CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL
O novo coronavírus tem se mostrado perigoso principalmente para quem está acima dos 60 anos. E são justamente pessoas dessa faixa etária que tendem a reduzir os cuidados de prevenção quando são confrontadas com dados com viés otimista sobre a pandemia.
Estudo realizado no fim de março deste ano, logo após pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, demonstrou que propagar cenários parciais acerca da Covid-19 afeta a reação de brasileiros em relação à doença.
A pesquisa foi conduzida por Carolina Melo, doutoranda em economia dos negócios, e Sandro Cabral, coordenador do mestrado em políticas públicas, ambos do Insper.
Foi utilizado o método conhecido como “randomized control trial”, ou RCT na sigla em inglês. Os 571 adultos que aceitaram responder a um questionário foram divididos em três grupos de forma aleatória, como em um sorteio. Cada grupo recebeu uma mensagem inicial diferente com dados e informações sobre a pandemia e depois responderam a três questões. A única diferença entre os três foi a mensagem inicial recebida. Assim, foi possível inferir quais diferenças observadas nas respostas podem ser atribuídas a diferenças nas mensagens.
O primeiro grupo recebeu a seguinte mensagem: “Vamos falar especificamente sobre a pandemia do novo coronavírus. Segundo a OMS e dados disponíveis até 25 de março, o vírus já atingiu 196 países, e a sua taxa de letalidade é de 4,46%. No entanto, ela pode variar bastante entre os países”.
Os outros dois se viram diante desse mesmo trecho, porém com a inclusão de informações no final.
Levou-se ao segundo grupo um quadro considerado pelos pesquisadores como mais realista –e mais pessimista– a respeito da gravidade da doença: “Na Itália e na Espanha, por exemplo, a taxa de letalidade é maior. Na Itália, é de 9,86% e, na Espanha, de 6,79%”.
Para o terceiro, houve o acréscimo de dados que amenizam a situação –e que, segundo os autores, são mais otimistas: “Na Noruega e na Austrália, por exemplo, a taxa de letalidade é mais baixa. Na Noruega, é de 0,39% e, na Austrália, de 0,33%”.
Depois de lerem a mensagem, todos responderam a três questões. Uma abordava o nível de preocupação do entrevistado com a pandemia. Outra buscava saber se considerava o isolamento social um exagero. A última, se pretendia ou não intensificar medidas de proteção diante da expectativa de aumento de casos no país.
Entre os resultados obtidos, chama a atenção os que foram apurados entre as pessoas mais velhas.
Participantes acima de 60 anos expostos à mensagem mais otimista se mostraram menos propensos a reforçar os cuidados do que aqueles da mesma idade que viram só a mensagem geral, ou seja, sem menção às taxas de letalidade dos cenários mais otimista ou mais pessimista.
Por outro lado, se confrontados com o mais pessimista –o que apresenta taxas de Itália e Espanha–, os mais velhos relevaram uma menor tendência do que os jovens a considerar o isolamento social um exagero.
Os pesquisadores também verificaram reações distintas ao analisar as respostas por escolaridade e faixa de renda.
Expostas ao cenário mais pessimista, pessoas com ensino superior indicaram uma menor disposição para intensificar ações para se proteger do vírus e evitar a sua propagação.
Quando houve o recorte por renda, participantes das classes A e B que leram o texto mais otimista apresentaram uma menor preocupação com a disseminação da Covid-19 do que os mais pobres.
Ainda que o estudo não tenha como objetivo gerar conclusões representativas do comportamento de toda a população brasileira, os resultados indicam que, ao menos para o grupo de pessoas que respondeu ao questionário, a qualidade da informação recebida afeta a forma como as pessoas enxergam a gravidade da pandemia e a necessidade de ações restritivas.
O estudo chama a atenção para a importância de geração e disseminação de informações baseadas em evidências e realistas sobre a pandemia.
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