Entregar produtos na porta do consumidor em favelas pode custar de 20% a 50% mais que em outras regiões da cidade. Os desembolsos associados aos últimos quilômetros da entrega (“last-mile delivery”, no jargão) representam até 40% do custo total das empresas de distribuição.
Por isso, o correto gerenciamento de risco e a adoção de práticas adaptadas às características das comunidades determinam o nível de eficiência dessa atividade empresarial.
Nas favelas, onde cerca de 6% da população brasileira habita, ruas e becos sem nome, casas sem número, locais sem iluminação e maior chance de roubos são alguns dos obstáculos para a entrega aos consumidores. Além de aumentarem o custo do frete, frequentemente também impedem a realização da entrega pela impossibilidade seja de acesso dos veículos, seja de localização do destinatário.
Para entender como as empresas contornam esses obstáculos, um grupo de pesquisadores conduziu uma pesquisa qualitativa com 26 empresas de distribuição que atuam nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em artigo recente, André Duarte e Lars Sanches, ambos do Insper, Cristiano Silva, ex-aluno do Mestrado Profissional em Administração no Insper e doutorando em Sistemas de Transportes no Programa MIT Portugal, e Flavio Macau, da universidade australiana Edith Cowan, encontraram cinco dimensões cruciais para a efetividade da entrega na porta dos consumidores nas favelas.
São elas: empregar pessoas da localidade, relacionar-se bem com a comunidade, conhecer criminosos que porventura atuem na região, fazer o transporte com discrição e usar pontos de entrega flexíveis.

Contratar localmente significa empregar entregadores que conheçam as ruas, a geografia e os moradores e sejam capazes de evitar situações como roubos. Sendo precário o mapeamento de risco em favelas, ter funcionários com bom trânsito local supera as melhores tecnologias de monitoramento.
A segunda dimensão envolve o estabelecimento de uma relação de confiança com os líderes das comunidades mediante engajamento da empresa em ações sociais e realização de doações.
Lidar com grupos de criminosos que eventualmente atuem na região é uma tarefa importante para a redução de roubos. Contribuem para essa finalidade o emprego de funcionários da localidade e o engajamento com a comunidade. Empresas também evitam determinadas regiões e horários e, embora muitas não admitam falar abertamente desse tema, pagam taxas a agentes do crime na região.
Utilizar veículos menores, abastecidos com meia carga, despojados do logotipo da empresa é um modo de não chamar a atenção para o valor transportado, o que reduz o risco de roubos e furtos.
Por fim, por meio da adoção de pontos de entrega intermediários, onde os clientes podem retirar as mercadorias, as empresas deixam de circular em áreas de difícil acesso e com alto risco. Além disso, eliminam a incerteza de não encontrar o cliente em casa.
Os resultados da pesquisa são válidos para o contexto estudado, favelas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Ainda que as cinco dimensões listadas possam indicar caminhos hipotéticos para reduzir os custos da entrega em áreas de favela em geral, mais estudos são necessários para autorizar, ou não, a sua aplicação em outras regiões.
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