A desigualdade de renda continua sendo muito alta no Brasil. Na média, os 10% mais ricos ganham 40 vezes mais que os 10% mais pobres. Essa diferença ainda é muito alta se compararmos com outros países.
Por exemplo, se fizermos a mesma análise nos Estados Unidos, a diferença entre os ganhos é de 15 vezes. Na França e no Canadá a distância entre rendas da camada mais rica e da mais pobre cai ainda mais e é apenas 10 vezes maior.
É fato que a medida de desigualdade está diminuindo de forma constante, nos últimos 10 ou 15 anos, no Brasil. Nos anos 90, para se ter uma ideia, os ricos ganhavam até 70 vezes mais que os menos favorecidos. A redução na desigualdade se deu por diferentes motivos, entre eles o Bolsa Família. O programa, que veio para apoiar famílias brasileiras extremamente pobres, aumentou efetivamente a renda dos mais necessitados e contribuiu muito na diminuição da desigualdade. Além disso, aumentou a frequência escolar nas famílias mais pobres.
Entretanto, a maior parte da queda da desigualdade de renda ocorreu no mercado de trabalho. A renda da população mais pobre gerada no mercado de trabalho cresceu notavelmente nos últimos 15 anos. O setor de serviços, que emprega intensivamente pessoas com menor nível educacional, é o que tem sustentado o crescimento do Brasil. Sendo assim, os ganhos desta faixa da população aumentaram e contribuíram para a redução da desigualdade.
Estamos na direção certa, mas é preciso fazer mais. Tudo indica que a desigualdade continuará diminuindo no Brasil, mas a passos bem mais lentos, já que o progresso no sistema educacional – ponto primordial para o desenvolvimento de todas as classes sociais e do país como um todo – está estagnando nos últimos anos. A qualidade da educação publica é muito baixa, as crianças e jovens aprendem muito pouco nas escolas brasileiras. Este é um problema que devemos enfrentar com mais afinco na próxima década, visando melhorar a qualidade do processo educacional, principalmente nas regiões mais pobres do país.
Profissionais mais bem preparados, com melhor nível educacional, aumentam a produtividade da economia e melhoram todos os indicadores sociais.
Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper