A produtividade do agronegócio e o futuro do setor no Brasil
Os últimos 40 anos marcaram o crescimento do agronegócio no Brasil, colocando o setor na posição de protagonista da economia do país. Enquanto a produção de outros segmentos decresceu ou aumentou no máximo 1% ao ano, a produtividade agrícola apresentou crescimento anual de cerca de 3% desde 1975. O setor foi tema de encontro com Fabio Chaddad, autor do livro “The Economics and Organization of Brazilian Agriculture”, professor Joint Appointment do Insper e associado na University of Missouri, no último dia 21 de setembro no auditório Steffi e Max Perlman do Insper. Com abertura de Claudio Haddad, presidente do conselho deliberativo do Insper, e de Marcos Lisboa, presidente da instituição, Chaddad falou sobre seu livro em debate mediado pelo professor Sérgio Lazzarini e com a participação de André Pessoa, sócio-diretor da Agroconsult, Decio Zylbersztajn, professor titular da FEA-USP, e Rodrigo Lima, diretor geral da Agroicone. O avanço da produtividade Fábio Chaddad conta em seu livro como o Brasil, um país tropical, pobre, importador de alimentos e com fortes problemas de segurança alimentar tornou-se em 40 anos uma das três potências agrícolas do mundo, atrás somente da União Europeia e dos Estados Unidos. “O Brasil cresceu 3 vezes mais que o mundo em produtividade agrícola. Conquistamos segurança alimentar. Hoje a família brasileira gasta somente 16% da sua renda em alimentos. Na década de 1960, gastava um terço. O preço real da cesta básica caiu 80%”, analisa Chaddad. Além da produção sustentar o consumo interno, também viabilizou a melhora da balança comercial. O país passou a ser terceiro maior exportador alimentar mundial e desde 1980, o agronegócio acumula um superávit de US$ 664 bilhões, enquanto os outros setores da economia registram um déficit de US$ 313 bilhões. O Brasil tem recursos favoráveis para a agricultura. Cerca de 14% das terras potencialmente agricultáveis e aproximadamente 13% dos recursos hídricos renováveis do planeta estão no país. O clima tropical é outro fator positivo, permitindo o plantio e a colheita o ano todo. Nos Estados Unidos, na Argentina, no Uruguai, na Austrália, na China e em países da Europa, por exemplo, o setor conta com uma safra por ano devido às condições climáticas. O evento foi transmitido na íntegra pelo Live Stream. Mas não é só isso, o casamento entre a inovação tecnológica e os bons centros de pesquisa públicos e privados, como a Embrapa, a ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, e o Instituto Agronômico de Campinas, e o CTC – Centro de Tecnologia Canavieira foram decisivos para esse crescimento, segundo os debatedores. Chaddad chama atenção para os empreendedores, que, por exemplo, desbravaram o centro-oeste, a boa gestão de…
O impacto das práticas gerenciais na produtividade
Discute-se amplamente que a baixa produtividade das nossas empresas é uma das principais causas do atual quadro de baixo crescimento do país. Segundo o professor Sérgio Lazzarini, estudos acadêmicos têm evidenciado que a adoção de melhores práticas gerenciais é um fator crítico para aumentar a produtividade nas organizações privadas e públicas. Ele citou os recentes trabalhos dos pesquisadores John Van Reenen (MIT) e Nicholas Bloom (Stanford), que apontam que a qualidade da gestão responde por 25% dos fatores relacionados à produtividade. Ganhar maior produtividade significa fazer mais com os mesmos recursos. As empresas brasileiras têm encontrado dificuldade em evoluir no contexto contemporâneo de competição global e nossos administradores têm papel importante para reverter esse quadro. Melhores práticas Há algumas décadas que a administração pública passou a se inspirar nas boas práticas da administração privada. A busca da eficiência, conhecida neste setor como New Public Management, incorporou o processo de gestão que envolve planejamento, avaliação e participação do setor privado para garantir mais eficiência na aplicação de recursos públicos. O professor titular do Insper explica que a visão mais recente é focada na geração de valor público, no reconhecimento das ações de políticas públicas que realmente vão impactar na qualidade de vida da população. Essa abordagem supera a visão da eficiência e é caracteriza por dinamizar as possibilidades de integração dos setores públicos e privados na resolução dos desafios da sociedade. Os governos continuam com suas responsabilidades relacionadas a educação, saúde e segurança. Mas encontram parceiros nos agentes privados que poderão oferecer esses serviços otimizando os recursos e o impacto, completa. Investimento de impacto Atualmente, Lazzarini se dedica ao estudo dos empreendimento público-privados de alto impacto. Nessa dinâmica, estes setores se organizam para atingir resultados de valor público que são mensurados e avaliados economicamente. Os participantes privados podem ser remunerados a partir do valor público gerado, como é o caso dos contratos de impacto social (social impact bonds). Eles são um mecanismo para remunerar os investidores que alcançaram ou superaram as metas de impacto social estabelecidas no contrato entre os agentes privados e o governo. O professor atualmente lidera o Insper Metricis, núcleo dedicado ao estudo de investimentos de impacto e mecanismos modernos de remuneração por variáveis de interesse público. O Metricis é um dos núcleos que integram o Centro de Estudos em Negócios do Insper. Pesquisa em administração Lazzarini iniciou seus estudos como pesquisador no campo da estratégia empresarial, área que analisa a alocação de recursos por parte das organizações. Esta área de administração estuda a dinâmica de geração de valor das empresas, seja pela adição de benefícios e atributos a um produto ou serviço, seja buscando eficiência e menores custos.…
Capitalismo de Laços no Brasil: o que pode mudar com a Lava Jato?
O evento Capitalismo de Laços no Brasil: o que pode mudar com a Lava Jato? que ocorreu no último 30 de agosto, reuniu empresários e acadêmicos com o objetivo de discutir as relações entre os setores privado e público no país. Organizado pelo Centro de Estudos em Negócios do Insper, contou com a participação de Salim Mattar, fundador da Localiza; Flavio Gurgel Rocha, presidente das Lojas Riachuelo; Dalton Gardimam, head de pesquisa de renda fixa da Bradesco Corretora, e Sérgio Lazzarini, professor titular da Cátedra Chafi Haddad no Insper. A conversa foi mediada por Fabio Motta, diretor de fundos da Western Asset Management e aluno do Mestrado Profissional em Economia . Períodos de mudança Para entender a situação atual do Brasil, o professor Lazzarini fez uma associação com os Estados Unidos do final do século 19. Na época, existia um cenário de país emergente com muita corrupção. “O que ocorreu nesse período e provocou uma transição positiva foi o estabelecimento de uma crise seguida de uma imensa insatisfação popular. Sem contar que a redução no custo de impressão permitiu a qualquer cidadão se informar”, relatou o professor. “O Brasil, atualmente, passa por uma situação similar. Existe uma comunicação mais facilitada graças às redes sociais e uma crise potencial que cria a insatisfação do povo. Sem contar que há um sistema judiciário que está se movendo para fazer punições, como vimos na Lava Jato”. Esse cenário é propício para fazer a sociedade entender o que está ocorrendo no país e reivindicar mudanças. Porém, segundo os empresários presentes, apenas uma modificação geral no sistema pode, de fato, incorrer em um futuro próspero. “Não podemos desperdiçar essa crise acreditando que é uma questão puramente de falta de ética”, reforça Rocha, da Lojas Riachuelo. Segundo ele, não basta substituir alguns nomes e acreditar que tudo estará resolvido se não for instaurada uma mudança sistêmica. O evento foi transmitido ao vivo. Veja a gravação: Cidadão protagonista Para reformular as políticas econômicas e sociais vigentes, Mattar, por sua vez, acredita que os cidadãos devem ter uma participação mais ativa, se posicionando com protagonismo. “Você perde um tempo por semana para diferentes atividades. Visita a sogra aos domingos e joga futebol com os amigos aos sábados Mas aí eu pergunto: quanto tempo você tem dedicado a seu país?”, indagou. É certo que a grave situação econômica tem despertado um debate mais substancial sobre os rumos da economia brasileira. Para os debatedores presentes, o Brasil ainda não oferece um ambiente de negócios favorável a empreendedores e empresários. Fragilidades do capitalismo no Brasil De acordo com Gardimam, a opinião geral do brasileiro a respeito do termo “capitalismo” é bastante dúbia.…
Rankings de desenvolvimento desconsideram particularidades dos países
“Os países não devem ser ranqueados como em um quadro de medalhas.” Foi o que defendeu o economista Eduardo Giannetti em sua visita ao Insper no quarto evento da série Insper Liderança. Segundo ele, passamos por uma crise civilizatória e de liderança global que está muito relacionada à economia, voltada ao individualismo, competição e, consequentemente, padronização de pensamentos e cultura. Segundo ele a sociedade enfrenta três principais desapontamentos: Promessa de que com o avanço da ciência passaríamos a compreender melhor a existência humana e o universo. Descobriríamos a dimensão de sentido. No entanto, aconteceu o oposto: quanto mais ela avança, mais dilemas e dúvidas enfrentamos; Promessa da tecnologia tornar a natureza mais dócil, trabalhando à vontade do homem. Apesar desse fenômeno ter se concretizado, não esperávamos que acontecessem os desastres naturais que surgiram como consequência deste avanço; Promessa de que o crescimento econômico traria felicidade. Todas as pesquisas empíricas provam o contrário. Os norte-americanos, por exemplo, possuem uma alta renda per capita e correspondem aos 5% mais ricos do planeta. No entanto, também são os mais insatisfeitos: sentem que lhes faltam muitos bens materiais. Com isso, o especialista conclui que a humanidade precisará buscar outras formas de sobrevivência, menos dependentes do consumo. Economistas já previam que em certo momento a economia seria algo secundário, uma vez que a humanidade já se sacrificou muito pelo crescimento econômico e agora precisa buscar outras formas de realização. Por outro lado, as métricas e rankings estimulam a competição dos países por crescimento e lucro. O PIB, por exemplo, é visto por Giannetti como uma medida desastrada de mensuração, uma vez que não considera outras variáveis. O economista dá um exemplo: se uma comunidade polui seus rios e afluentes, passarão a importar água mineral e engarrafá-la. O PIB irá registrar um aumento de receita, mas não considera a qualidade de vida e outros indicadores. Exatamente por isso é interessante termos mais de um índice controlador, a fim de balancear e olhar além. “O conceito de felicidade é muito relativo e particular em cada nação”, reforça. Crises de liderança no mundo Giannetti aponta três momentos em que a sociedade viveu sonhos coletivos: virada do século XVIII para XIX; anos 20 (modernismo) e anos 60. Essas foram épocas em que se acreditava em um futuro melhor do que o passado e presente. No entanto, dos anos 80 pra cá, as pessoas estão mais individualistas e perderam parte desta crença. Os países, de forma geral, perderam o entendimento de liderança cultural – perde-se a perspectiva de sociedade e de coletivo e, portanto, a consciência política deste coletivo. Assista na íntegra: Um outro problema deste individualismo se evidencia nas relações…
Desvendando a eficiência das parcerias público-privadas
O professor associado da área de Estratégia Sandro Cabral costuma dizer que em sua formação como engenheiro aprendeu que sua tarefa primordial é resolver problemas. Doutor em administração pela Universidade Federal da Bahia, seu foco é eficiência – quais são os mecanismos que fazem os governos funcionarem melhor e o que leva determinados projetos a darem certo ou errado. Uma das áreas de atuação são as interações entre governo, iniciativa privada e organizações não governamentais. "Pense no Carnaval de Salvador. É uma festa em que a organização funciona, todos os anos, ainda que reúna atores muito diferentes e por vezes com objetivos antagônicos", diz. "Estado e município têm partidos diferentes no comando; há ONGs, empresários, população e mesmo assim é um evento de sucesso e que se aperfeiçoa ano a ano. Formas de interação público-privadas acabam sendo uma alternativa mais interessante em relação a formas totalmente públicas ou totalmente privadas." O doutorado de Cabral abordou prisões. Ele estudou a relação entre prisões públicas e terceirizadas e como a gestão privada sob supervisão pública poderia colaborar com o ambiente carcerário. "Alguns problemas me intrigam, como a deficiência da gestão do governo de forma geral. Não tenho interesse em ser especialista num setor específico. Quero entender a mecânica que faz governos trabalharem melhor. Estou preocupado com o que pode dar certo ou não", afirma. Cabral trocou um emprego no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, em 2003, pela academia. E o tema que escolheu está na ordem do dia. "A questão da eficiência estava confinada à administração de empresas, mas nos últimos 30 anos houve um ‘boom’ de outras formas de organização do governo junto com a iniciativa privada. É algo que temos de entender." Para isso, escolheu o viés da gestão, em especial em administração estratégica. O renomado Strategic Management Journal terá um número especial sobre estratégia na administração pública. Cabral será um dos editores responsáveis nessa publicação. "A área de interface empresa e governo tem uma demanda para melhor elaboração conceitual. Não há fórmula pronta, mas é possível avaliar sob quais circunstâncias isso funciona. Por exemplo, com agências reguladoras isentas, com regras bem definidas, transparência e competência de gestão", diz Cabral. "Tudo isso precisa estar presente para funcionar – do desenho do contrato até a supervisão". Um dos trabalhos de Cabral, quando ainda estava na Universidade Federal da Bahia, foi sobre os estádios da Copa de 2014. O senso comum é que a Copa foi um fracasso. "Não foi bem assim. A operação do evento foi muito boa", diz. Depois de liderar uma equipe que estudou os 12 estádios da Copa de 2014, assim como conhecer as experiências da Alemanha…
Com base em sua trajetória, Fernando Gabeira aponta soluções para cenário político
Jornalista, ativista, ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro, intelectual, escritor de vários livros, entre eles O que é isso, companheiro?, vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura. O currículo de Fernando Gabeira é vasto e instigante. Talvez seja por isso que ele conseguiu lotar o auditório Steffi e Max Perlman, do Insper, mesmo com o frio da noite paulistana do dia 23 de maio de 2016. O evento realizado pelo CLI – Centro de Liderança e Inovação do Insper tinha como proposta principal a compreensão da crise atual e possíveis soluções para o futuro. Na prática, Gabeira relembrou um pouco sua história e ainda deu sua opinião sobre o cenário político atual. A conversa foi mediada pelos professores do Insper e integrantes do CLI, Carlos Melo e Fernando Schüler. A figura do líder Melo abriu o evento indagando Gabeira sobre a liderança política brasileira, pois, para ele, há uma grande crise neste quesito. Em resposta, o jornalista relembrou um comício em Caruaru (PE) logo no início do movimento Diretas Já que contou com a presença de políticos como Fernando Collor de Mello, Mário Covas, Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva. “Estava evidente que tinham duas estrelas no palanque: Collor, que vinha em uma trajetória como o ‘Caçador de Marajás’, e Lula, que apresentava sua proposta de ética na política”, disse. “Hoje, olhando para trás, os dois foram ‘lavados a jato’. Embora reconheça a responsabilidade de cada um, me pergunto se não há muitas armadilhas no caminho e se não precisamos retirá-las para que líderes possam surgir de forma espontânea”. Para Gabeira, o Brasil não teve grandes líderes em sua história moderna. Isso porque o próprio processo político não necessitava de tais figuras. O que o país precisava mesmo era que alguém tomasse o poder e distribuísse cargos. E, nesse caso, uma pessoa que apenas conduzisse o processo já estava apta. “Sabemos que o Brasil precisa de líderes. Mas essa ansiedade nos arrasou. Foram exatamente líderes carismáticos e muito poderosos que nos levaram para o buraco”, afirmou. Esquerda vs. Direita Gabeira não mede palavras ao dizer que hoje não há grandes conflitos entre esquerda e direita. Para o ex-deputado federal, a briga presenciada durante o processo de impeachment da – presidente Dilma Rousseff pode ser considerada apenas um episódio nostálgico. “Quem quiser, aproveite, pois talvez não vejamos mais esse tipo de embate”, comentou. “Hoje, na verdade, essa denominação nem é mais importante.” O jornalista acredita que a separação não é primordial já que não distingue mais ideais. Atualmente, não dá para alegar que apenas a esquerda se preocupa com temas sociais, como uma aposentadoria digna. Uma direita progressista também será sensível…
Composição de corregedorias afeta conclusão de processos
Corregedorias são departamentos voltados a orientar e fiscalizar o comportamento de policiais. Contudo, como muitos órgãos públicos, sofrem o dilema de quem "guarda os guardiões" – um típico problema organizacional que ocorre quando os agentes monitores são provenientes do mesmo grupo de agentes a serem monitorados (por exemplo, policiais monitorando policiais, juízes monitorando juízes, etc). Nesse cenário, naturalmente, pairam dúvidas acerca da imparcialidade das investigações, uma vez que o corporativismo pode falar mais alto fazendo com que os monitores favoreçam seus colegas envolvidos em determinados desvios. Tal comportamento pode explicar porque certas reclamações contra policiais se sustentam e outras não – e se essas reclamações acarretam consequências severas aos investigados. No contexto de corregedorias, julgamento e punição tendem a estar nas mãos de policiais que foram ou voltarão a exercer deveres comuns. Dessa forma, policiais podem usar canais de influência para obstruir provas e afetar julgamentos. Da mesma forma, comissões de investigação podem deixar de punir colegas no topo da carreira ou se fazerem de cegos diante de certos desvios considerados "normais" entre policiais, como agressão de suspeitos. Sandro Cabral e Sérgio G. Lazzarini se valeram de informações detalhadas de processos administrativos contra policiais brasileiros suspeitos de desvios de conduta em estudo que analisou 639 processos disciplinares, realizados entre 1999 e 2006. As investigações tiveram início na Polícia Civil de um determinado estado brasileiro e foram encaminhadas para um órgão de Corregedoria Geral desse mesmo estado, responsável por supervisionar todas divisões policiais estaduais. De acordo com a lei do estado avaliado, as investigações devem ser concluídas em até quatro meses; no entanto, a média de duração é de 18 meses e, em algumas instâncias observadas, ultrapassaram a marca de oito anos. A análise foi feita em dois estágios: o primeiro examinou fatores que afetam a conclusão das investigações e o segundo, o resultado final. A velocidade da conclusão também foi levada em conta. Enquanto certos procedimentos adotados pela corregedoria aceleram as investigações, características como o status e tempo de permanência no emprego do oficial, assim como o tipo de acusação, afetam de maneira significativa o veredito final, sugerindo parcialidade relacionada ao tipo de desvio e ao perfil do policial investigado. Os dados também revelam que cobertura intensa da imprensa cria maiores chances de um policial ser condenado – uma explicação é que apenas casos mais severos são cobertos pela mídia. Outra é a pressão externa. Demanda por maior responsabilização das instâncias do estado manifestam a preocupação crescente da sociedade com a performance e a execução correta do serviço público. Comissões formadas com policiais especializados, fixos, investigam e julgam casos com maior efetividade do que comissões formadas por membros temporários. Não…
E agora, Brasil? O país para além dos limites do presente
Com o objetivo de constituir um debate sobre o cenário político, jurídico e econômico atual do país e trazer soluções para esse quadro, o evento E agora, Brasil? realizado pelo Centro de Liderança e Inovação reuniu especialistas em19 de maio de 2016. A discussão foi mediada pelos professores - Carlos Melo, cientista político do Insper e Fernando Schüler, professor titular da Cátedra Insper e Palavra Aberta. Os participantes convidados para a conversa foram José Roberto Mendonça de Barros, economista e fundador da MB Associados; Oscar Vilhena, diretor da escola de direito da FGV. A Constituição de 1988 A ideia do debate não se resumiu a um exercício de futurologia, mas numa reflexão sobre alternativas para que o Brasil se torne um país que ofereça serviços sociais de forma sustentável economicamente e politicamente. Uma das alternativas apontadas no evento foi a reformulação da Constituição de 1988. Isso porque, segundo Schüler, a crise do setor público brasileiro tem em sua raiz algumas escolhas tomadas no final dos anos 1980. “Enquanto o mundo vivia uma grande revolução liberal, nós optamos por um modelo de um estado provedor”, afirmou o professor -. “O Brasil criou uma Constituição democrática, resultado da cultura política da época, mas erramos na modulação de nosso sistema de gestão pública”. Vilhena foi além e destacou que a Constituição é apenas o resultado da desconfiança de setores no jogo democrático. “Ela se diferencia de boa parte das criadas pelo mundo, pois há interesses particulares entrincheirados”, garantiu o diretor da escola de direito da FGV. Para ele, uma possível solução é adotar o modelo dos Estados Unidos. “Eles possuem o molde ideal, que organiza federações, separa poderes e processos de reformas. Não há direitos, pois o país não tinha um consenso de quais seriam corretos”, comentou. Vale lembrar também que a mentalidade da sociedade brasileira mudou bastante de 1988 até hoje. “Alargamos nossa concepção do que um direito significa e qual a relação que se tem com os outros e com o Estado”, disse Vilhena. “Isso muda a expectativa que a sociedade tem sobre seu Estado, os serviços públicos e o modo como a lei é aplicada àqueles que se safam impunes”. Um dos acontecimentos destacados por Vilhena e que exemplifica essa mudança de expectativas da sociedade é a Operação Lava Jato. “Ela só ocorreu porque teve por trás um sistema jurídico que adquiriu autonomia com pessoas que foram formadas depois dos anos 2000 e que tinham percepção de como aplicar o direito de maneira igualitária”, afirmou. Outro ponto lembrado pelos participantes do evento foram as manifestações de 2013. A pressão dos protestos motivados pelo preço da passagem de ônibus forçou o…
A cadeia de saúde suplementar no Brasil
Aconteceu no Insper no dia 6 de maio o seminário “A cadeia de saúde suplementar o Brasil: avaliação de falhas de mercado e propostas de políticas”, organizado pelo Centro de Estudos em Negócios. O professor Paulo Furquim de Azevedo apresentou os resultados de uma pesquisa inédita sobre o setor, que identificou as principais causas de perdas nessa cadeia e o que pode ser feito para reduzi-las. O estudo foi elaborado em parceria com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), que também apoiou o evento. O seminário contou, ainda, com uma apresentação de Lenise Barcellos de Mello Secchin, da Agência Nacional de Saúde (ANS), sobre os desafios e perspectivas para a saúde suplementar e, ao final, com uma mesa de debates composta por representantes de hospitais e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Confira a cobertura completa do evento acessando este link. Acesse também a pesquisa completa: A cadeia de saúde suplementar no Brasil O evento foi transmitido por nosso canal no Live stream. Assista.
CRM sozinho não é efetivo em PMEs
O uso de ferramentas de gestão de relacionamento, utilizadas para analisar e conhecer os clientes, em especial a mais conhecida delas, o Customer Relationship Management (CRM) nem sempre funciona quando aplicados em pequenas e médias empresas. Esta é a conclusão da dissertação de mestrado em Administração de Mayumi Kawakami Fores, no Insper, chamada Conhecer o Cliente Vale a Pena? Estudo de caso de implantação de CRM analítico em PME brasileira, com orientação do professor Silvio Laban Neto. Mayumi estudou o efeito da implantação do CRM em uma empresa média, do setor de instrumentação analítica. Ela coletou dados transversais e utilizou a técnica econométrica de análise de dados do painel – uma série temporal para cada registro do corte transversal do conjunto de dados, antes e depois da implantação da ferramenta, ao longo de cinco anos, entre 2009 e 2014. A aluna elegeu três variáveis: ticket médio (a média de valor gasto pelo cliente pela quantidade de produto comprado) cross-selling (o comportamento de compra do cliente de produtos ou serviços adicionais da mesma empresa) e retenção de clientes (a repetição de compra). "A implantação isolada da tecnologia do CRM analítico mostrou resultados negativos para o relacionamento da empresa com o cliente", registrou Mayumi. O trabalho de Mayumi é pioneiro, pois existem poucos estudos sobre o impacto da CRM em empresas de porte pequeno e médio – ainda que representem 27% do Produto Interno Bruto brasileiro e empreguem 52% da força de trabalho com carteira assinada. "Apesar dos resultados mostrarem insucesso da ferramenta, a pesquisa sugere como as peculiaridades estruturais e organizacionais das PMEs devem ser levadas em conta na implantação do CRM analítico", afirma Mayumi. "Assim como nas grandes empresas, a implementação não pode ser tratada apenas como uma tecnologia, mas deve haver envolvimento de recursos humanos e adequação de todos os processos que têm algum tipo de envolvimento com o resultado final para o cliente" No caso estudado, não houve aumento do ticket médio (os números, na verdade, registram uma pequena queda), o cross-selling quase não se alterou e a retenção de clientes foi negativa, ainda que estatisticamente irrelevante. Entre os fatores listados para a pouca efetividade do CRM, Mayumi chama a atenção para a falta de recursos na área de marketing. "Mesmo que haja abundância de dados disponibilizados dos clientes através da ferramenta implementada, não serão úteis se não houver expertise para interpretá-los", escreveu. "Ao contrário, o excesso de informação não objetiva pode atrapalhar a tomada de decisão." Entre as conclusões para a não efetividade do CRM na média empresa estudada, Mayumi afirma que "ao contrário das grandes empresas, fatores críticos de sucesso na implementação da ferramenta são intensificados…
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