CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL
Um dos paradoxos nestes dias de alastramento do novo coronavírus diz respeito ao papel da ciência. Por um lado, ocorre uma valorização da sua importância, diante da necessidade de desenvolver melhores formas de prevenir e tratar a doença. Do outro, os seus adversários encontram meios políticos e comunicacionais de propagar falsidades e obscurantismos.
Charles Kirschbaum, professor do Insper, enfrenta a questão em artigo recentemente publicado na revista Dilemas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele reflete sobre como as instituições da ciência poderiam estreitar laços com a sociedade, de modo que a construção do conhecimento fosse compartilhada, a desinformação, reduzida, e mais atenção e recursos pudessem ser canalizados ao aprimoramento do desenvolvimento científico no Brasil.
O pesquisador descarta dois modelos para essa abordagem. O primeiro, em que o saber científico é estabelecido de cima e os cientistas ocupam os postos mais elevados, repousa sobre uma tautologia: a sociedade democrática que aceita esse regime, por definição, já comunga dos valores da racionalidade e, portanto, não precisa de ninguém que os imponha do alto.
No segundo, a tecnocracia, um corpo estável de funcionários do governo absorve o conhecimento dos cientistas e os aplica como política pública ao conjunto dos cidadãos. Essa via de mão única, argumenta Kirschbaum, tende a produzir desconfiança na sociedade, até porque as linhas de ação derivadas de aconselhamento científico carregam a incerteza típica desse conhecimento. Sem participar do processo, parcela da população pode se frustrar com resultados nem sempre alinhados à expectativa e reforçar suas restrições à ciência.
O caminho, para o professor, passa pela integração da comunidade de não-especialistas ao desenvolvimento do conhecimento científico e à sua comunicação. Essa confluência pode ser feita em etapas específicas do processo, precisa estar atenta às dificuldades psicológicas da aceitação de informações que se chocam com crenças e não deveria recorrer a práticas como a censura, mesmo contra quem expressa ideias ofensivas à ciência e à racionalidade.
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