O euro é atualmente a segunda moeda internacional mais importante no mundo, atrás apenas do dólar americano. Com relação ao Brasil, o bloco de 18 países que compõem a zona do euro está entre os nossos três principais importadores, juntamente com a China e os Estados Unidos. A estabilidade do euro é, portanto, de suma importância.
Estudo do professor Marco Lyrio mostra que, durante a intensificação da crise da dívida soberana em meados de 2011, os títulos soberanos de países da zona do euro refletiram de forma acentuada a percepção do mercado de que algum dos países pudesse abandonar o euro como moeda corrente. O trabalho, feito em coautoria com três pesquisadores do Banco Central da Bélgica, Hans Dewachter, Leonardo Iania e Maite de Sola Perea, buscou mensurar tal possibilidade, comumente chamada de risco de redenominação.
Neste trabalho, os autores fazem uso de um modelo para a curva de juros de cada um dos países em relação a um país de referência, ou curva de juros livre de risco. O modelo incorpora a premissa de não arbitragem no mercado de títulos de renda fixa e faz uso de um conjunto de variáveis macroeconômicas e financeiras. O ponto central do trabalho está na decomposição do spread entre as taxas de juros de cada país e a taxa livre de risco em dois componentes. O componente chamado de fundamental reflete as influências do ambiente internacional, dos fundamentos da zona do euro e específicas de cada país. O componente não-fundamental mede a parte do spread devida ao risco de redenominação dos títulos soberanos dos países da zona do euro.
De acordo com os resultados, entre 2011 e 2013, o risco de redenominação foi responsável por uma parte significativa da variação do spread entre as taxas de juros dos títulos soberanos da Alemanha, Bélgica, Espanha, França e Itália. Como ilustração, a linha na figura abaixo mostra o spread para o título soberano da Espanha com maturidade de cinco anos, enquanto a área vermelha mostra a significativa contribuição do componente não fundamental. O trabalho apresenta, portanto, uma ferramenta para o constante monitoramento da estabilidade da zona do euro.

Os resultados dessa pesquisa foram apresentados no VIII Annual Seminar on Risk, Financial Stability and Banking, promovido pelo Banco Central doBrasil, e deverão ser publicados na revista acadêmica Journal of Banking and Finance.