“De maneira equilibrada, é até bom que uma empresa especule para aumentar sua lucratividade e capacidade de investir. O problema é o risco de perdas substanciais, que podem comprometer o equilíbrio financeiro. Nesse ponto, vale lembrar que, normalmente, mesmo as companhias mais internacionalizadas não tem expertise suficiente no mercado cambial.”
Pesquisa detecta alto grau de especulação no auge da crise do subprime
No estudo, Hedge or Speculation? Evidence of the Use of Derivatives by Brazilian Firms During the Financial Crises, José Luiz Rossi Júnior, aponta que empresas não-financeiras especularam mais do que o suposto entre 2007 e 2009, período que engloba o estouro da crise global do subprime.
Analisando balanços anuais – um a um – de 200 empresas brasileiras, método inédito na pesquisa científica da área, e dados sobre mercado de ações disponibilizados pela agência de notícias Bloomberg, o professor pode identificar dois tipos de comportamento especulativo no referido período: um grupo que elevou, de forma significativa, sua aposta no mercado de derivativos, mas em consonância com sua exposição à moedas estrangeiras, e outro grupo, com objetivo declarado de hedge, que arriscou operações que poderiam ser desaconselhadas por analistas.
Ambos tentaram, na realidade, obter lucros altos com o processo de apreciação contínua do Real. “De maneira equilibrada, é até bom que uma empresa especule para aumentar sua lucratividade e capacidade de investir. O problema é o risco de perdas substanciais, que podem comprometer o equilíbrio financeiro. Nesse ponto, vale lembrar que, normalmente, mesmo as companhias mais internacionalizadas não tem expertise suficiente no mercado cambial”, advertiu Rossi.
De acordo com o levantamento, em 2008, 98 das companhias atuantes no mercado de derivativos, 38 delas (38.7%) especularam no mercado de taxa de câmbio. Em 2009, dentre 76 empresas com operações desse tipo, 16 (21%) foram consideradas especuladoras.
Rossi lembra que, com as lições duras da crise do subprime, a tendência é que as empresas continuem aprimorando seus controles internos e fortalecendo políticas explícitas de avaliação frequente das operações com derivativos, especulando com menos força do que no período pré-crise. “A crise nas economias desenvolvidas e o cenário de incertezas também está contribuindo para um comportamento mais cauteloso desde então”, comentou.
O professor justificou o trabalho afirmando que é essencial analisar o comportamento empresarial naquele período, lembrando que muitas companhias de países emergentes amargaram volumosas perdas devido à especulação alta.
A pesquisa verificou que o comportamento histórico do câmbio foi decisivo para orientar a tomada de decisões entre as empresas brasileiras e reforçou que a ciência não aponta nenhum modelo teórico suficientemente bom para presumir movimentos nesse mercado em todos os tempos.
Leia a pesquisa na íntegra.