Autor:
Paulo Furquim de Azevedo Tatiana Iwai
Apesar de a confiança desempenhar papel fundamental para viabilizar e manter relacionamentos, são inúmeros os episódios em que a confiança entre as partes pode ser rompida: mentiras, promessas não cumpridas e quebras de contratos são apenas alguns dos casos de violações de confiança reportados.
As reações a violações de confiança podem variar consideravelmente: desde pessoas que querem se vingar e retaliar até outras que preferem dar nova chance e se reconciliar. Dentre os fatores que podem influenciar e aliviar os efeitos negativos de confiança quebrada, o relacionamento prévio importaria?
Os pesquisadores Tatiana Iwai e Paulo Furquim de Azevedo realizaram um experimento em ambiente laboratorial para analisar a questão e testar a reação dos envolvidos a uma violação de confiança, de acordo com diferentes históricos de cooperação.
No experimento, os participantes foram alocados em duplas para cooperar em um jogo econômico sob duas condições diferentes: para um grupo, a cooperação foi incentivada por meio de incentivos econômicos (prêmio para comportamento cooperativo); no outro grupo, a cooperação foi facilitada por meio de processos interpessoais (comunicação face a face). Então, um choque externo foi introduzido no jogo para criar a percepção de confiança quebrada.
A pesquisa mostrou que, após o evento negativo, relacionamentos em que processos interpessoais foram utilizados para fomentar cooperação estão associados a uma maior atribuição causal externa. Isto é, considera-se que a quebra de confiança deveu-se mais a fatores situacionais do que a uma decisão deliberada do parceiro de violar a confiança depositada.
Além disto, este tipo de relacionamento leva a uma maior benevolência e integridade percebidas sobre o outro, assim como maior disposição para se reconciliar. Mais ainda, no grupo comunicação, as partes se colocam em maior posição de vulnerabilidade, mesmo após a suposta violação de confiança. Este comportamento de risco, após um evento negativo entre os parceiros, é particularmente importante, porque, ao assumir mais riscos, envia-se uma mensagem de confiança que aumenta as chances de comportamento de reciprocidade positiva do outro.
Com isto, a principal mensagem da pesquisa é que relacionamentos baseados em processos interpessoais são mais resistentes a eventos negativos do que aqueles baseados em incentivos econômicos.
O artigo foi publicado no Brazilian Administration Review. Leia aqui: Economic Incentives or Communication: How Different Are their Effects on Trust