O estudo Estimando Custos na Base da Pirâmide: Dados Sobre Entrega de Produtos em Favelas Brasileiras, realizada pelo aluno Francisco Toledo Muzetti, analisou como o preço, o tempo e a disponibilidade de oferta do serviço de transporte de determinados produtos aumenta dentro de favelas em comparação com as áreas vizinhas. O estudo fez parte do programa de Iniciação Científica da bolsa PIBIC Insper 2018.
“Há um grande mercado consumidor em potencial vivendo nos centros urbanos em áreas de pobreza, especialmente em países emergentes. As empresas estão desenvolvendo estratégias para incorporar esse mercado da Base da Pirâmide, mas é preciso compreender melhor como essas companhias superam os diversos desafios de vender produtos a essa classe”, defende Muzetti.
Atualmente, mais da metade da população mundial já vive em áreas urbanas e, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), esse número deve aumentar para mais de 65% até 2030, saltando para mais de 70% até 2050. Acompanhando esse processo, a população moradora de favelas também deve crescer no Brasil e enxergá-la como um mercado consumidor é estratégico para a economia do país.
De acordo com o Data Favela, cerca de 12 milhões de pessoas vivem em favelas segundo levantamento de 2013. O estudo evidencia que olhar para esse consumidor se tornará cada vez mais importante. Identifica-se o crescimento da renda desses moradores, cuja média salarial aumentou 12% a mais em relação a do restante do país somente entre 2003 e 2013. A renda anual das favelas brasileiras é de mais de R$ 63 bilhões de acordo com dados do IBGE de 2010, o que pode ser comparado ao consumo anual de um país inteiro como o Paraguai e a Bolívia, por exemplo.
Esses dados já evidenciam um impacto significativo para a movimentação da economia do país, posicionando essas regiões como importantes áreas de consumo em potencial. Mas eles não vêm isolados, o aumento da população em ambientes urbanos vem acompanhado do crescimento da população moradora em favelas no Brasil. “O aumento das cidades pressiona o mercado imobiliário local, aumentando o preço das moradias. Além disso, o próprio aumento de renda leva a uma maior procura de casas, aumentando novamente seus preços”, explica Muzetti.
Mas para chegar a este mercado, as empresas precisam superar desafios, em especial a falta de segurança. Atualmente, 80% das compras feitas pelos moradores acontecem dentro das próprias comunidades.
A falta de segurança agrava-se proporcionalmente aos preços dos produtos. De acordo com a comparação de dados de diferentes serviços de entrega analisados pelo estudo, o custo de frete e o prazo de entrega para endereços dentro das favelas costumam ser mais altos para produtos menores e mais caros, como eletrônicos, que geram maior incidência de roubo.
A dificuldade impacta nas políticas comerciais de grandes empresas para fisgarem esse consumidor. Algumas empresas simplesmente preferem não fazer entregas, mas outras driblam os riscos adotando práticas que equacionem o risco de entrada nas comunidades. Um dos caminhos é adotar métodos de pagamento diferenciados que cobram preços mais altos de frete, exigindo prazos de entrega maior e gerando parcelas mais caras, elevando o valor final do produto.
O autor sugere caminhos para se aumentar o alcance dos serviços de entrega de produtos nessas regiões. “Seria interessante comparar as categorias analisadas com as mais afetadas por roubo de carga no Brasil e conhecer as localidades mais afetadas para aprofundar esse estudo”, conclui.