Seminário debate o modelo de equity crowdfunding no Brasil
O financiamento por meio de crowdfunding é uma opção cada vez mais viável para empreendedores no Brasil e no mundo, mas que ainda gera muitas dúvidas aos investidores. Para esclarecer detalhes sobre o tema, a professora Andrea Minardi, que atua no Centro de Finanças, organizou o seminário Equity Crowdfunding – Oportunidades, riscos e aspectos regulatórios no Brasil. Participaram das discussões o professor Wesley Mendes da Silva (EAESP/FGV), Ricardo Politi (Broota Brasil), Antonio Carlos Berwanger (CVM) e Leonardo Teixeira (Blue Whale Investments). Realizado em 27 de junho de 2016, o evento reuniu empreendedores, investidores, advogados, profissionais do mercado financeiro e outros interessados na sala Jorge Paulo Lemann, do Insper. Oportunidades Apesar de estar em alta no Brasil e no mundo, o crowdfunding não é exatamente uma prática nova. O professor da EAESP- FGV Wesley Mendes da Silva, que tem Inovações em Finanças entre suas áreas de pesquisa, destacou que a Estátua da Liberdade, por exemplo, foi construída por meio de uma espécie de crowdfunding. O mesmo ocorreu com o filme “Crocodilo Dundee” (1986), possivelmente a primeira obra cinematográfica criada a partir de financiamento coletivo. “A cadeia de capital empreendedor no Brasil tem vários gaps. A modalidade de equity crowdfunding, que permite ao pequeno investidor comprar participação acionária da empresa é uma inovação que pode preencher alguns destes gaps. Por outro lado, como esse modelo envolve títulos mobiliários, oferece riscos que devem ser analisados pelo agente regulador”, explicou Andrea. De acordo com Mendes da Silva, as oportunidades de crowdfunding aplicadas atualmente, mesmo diante da necessidade de ajustes, estão contribuindo significativamente para a economia e também para outros fatores importantes do mercado. “O método tem promovido inovação, criação de riqueza e possibilidade de desenvolver pequenos projetos”, destacou o professor. Ricardo Politi, sócio do Broota Brasil, primeira plataforma de crowdfunding da América Latina, concorda com o ponto apresentado por Mendes da Silva. Para ele, a capitalização descentralizada e distribuída oferece boas vantagens ao empreendedor. “Nesse modelo, as decisões são tomadas de forma mais rápida, os investidores criam efeitos virais e, de quebra, existe uma redução de custos transacionais”, afirmou o profissional, formado em administração pelo Insper. Leonardo Teixeira, que atua como investidor anjo full time com o branding BlueWhale desde 2014, acredita que o crowdfunding pode ser vantajoso sobretudo para quem está procurando empresas para investir. “Como tudo que ocorre no mundo dos investidores anjo, a empreitada pode dar errado, mas é muito satisfatório ajudar uma empresa a crescer e ampliar redes de network. Muitos empreendedores estão à espera dessa oportunidade”, destacou. O evento foi transmitido ao vivo. Assista na íntegra: Tipos de Crowdfunding Mendes da Silva iniciou o ciclo de palestras da noite falando sobre o significado e os…
Crédito público beneficiou grandes empresas sem aumentar o investimento
A justificativa econômico-social para a concessão de crédito público é que projetos que geram externalidades positivas – tais como de infraestrutura ou inovadores – podem não parecer financeiramente lucrativos. Esta análise, feita com base em quase 1 milhão de empresas que fizeram empréstimos de mais de R$ 30 mil entre 2004 e 2012, mostra que a expansão de crédito governamental, apresentada como alternativa para aliviar as restrições de crédito enfrentadas pelas empresas, não teve o direcionamento esperado. A expansão de incentivos governamentais pós-crise de 2008 não resultou em apoio para empresas mais novas, menores e potencialmente mais inovadoras. As companhias que receberam mais crédito público subsidiado foram as maiores, mais antigas e de menor risco, que menos sofrem com as restrições de crédito. Se o crédito público teve papel importante durante a crise financeira, compensando a forte contração na oferta de crédito livre e privado, a expansão de concessões públicas continuou mesmo após a recuperação da atividade econômica. Entre 2008 e 2012, houve um aumento de participação pública de 13,39% do total de crédito. Apesar da expansão de linhas de financiamento, os empréstimos às empresas que atuam nas áreas de saneamento, infraestrutura e transportes não foram proporcionais. O financiamento oferecido por bancos públicos às empresas sociais cresceu 4%, contra os 17,5% de expansão para empresas de outros setores. A premissa de que o maior acesso ao crédito público levaria a um maior investimento das empresas também não se comprovou: o efeito dessas operações sobre a taxa de investimento é insignificante, pelo menos para as empresas de capital aberto. Além disso, notou-se um aumento de endividamento, e substituição do crédito privado pelo público direcionado. Como as taxas de juros no crédito direcionado são mais baixas, as empresas com maior acesso a esses empréstimos tendem a reduzir o custo da dívida. Em suma, a análise sugere que os incentivos de crédito governamentais não aliviaram as restrições de crédito das empresas com menos acesso ao financiamento privado. Em detrimento de sua proposta, o principal efeito do aumento do crédito público foi financiar a taxas subsidiadas empresas que poderiam ser atendida pelo setor de financiamento privado. O artigo, dos professores Marco Bonomo e Ricardo Brito, em coautoria com Bruno Martins (Banco Central), foi publicado em 2015 no Journal of International Money and Finance. A versão em Working Paper está disponível no acervo do Insper.
Como a localização contribui para refinar a classificação de crédito
Modelos de credit scoring são ferramentas importantes para análise e concessão de crédito. Tais modelos medem, por meio de cálculo estatístico baseado em variáveis idiossincráticas e fatores macroeconômicos, a probabilidade de inadimplência de um possível cliente. O uso de modelos de regressão logística para mensurar o risco de inadimplência já é prática comum e a maioria dos bancos brasileiros utiliza um sistema de credit scoring, cuja complexidade varia de acordo com cada instituição. Acrescentar uma variável espacial ao modelo leva a sistemas mais precisos. Foi esse o trabalho desenvolvido por Guilherme Barreto Fernandes como dissertação de mestrado, orientado por Rinaldo Artes, professor do Insper. O texto original foi publicado no European Journal of Operacional Research. Fernandes concedeu a entrevista abaixo ao Insper Conhecimento. Insper Conhecimento: Qual a contribuição do trabalho publicado no European Journal of Operacional Research para identificar a relação entre localização da empresa, logística e inadimplência? Fernandes: Em nosso trabalho, criamos um método para captar o efeito da atividade econômica local no risco de crédito da empresa sob análise. Por questão de inexistência dos dados, a técnica chamada krigagem foi utilizada para estimar o efeito da mudança da atividade econômica local. Essa técnica, muito utilizada em geologia e epidemiologia, se baseia na correlação espacial dependente da distância entre a empresa analisada e todas as demais na sua vizinhança. Como isso pode ajudar a criar ou sofisticar modelos de credit scoring? A técnica resulta numa nova informação sempre presente nos bancos de dados tradicionais, mas nunca utilizada anteriormente. O desempenho de um modelo de credit scoring depende fortemente das variáveis preditoras disponíveis e o resultado da técnica é uma nova variável chamada de risco espacial. O que a pesquisa revela no caso brasileiro? Observamos que em muitos lugares a correlação espacial entre empresas varia. Por exemplo, em São Paulo a correlação espacial entre empresas que distam até 500 metros é relevante, enquanto em Belo Horizonte essa distância aumenta para 3 quilômetros. Em resumo, isso quer dizer que para entender o nível de atividade econômica local precisamos observar uma região com raio seis vezes maior na capital mineira do que na capital paulista. Quem se beneficia com o uso da variável espacial, de localização da empresa, em modelos de credit scoring? Quando se tem mais informações sobre a empresa, incluindo a realidade econômica regional, é possível dimensionar o risco de crédito de maneira mais acurada. Em termos práticos, bancos, financeiras e fornecedores em geral podem oferecer linhas mais adequadas à capacidade de pagamento de cada empresa. Isso está diretamente relacionada à concessão de crédito de qualidade, garantindo a saúde do sistema financeiro nacional. O que o método agrega quando se…
A estabilidade do euro
O euro é atualmente a segunda moeda internacional mais importante no mundo, atrás apenas do dólar americano. Com relação ao Brasil, o bloco de 18 países que compõem a zona do euro está entre os nossos três principais importadores, juntamente com a China e os Estados Unidos. A estabilidade do euro é, portanto, de suma importância. Estudo do professor Marco Lyrio mostra que, durante a intensificação da crise da dívida soberana em meados de 2011, os títulos soberanos de países da zona do euro refletiram de forma acentuada a percepção do mercado de que algum dos países pudesse abandonar o euro como moeda corrente. O trabalho, feito em coautoria com três pesquisadores do Banco Central da Bélgica, Hans Dewachter, Leonardo Iania e Maite de Sola Perea, buscou mensurar tal possibilidade, comumente chamada de risco de redenominação. Neste trabalho, os autores fazem uso de um modelo para a curva de juros de cada um dos países em relação a um país de referência, ou curva de juros livre de risco. O modelo incorpora a premissa de não arbitragem no mercado de títulos de renda fixa e faz uso de um conjunto de variáveis macroeconômicas e financeiras. O ponto central do trabalho está na decomposição do spread entre as taxas de juros de cada país e a taxa livre de risco em dois componentes. O componente chamado de fundamental reflete as influências do ambiente internacional, dos fundamentos da zona do euro e específicas de cada país. O componente não-fundamental mede a parte do spread devida ao risco de redenominação dos títulos soberanos dos países da zona do euro. De acordo com os resultados, entre 2011 e 2013, o risco de redenominação foi responsável por uma parte significativa da variação do spread entre as taxas de juros dos títulos soberanos da Alemanha, Bélgica, Espanha, França e Itália. Como ilustração, a linha na figura abaixo mostra o spread para o título soberano da Espanha com maturidade de cinco anos, enquanto a área vermelha mostra a significativa contribuição do componente não fundamental. O trabalho apresenta, portanto, uma ferramenta para o constante monitoramento da estabilidade da zona do euro. Os resultados dessa pesquisa foram apresentados no VIII Annual Seminar on Risk, Financial Stability and Banking, promovido pelo Banco Central doBrasil, e deverão ser publicados na revista acadêmica Journal of Banking and Finance.
Impactos da implementação das IFRS em companhias brasileiras
A professora Camila Boscov recebeu neste mês do Conselho Regional de Contabilidade o prêmio pela melhor tese de doutorado em contabilidade de 2014. Seu trabalho buscou analisar as mudanças organizacionais ocorridas nas empresas em função do processo de implementação das regras contábeis internacionais para as demonstrações financeiras, as IFRS, adotadas a partir de 2010 pelas companhias brasileiras com ações na bolsa. Para isso foi feito um estudo de caso, com entrevistas, observações participantes e pesquisa documental em três grandes empresas brasileiras que passaram pelo processo de convergência contábil: BNDES, CCR, e uma empresa de energia. De acordo com os resultados, não foi possível constatar que a implementação das IFRS tenha afetado de forma direta a cultura das organizações analisadas. Contudo, o movimento de convergência contábil promoveu alterações nas estruturas das companhias, houve integração das áreas e melhor conhecimento da organização; o conselho de administração envolveu-se nessas mudanças, a área contábil ficou mais próxima do investidor e passou a conduzir consultorias financeiras. Por outro lado, houve desgaste no relacionamento com clientes devido a tantas novas exigências de mensuração e divulgação. Com as IFRS, diversos departamentos nas empresas passaram a fornecer informações para a elaboração das demonstrações contábeis. Na CCR, por exemplo, as concessões passaram a ser vistas como ativos intangíveis, e não mais como imobilizados. Sua amortização precisa ser calculada pela área de engenharia e é em função da curva de tráfego estimada durante o período de concessão. Foram contratados trainees recém-formados em engenharia que estudaram as mudanças no perfil do engenheiro mediante ao IFRS, principalmente devido aos cálculos de provisões de manutenção das rodovias. A área contábil precisou, em muitos casos, se aproximar do departamento de relações com investidores para esclarecer as diversas mudanças contábeis principalmente em função de alteração de cálculo de dividendos. As novas informações, por serem mais subjetivas, precisavam, em muitos casos, serem aprovadas pelo conselho de administração. Além disso, o contador da companhia passou a dar consultorias para decisões estratégicas da empresa, como por exemplo, sobre o impacto do ágio na compra de outra companhia. O BNDES passou a consolidar as informações contábeis em algumas empresas que ele possuía participação. Essas empresas tiveram que passar a elaborar demonstrações contábeis e contratar auditorias. Tais exigências desgastaram o relacionamento do BNDES com essas empresas clientes. As companhias tiveram que fazer grandes adaptações sistêmicas de modo a acompanharem os novos critérios de mensuração e divulgação, e o SAP foi escolhido como a melhor ferramenta para isso. Algumas informações que antes eram elaboradas somente para fins gerenciais passaram a ser utilizadas na elaboração das demonstrações contábeis. No Grupo CCR, por exemplo, informações gerenciais sobre projeções de fluxo de caixa para…
Devo sacar aplicação para comprar imóvel?
O indivíduo que tem um apartamento de 70 m² e aplicação financeira com valor similar ao do imóvel deve usar o dinheiro para comprar imóvel maior ou outro do mesmo tamanho? A resposta mais adequada é "nenhuma das alternativas". Atualmente, investir em imóveis diretamente só se mostra adequado se ele for para moradia. E, mesmo se for para moradia, gastar a reserva não é recomendável. Se você procura um imóvel maior para melhorar o bem-estar, a melhor alternativa é vender o anterior e comprar um novo financiado em seis meses. Assim, é possível ter duas vantagens: isenção de IR e manutenção de liquidez. Caso o imóvel seja o único possuído, comprando outro maior no intervalo de 180 dias o investidor tem o benefício da isenção de IR sobre o ganho de capital na venda do imóvel anterior. Além disso, comprando de forma financiada, o investidor não abre mão da reserva de liquidez. A manutenção de reserva de liquidez é de extrema importância para fazer frente a emergências como perda de emprego ou problemas de saúde. Uma analogia atual sobre o reflexo da não manutenção de uma reserva – mas com outro recurso escasso – é com a água. O consumo da reserva de qualquer bem escasso sempre cobra seu preço no futuro. Se o imóvel for adquirido para investimento, o investidor deverá repensar seu portfólio. Assim como ter um portfólio de ações formado por uma só empresa carrega um risco específico significativo, o mesmo acontece com imóveis. Possuindo apenas um imóvel, os riscos de vacância e de ter de arcar com despesas de condomínio e impostos não são diluídos. Os benefícios da diversificação são amplamente reconhecidos e também devem ser aplicados no mercado imobiliário. Para pessoa física, o melhor instrumento para adquirir um portfólio diversificado de imóveis e ainda ter o benefício de isenção de IR sobre aluguéis é o fundo de investimento imobiliário, que ainda proporciona liquidez ao portfólio. Aproveite para conhecer o nosso curso de Investimentos no Mercado Imobiliário.
Debênture é melhor que tesouro direto?
A plataforma do Tesouro Direto tornou-se sinônimo de investimento em título público. Apesar de sua popularização, deve-se atentar para seus custos. Para montar uma carteira de títulos de renda fixa, o investidor deve prestar atenção a fatores como: risco de crédito, indexador, prazo de investimento, IR e custos de negociação. Com relação ao primeiro fator, é relevante caracterizar os títulos segundo o emissor, público ou privado. Ao comprar uma debênture, título de crédito emitido por empresas para captar recursos, o investidor se torna credor dessa companhia. Por terem maior risco de crédito, os investidores em títulos privados são compensados com mais retorno. Contudo, deve-se tomar cuidado ao comprar crédito privado, pois uma empresa pode não cumprir seus pagamentos. Assim, não se recomenda comprar muitos títulos de um mesmo emissor para o portfólio. Debêntures não possuem garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito). O investidor deve ler o prospecto da emissão para entender as garantias atreladas à emissão. Elas são a sua proteção caso a empresa não tenha recursos para honrar os pagamentos. Assim, quanto maiores a garantia e a qualidade de crédito do emissor, menor será o retorno que a debênture vai proporcionar acima do título público equivalente. Com relação ao prazo, o investidor menos experiente deve evitar correr o risco de liquidez e de mercado. Ou seja, deve evitar a compra de títulos com vencimento superior ao momento que deseja utilizar os recursos. Caso o investimento seja para aposentadoria, o investidor pode comprar títulos de longo prazo. Entretanto, se pretende investir para realizar uma viagem, a compra de títulos com vencimento longo pode gerar prejuízos no momento da venda devido a problemas de liquidez ou por variações de preço. Outra vantagem de algumas debêntures é a ausência de IR para pessoas físicas. Portanto, a melhor alternativa para uma carteira de renda fixa é diversificar com títulos públicos e privados como as debêntures Publicado no Folha Online em 29/09/2014.
Fusões e aquisições de bancos devem ser julgadas pelo Cade, e não pelo BC
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) recorreu, junto ao Supremo Tribunal Federal, contra a decisão que outorgou ao Banco Central (Bacen) a exclusividade do direito de julgar fusões e aquisições (F&As) no setor bancário. A sociedade se importa com as F&As por uma razão simples. Tudo o mais constante, elas reduzem a competição, causando aumento de preços e diminuição da produção. O qualificante "tudo o mais constante" é importante porque a F&A pode gerar ganhos de eficiência, reduzindo os custos de operação que, sob determinadas condições, são repassados ao consumidor. Portanto, é preciso avaliar os ganhos de eficiência e os efeitos da redução de competição. Caso os primeiros mais do que compensem os últimos, a F&A beneficia os consumidores e aumenta a eficiência econômica, devendo ser aprovada. Normalmente, é a autoridade de defesa da concorrência – o Cade - quem faz a avaliação. O setor bancário é peculiar. Sua atividade consiste em "transformar sensibilidade à informação" (ou transformar maturidades), como dizem os especialistas em economia bancária. Os bancos se financiam majoritariamente através de instrumentos pouco sensíveis à informação, como depósitos e dívidas de curto prazo (de maturidade curta), e fazem empréstimos e investem em projetos que são bastante sensíveis à informação (de longa maturidade). Esse descasamento das características de seus passivos e ativos gera uma forma de fragilidade financeira: mesmo solvente, um banco não conseguirá honrar seus compromissos se todos os seus financiadores de curto prazo "correrem" contra ele. Pior: as dificuldades em um banco podem gerar corridas contra outros. Ou, como é comumente dito, dificuldades em uma instituição geram risco sistêmico. Por isso, há a percepção de que a falência de um banco é mais grave do que a falência de uma firma em outros setores. A preocupação com risco sistêmico justificaria que o Bacen tivesse a atribuição de avaliar as F&As bancárias. Implícita na justificativa está a suposição de F&As serem estabilizadoras do sistema bancário. Duas são as razões para isso. Estando o sistema bancário em risco pela falência iminente de um banco, a sociedade – representada pela Autoridade Monetária – deveria estar disposta a ver um concorrente assumir suas operações, uma solução potencialmente anticompetitiva. Mesmo quando a F&A não ocorre com "a corda no pescoço", gostaríamos ser mais tolerantes com F&As no setor bancário porque a concentração aumentaria a estabilidade. O Bacen tende a se importar mais com estabilidade porque seu mandato inclui a proteção do sistema bancário. Não é sua intenção, mas é quase inevitável que a competição sofra se formos lenientes com fusões, principalmente se considerarmos o grau atual de concentração do setor bancário brasileiro. Reclamaremos dos juros mais altos, o preço a pagar.…
Em oferta inicial, ação sobe menos no Brasil que nos EUA
A valorização média do primeiro pregão de uma empresa, quando ela lança ações, no Brasil é quase um terço da valorização média nos Estados Unidos. Enquanto a valorização média no Brasil é de 4,4%, nos EUA é de 12,2%. É o que aponta estudo realizado pelos professores Andrea Minardi e Rodrigo Moita com o alumnus Rafael Plantier Castanho a partir de sua dissertação no Mestrado Profissional em Administração. Uma causa possível para o retorno é que quando o banco responsável pelo lançamento das ações percebe alta demanda, ajusta para cima o preço da oferta, mas não em seu valor justo cheio. “Esse ajuste parcial cria um retorno positivo no primeiro dia, que é usado para compensar investidores informados por revelarem informações confiáveis durante o processo de book building (coleta de preços)”, explica a professora Minardi. Ela acrescenta que um dos fatores que explica a diferença de retornos entre os dois países está no fato de os bancos serem muito mais seletivos com companhias no Brasil do que nos Estados Unidos. São raros IPOs de empresas com ofertas menores que R$ 200 milhões no país e existem poucos lançamentos de companhias pré-operacionais. “Como há maior concentração em empresas maduras e de tamanho grande, que carregam menos incerteza operacional do que empresas pequenas e pré-operacionais, as ações brasileiras devem, em média, ser lançadas a um preço muito mais perto do valor justo do que se comparado com os EUA", diz. Outro fator que pode explicar a diferença na precificação é que há menos bancos de investimento operando no Brasil, e os que operam têm alta reputação. Já nos EUA, a qualidade do coordenador varia muito. Artigo premiado O artigo que comparou o comportamento das ações no Brasil e nos EUA foi desenvolvido a partir da dissertação, defendida em 2010, que testou a influência do aquecimento do book building no retorno de longo prazo de ofertas públicas brasileiras. Para fazer a comparação, os autores analisaram uma amostra de 138 IPOs no Brasil entre 2004 e 2012, e 900 ofertas nos EUA entre 2001 e 2012. O estudo foi premiado em 2013 com o The Sion Raveed Award, que reconhece artigos acadêmicos de destaque apresentados na conferência anual do Business Association of Latin American Studies (BALAS), principal organização internacional dedicada a estudos de economia, gestão, liderança e indústria na América Latina e Caribe. Autores da pesquisa
Como superar poupança e inflação com baixo risco?
Há diversas alternativas com rentabilidade maior que a da poupança e superior à inflação, com nível de risco controlado. Com o juro básico (taxa Selic) acima de 8,5% ao ano, a poupança com aplicação a partir de 4 maio de 2012 rende o mesmo que a com aplicação anterior a essa data. Esse rendimento é de 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial), o que equivale hoje a cerca de 7,6% ao ano. A estimativa média dos analistas para a taxa de inflação (pelo IPCA, índice oficial) para os próximos anos, coletada pelo Banco Central, está próxima a 6% ao ano. A poupança ganha da inflação, ainda que por uma pequena margem. Para que uma aplicação apresente retorno efetivo superior ao da poupança, deve-se levar em consideração o rendimento após desconto do Imposto de Renda, pois a caderneta é isenta. Além da isenção de IR, a poupança tem garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) de até R$ 250 mil por CPF por instituição financeira, outro benefício que atrai aplicadores. Essas vantagens também são oferecidas aos que aplicam em LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio). Para que essas opções sejam mais vantajosas que a poupança, basta que apresentem uma rentabilidade superior a 72% do CDI (taxa média de juros do empréstimo entre bancos), que hoje está em 10,55% ao ano. Não é difícil encontrar LCI e LCA com taxas superiores a 90% do CDI, ou seja, acima de 9,5% ao ano. Também podem ser uma alternativa os CDBs (Certificados de Depósito Bancário), emitidos pelos bancos, pois possuem a mesma garantia do FGC, mas não são isentos de IR. Assim, o investidor que aplica por mais de dois anos deve descontar a alíquota de IR, de 15% para esse prazo, a fim de comparar com a poupança. Portanto, só deve optar por um CDB se ele render mais que 85% do CDI. Também devem ser considerados no universo de investimento os títulos públicos, no Tesouro Direto. Publicado na Folha de S. Paulo em 17/03/2014.
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