A atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) apresenta uma maior correlação com a intensidade de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em setores da indústria que dependem de empréstimos de terceiros. O fato indica que a instituição estatal de fomento desempenha papel importante no estímulo às atividades de P&D no Brasil.
Os professores do Insper Eduardo Correia de Souza e Priscila Fernandes Ribeiro e o alumnus do mestrado profissional em economia Eduardo Souza Mattos trabalharam com dados do IBGE sobre inovação e atividade industrial, além de informações do próprio BNDES, para responder à hipótese de que empréstimos do banco suprem carências do mercado de crédito quando se trata dos investimentos das empresas em pesquisa e desenvolvimento.
O estudo, publicado na revista Estudos Econômicos, abrange o período que vai de 1998 a 2014.
Firmas inovadoras com baixa capacidade de se autofinanciar teriam dificuldade de prosperar quando os agentes habituais do mercado financeiro são avessos a tomar riscos. Entre os fatores que atravancariam o acesso dessas empresas ao crédito estão a natureza arriscada dos projetos de P&D, a falta de garantias tangíveis para empréstimos e o interesse delas em preservar segredos de produção.
Nesse ambiente, a atuação do banco de fomento compensaria o impulso que falta dos demais operadores de empréstimos.
Para avaliar a dependência de crédito externo por setor, os pesquisadores recorreram a três indicadores diferentes: a razão entre gasto com investimento e fluxo de caixa livre; o capital físico por trabalhador; e a razão entre receita líquida de vendas e valor da transformação industrial.
O valor da transformação industrial também baliza a medida de intensidade de P&D, a variável de interesse na investigação. Quanto maior a fatia destas despesas em relação ao produto adicionado, maior o “teor inovador”.
Ao fim, a questão era verificar se a interação entre os desembolsos do BNDES e os setores dependentes de capital externo impactava positivamente a intensidade de P&D, hipótese satisfeita no modelo econométrico.
Como a pesquisa não foi feita no nível das firmas individuais, mas no de setores industriais, não é possível saber ao certo se o efeito setorial médio encobre uma realidade em que empresas que mais receberam crédito do BNDES podem ser as mesmas que figuram entre as que menos investiram em pesquisa e desenvolvimento.
Leia o estudo
Crédito do BNDES, dependência de finança externa e intensidade de P&D nos setores da indústria brasileira (1998-2014)