CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL
A eclosão da pandemia do novo coronavírus, o Sars-Cov-2, desafia a comunidade científica e as autoridades de saúde a produzirem respostas rápidas para um fenômeno pouco conhecido. Faltam dados consolidados sobre a extensão dos infectados, sem os quais as taxas de risco apuradas e divulgadas até agora ainda são aproximações.
A lacuna, entretanto, não tem anulado a formação paulatina de concordância científica e sanitária, principalmente pelo fato de a pandemia provocar uma corrida súbita aos serviços de saúde, cuja saturação desencadeia ela própria a elevação da mortalidade.
Publicado em 16 de março, um estudo do Imperial College, do Reino Unido, produziu grande impacto nesse debate. Estimou que, mesmo adotado o conjunto mais draconiano de restrições à circulação de pessoas, a capacidade dos sistemas de saúde britânico e dos Estado Unidos seria superada em oito vezes no pico das infecções.
Dez dias depois, o mesmo grupo em torno do centro londrino divulgou projeções sobre os efeitos das estratégias de contenção mais severas para diversos países e regiões.
Se as medidas forem adotadas cedo, quando a taxa semanal de mortes não ultrapassa 2 por milhão de habitantes, cerca de 38 milhões de vidas seriam poupadas. Se ocorrerem mais tarde, com a mortalidade a 16 por milhão, evitariam em torno de 30 milhões de óbitos no mundo. O cálculo toma por base um cenário hipotético em que nenhuma ação restritiva é implementada para deter a velocidade do contágio, num período de 250 dias.
Embora essas publicações estejam influenciando a política pública inclusive em nações, como os EUA e o Reino Unido, que resistiam a adotar intervenções mais profundas na movimentação popular, suas bases e suas conclusões não deixaram de ser questionadas.
Um exercício de especialistas da Universidade de Oxford, também no Reino Unido, sugere que a infecção naquele país começou em janeiro, um mês antes do primeiro caso registrado. O espalhamento, em meados de março, teria ultrapassado 50% da população, freando novas infecções, pois o vírus teria cada vez menos pessoas não infectadas em quem se instalar, e indicando carga mais suportável para a infraestrutura de saúde.
Algumas premissas do modelo esboçado pelos pesquisadores de Oxford também foram questionadas, num debate que deve ficar mais adensado com o correr dos próximos meses e com a evolução dos processos de revisão por pares da academia.
A crítica aos trabalhos pioneiros, que hoje orientam os governos na pandemia, alerta para a necessidade de pesquisas demográficas representativas, destinadas a estabelecer a prevalência do novo coronavírus nas populações e subpopulações nacionais.
Essa informação, associada a outras que têm sido buscadas por equipes de pesquisa em todo o mundo, pode ser importante para instruir as estratégias públicas de convivência com a doença depois que a fase dos confinamentos rígidos se exaurir.
A depender da proporção de pessoas sãs já infectadas pelo patógeno, e supostamente imunes a um novo contágio, será possível tomar decisões mais bem fundamentadas sobre o retorno às atividades normais de estudo, trabalho e lazer.
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