Muito se fala sobre os resultados de investimentos realizados por fundos de private equity sob a ótica do investidor. Há, contudo, pouco material sobre a visão dos empresários que receberam os aportes. Pesquisa do Centro de Finanças, em parceria com a Cátedra Endeavor e a Ártica Investimentos, identificou os principais fatores de sucesso e fracasso em sociedades com fundos de private equity, sob a perspectiva dos proprietários das empresas. O resultado mostra que quase a totalidade deles aprova essa modalidade de financiamento.
De acordo com a pesquisa, 98% dos empresários recomendariam o modelo para outras empresas, ainda que com ressalvas, tais como escolher o perfil do fundo adequado e estar pronto para “desapegar” e dividir o controle. E 68% deles disse que o fundo foi importante para gerar valor para a empresa.
O estudo é baseado em entrevistas com 46 empresários brasileiros que, juntos, receberam ao menos R$ 6,4 bilhões de investimentos entre 1997 e 2013. Como o investimento em private equity funciona como um ciclo com início, meio e fim, o estudo avaliou as experiências antes do investimento, durante e no encerramento do investimento, extraindo lições em cada fase.
Os resultados foram apresentados no evento Empresas investidas por fundos de Private Equity no Brasil: lições aprendidas, realizado no Insper no início de setembro.
Para empresários que buscam a parceria de um fundo, a pesquisa responde alguns questionamentos que são bastante comuns. “‘Como será meu dia a dia após receber o sócio na minha empresa?’ ou ‘Como de fato o sócio agregará valor além do capital investido?’”, exemplificou Luiz Penno, sócio-fundador da Ártica, na abertura do evento.
Acesse aqui o estudo: Empresas Investidas por Fundos de Private Equity no Brasil
Como encontrar o investidor ideal
A principal motivação que leva as empresas a procurarem um fundo de investimento é o crescimento. As companhias de médio porte querem expandir e precisam de um sócio para ajudar nesse processo.
“Na hora de procurar um parceiro, os empresários adotam práticas usuais de fusões e aquisições, como conversar com mais de um fundo, contratar advogados e assessores financeiros, bem como negociar cláusulas”, contou a professora Andrea Minardi ao apresentar o estudo.
“O problema é que 44% das empresas não realizam um processo estruturado para escolher o parceiro ideal. Isso significa que não tentam entender qual seria o perfil de fundo mais adequado, nem conversam com empresas que receberam investimentos dos fundos candidatos”, completou.
Esse procedimento estruturado é ideal para mostrar que não necessariamente a proposta com maior valor financeiro é a mais adequada para o negócio. A governança é igualmente importante. “Se você não tiver o mínimo de sinergia com o gestor, não adianta fechar negócio. Por isso é recomendável e saudável fazer a triagem”, afirmou Fábio Figueiredo, do grupo Cruzeiro do Sul Educacional, durante o evento.
Das empresas que analisaram antes o perfil do parceiro, apenas 23% optou pelo valor mais alto. Entre as que não fizeram esse tipo de consulta, 80% dos empresários escolheram o dinheiro.
Outros efeitos da participação
Vale ressaltar, entretanto, que até o melhor relacionamento tem conflitos. E na sociedade de private equity não é diferente: 70% dos empresários vivenciaram algum desalinhamento com o fundo de investimento.
“Só que nem sempre isso é ruim. Vários entrevistados apontaram que as divergências resultaram em amadurecimento profissional e melhores decisões para a empresa”, comentou Minardi.
De acordo com a pesquisa, 67,5% dos empresários reconheceram que o fundo trouxe outra contribuição para a empresa além do aporte de capital: a profissionalização da gestão e dos processos foi o principal apontamento. Em contrapartida, a maior frustração se deu em relação à falta de conhecimento específico do fundo sobre o negócio.
Em relação à saída do fundo, é importante que a empresa esteja preparada para o rompimento. “O segredo é conversar logo cedo. É mais confortável para o empresário saber que o relacionamento não é eterno”, afirmou Álvaro Gonçalves, sócio-fundador da Stratus durante o debate.
Em geral, o estudo apontou que o primeiro a sair do investimento é o fundo (63%). Normalmente, a gestora encerra a participação e vende sua parte para uma empresa que tenha um business complementar. Vale ainda destacar que 61% dos entrevistados consideraram que o término da relação ocorreu em um momento bom para ambos os lados.