Denunciar práticas ilegais em organizações públicas e privadas é essencial para a prática da cidadania e a geração de um futuro mais ético. O grande obstáculo é que essa não é uma tarefa simples, pois é normal que alguns delatores temam retaliações por parte das instituições. E isso ocorre nas duas pontas do processo, tanto em relação aos profissionais que recebem a denúncia como no que se refere aos informantes, que precisam estar preparados para conduzir o processo da melhor forma possível.
Por conta disso existem organizações voltadas exclusivamente à proteção de informantes, como a norte-americana Government Accountability Project (GAP), que oferece defesa judicial e assessoria a mais de cinco mil delatores. Atualmente, o projeto conta com programas de proteção direcionados a funcionários do governo federal dos Estados Unidos, do setor alimentício e das áreas financeiras e corporativas.
A organização também atua com pessoas ligadas ao ramo de segurança nacional. Edward Snowden, por exemplo, foi representado pela GAP. Em 2013, o funcionário do serviço secreto norte-americano causou polêmica ao revelar como o governo dos Estados Unidos espionava líderes mundiais.
Confidencialidade
Encontrar formas para proteger informantes de retaliações é uma tarefa complicada. Beatrice Edwards, especialista em proteção de informantes e ex-diretora executiva da GAP, participou de um evento no Insper no qual destacou que a melhor estratégia para manter o delator seguro é garantir a confidencialidade. O anonimato também pode ser uma opção, mas traz complicações, pois é necessário fazer perguntas e garantir a autenticidade de provas e documentos.
De acordo com a profissional, é preciso ter leis que protejam o delator. Além disso, ele deve ter acesso a um fórum justo, que não deve estar ligado de nenhuma forma à instituição que está sendo acusada.
É importante frisar que organizações como a GAP e executivos de empresas que recebem denúncias também são alvos de pessoas mal-intencionadas. “Alguns delatores tentam plantar notícias sem fundamento. Isso acontece por questões de interesse”, disse Fábio Barbosa, ex-presidente da Abril Mídia e do Banco Real e Santander e atual conselheiro de diversas instituições, incluindo Banco Itaú-Unibanco e Insper.
O especialista brasileiro debateu o tema ao lado de Edwards durante o evento “Os Dilemas do Posicionamento Ético”, promovido pelo Centro de Liderança e Inovação (CLI) do Insper. O encontro ocorreu no dia 18 de abril.
Tipos de delatores
A ex-diretora executiva da GAP afirmou que não existe um perfil específico para definir delatores nos Estados Unidos. Entretanto, é possível identificar algumas categorias mais comuns. Confira no infográfico abaixo:

De olho no futuro
Para Barbosa, as instituições que querem evitar problemas devem criar uma espécie de “cultura de risco”. O conselheiro ressaltou que uma infração aceitável hoje, por exemplo, pode não vir a ser no futuro. O profissional também defendeu que se o funcionário acredita que algo está errado, deve apontar as irregularidades aos supervisores.
“O cenário está mudando e os jovens têm um papel importante, principalmente nas questões ambientais, sociais e éticas”, comentou. “Cabe às novas gerações acabar com a história do ‘on’ e ‘off’. Tudo precisa ser transparente. Temos que estar sempre em ‘on’”, concluiu o conselheiro do Insper.
O evento foi transmitido ao vivo: