix com disciplinas tradicionais e aulas direcionadas para áreas específicas, que ficarão à escolha do estudante.
“Existem pessoas que são contra a implementação da reforma porque acreditam que ela deve ser aplicada em todo o Brasil de uma única vez. O problema é que nem toda escola está preparada para receber esse novo modelo de ensino. Mas isso não significa que devemos seguir adiante. Não podemos parar com as melhorias”, disse Mendonça.
As críticas se estendem também ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No começo de março, o ministro revelou que ele não seria mais usado como ranking entre escolas. “Não é possível descobrir a qualidade de um colégio baseado apenas no desempenho do aluno. Precisávamos de uma comparação mais completa e adequada. Por isso, passaremos a usar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)”, explicou.
Futuro dos projetos
Outra questão que tem recebido críticas e levantado dúvidas é o possível encerramento do FIES. Mendonça, entretanto, garantiu que ele não vai acabar. “É um projeto que tem futuro, mas precisa de uma cirurgia radical”, comentou. “Já fizemos algumas mudanças, como colocar um teto no financiamento. Agora precisamos descobrir quais são as outras medidas necessárias que devemos adotar para preservar a saúde do programa.”
Por outro lado, o projeto Ciência sem Fronteiras não sobreviveu. De acordo com o ministro, ele era caro e muitos alunos não estavam preparados para encarar o estudo em outra língua. “O custo do programa era de R$ 3,7 bilhões, o mesmo valor do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). A diferença é que esse segundo projeto atende muito mais pessoas e é mais relevante”, afirmou.
Com o mote de encarar um ministério que estava com as prioridades invertidas, Mendonça Filho vem apostando, desde maio de 2016, em medidas saudáveis para a sociedade. A proposta é conseguir melhorar e até mesmo reverter o cenário complexo que a educação do Brasil está vivendo.
Assista a íntegra do evento: