Agilidade para decidir é maior desafio de empresa familiar
Organizações familiares têm boa capacidade de lidar com conflitos, apresentam características que as tornam resilientes e proporcionam um ambiente satisfatório para a prosperidade e a continuidade dos negócios. Já o maior desafio está na falta de agilidade para tomar decisões. Esses são os principais resultados de uma enquete feita com o público presente no evento de inauguração da Plataforma de Empresas Familiares, do Insper. A iniciativa tem o propósito de agregar, compartilhar, difundir e fazer avançar o conhecimento acadêmico sobre essas corporações. Na pesquisa, os participantes avaliaram como esse tipo de empresa gerencia conflitos, sustenta a continuidade da prosperidade e gera vantagens competitivas. Neste link, é possível acessar o resultado completo.
Socorro emergencial durante pandemia terá partilha desigual
CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL O custo do pacote sancionado pelo governo federal para socorrer estados, municípios e o Distrito Federal durante a pandemia de Covid-19 pode chegar a R$ 115 bilhões. A soma abrange a transferência direta de dinheiro e o alívio obtido com a suspensão e reescalonamento do pagamento de dívidas. Sua distribuição, porém, ocorrerá de forma desigual. Pesquisador associado do Insper, Marcos Mendes analisou o conjunto de medidas, sua repartição e possíveis consequências. A ajuda financeira tem como objetivo compensar a queda de receita de gestões estaduais e municipais durante a crise provocada pelo novo coronavírus. O pacote expandirá o déficit primário da União em 0,8 ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto). No déficit nominal, o efeito deve ser ainda maior, em decorrência da suspensão do pagamento da dívida de estados e municípios. De toda a soma, R$ 60,15 bilhões serão repassados em dinheiro, em quatro meses. Mais da metade desse valor, R$ 50,15 bilhões, não tem seu uso vinculado a uma área, ou seja, pode ser gasto conforme a orientação dos gestores locais. Os demais R$ 10 bilhões devem ser aplicados em saúde e assistência social. Todos esses valores serão repartidos entre estados e cidades. Parte da fórmula dessa divisão é um dos principais pontos criticados por Mendes. A receita de municípios com ISS (Imposto sobre Serviços), principal tributo municipal, corresponde a cerca de 15% da que estados têm com ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços), principal tributo estadual –a arrecadação com ambos deve recuar neste ano devido à redução da atividade econômica desencadeada pela pandemia. Contudo, na partilha da verba sem vinculação, prefeituras receberão 40%, enquanto governos estaduais e o Distrito Federal, 60%. Com isso, as cidades serão desproporcionalmente beneficiadas em comparação aos estados. A disparidade se repete na distribuição entre os estados. Em média, a ajuda às administrações estaduais corresponde a 19% do total arrecadado com o ICMS no ano passado. Mas as fatias reservadas a cada um deles no socorro são diferentes. Com o critério adotado para distribuição dos recursos, estados como Amapá, Roraima e Acre receberão o equivalente a 78%, 56% e 49% da receita anual estadual com o tributo, respectivamente. Já as parcelas para Paraná e Santa Catarina ficam em 9%. Para a Bahia, 10% Como o mesmo critério estabelecido para repartir os recursos sem vinculação entre os estados será aplicado aos municípios, prefeituras amapaenses, roraimenses e acreanas também vão embolsar, proporcionalmente, mais dinheiro. Em sua análise, Mendes lista ainda outros pontos negativos do socorro financeiro. Um deles é a inclusão de um dispositivo que institui uma espécie de reserva de mercado,…
Embates políticos em meio a epidemias marcaram início da República
Desinfectórios, como este instalado em Campinas, no interior paulista, tinham como tarefa tentar conter o avanço da febre amarela CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL Doenças infecciosas mal conhecidas se espalham e matam. Por causa das suas repercussões, instâncias do governo entram em conflito. A reação à epidemia prejudica os negócios. Eclodem pressões para que autoridades ampliem serviços sanitários e aliviem a tributação de empresas em dificuldade. Políticos são acusados de gastos desnecessários em meio à emergência. Todos esses elementos, presentes na crise do novo coronavírus, também ocorreram na última década do século XIX, a primeira da vigência do regime republicano no Brasil. Estavam associados, como hoje, a uma aceleração na circulação de pessoas, o que levava patógenos, antes confinados em uma região, para outras em que eles ainda não eram prevalentes. Em São Paulo, a interiorização da exploração do café e das ferrovias e a entrada de milhares de imigrantes europeus para trabalhar nessas lavouras vinham ocorrendo aceleradamente quando ascendeu a República no Brasil. Esses fatores também foram responsáveis pela disseminação de epidemias pelo país. O vírus da febre amarela se implantou nas Américas, vindo da África ocidental com o tráfego de escravos, há cerca de 300 a 400 anos. Mas seus surtos urbanos, que ficaram durante muitos anos contidos nas faixas litorâneas, só ultrapassaram a Serra do Mar em 1889, levados pelos imigrantes que, do porto de Santos, tomavam os caminhos de ferro para trabalhar nas plantações, especialmente de café, do interior paulista. Trajetos de estradas de férreo e de navegação fluvial no estado de São Paulo em 1896 Os ramais do transporte ferroviário, que se expandiam para alcançar as terras novas de cultivo agrícola, também foram espalhando focos da doença pelo trajeto. Ao mesmo tempo, uma nova conformação do Estado estava em processo após a proclamação da República e a Constituição de 1891. O modelo federalista, com a criação dos estados, no lugar das províncias existentes no Império, e a transferência de impostos de exportação que dariam mais recursos e autonomia a governos regionais, animava uma parte desse movimento de transformação. Embora o conhecimento científico sobre os micróbios e os mecanismos de transmissão de doenças contagiosas já estivesse avançando, na década de 1890 ainda não se sabia que o mosquito Aedes aegypti era o vetor da febre amarela. Tampouco se considerava, como aconteceria décadas depois, a proteção da saúde individual como uma responsabilidade do Estado. O sanitarismo aos poucos se consolidava na intersecção entre institutos de pesquisa e administração pública. Depois de uma primeira onda de infecções, em cidades como Campinas e Sorocaba em 1889, eclodiram surtos mortíferos…
Governo eficiente agora evita o perdulário depois
CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL Quanto mais eficaz, contundente e rápida for a reação governamental à Covid-19, maiores serão as chances de a presença do Estado na economia não se tornar crônica e disfuncional no futuro. Essa é uma das conclusões do artigo Leviathan as a partial cure? (Leviatã como cura parcial?), de Sergio Lazzarini, do Insper, e Aldo Musacchio, da universidade Brandeis (EUA). A emergência provocada pela pandemia desperta uma série de desafios de coordenação difíceis de serem resolvidos pelos mecanismos de mercado. Uma parte da produção terá de ser deslocada ou adaptada para a fabricação de equipamentos e insumos –como respiradores mecânicos, reagentes farmacêuticos, máscaras e luvas– cuja demanda explodiu subitamente. Mas um conjunto de incertezas, sobre quanto durará a procura aquecida ou sobre hipóteses de o governo intervir em preços e propriedade, embaça o cálculo empresarial e desestimula o investimento. Um exemplo são vacinas, cujo desenvolvimento exige um grande volume de recursos, que estariam à mercê de quebras de patentes por autoridades nacionais. A ruptura econômica e financeira provocada pela reação à epidemia também favorece mecanismos clássicos de intervenção e coordenação governamental. Empresas, em especial as menores, impedidas de funcionar pelos confinamentos ou abaladas pelo desabamento da demanda por seus bens e serviços irão à falência sem acesso a socorro emergencial. O terceiro feixe de descoordenação potencial ocorre dentro de instâncias governamentais. Se estados, municípios e a União concorrem em compras e alocação de equipamentos e insumos hospitalares, isso tende a reduzir o poder de barganha coletivo e a favorecer situações em que regiões possam ficar desabastecidas enquanto outras dispõem de recursos em excesso. Todos esses fatores justificam o aumento súbito e tempestivo da ação do aparato estatal, segundo os autores, desde que haja cuidados para evitar sequelas no futuro. Os governos não deveriam, por exemplo, se comprometer com a sustentação artificial de atividades cuja demanda possa sofrer abalos definitivos quando a pandemia tiver passado. É melhor, argumentam, definir apoios financeiros horizontais, por exemplo para todas as pequenas e médias empresas em apuros de caixa, do que escolher setores específicos. Como se trata de uma emergência, todo suporte público extraordinário deveria como regra estabelecer data para ser encerrado, além de estar sujeito a avaliações técnicas de impacto. Na avaliação de Lazzarini e Musacchio, quanto mais longa for a recessão provocada pela Covid-19, maiores serão os riscos de que a presença do Estado na economia se torne ubíqua e disfuncional. No pior e menos provável cenário imaginado, parecido com o ocorrido na Grande Depressão dos anos 1930, ondas de estatização e intervenções arbitrárias do governo em todos os domínios econômicos…
Informação otimista pode elevar exposição à Covid-19
CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL O novo coronavírus tem se mostrado perigoso principalmente para quem está acima dos 60 anos. E são justamente pessoas dessa faixa etária que tendem a reduzir os cuidados de prevenção quando são confrontadas com dados com viés otimista sobre a pandemia. Estudo realizado no fim de março deste ano, logo após pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, demonstrou que propagar cenários parciais acerca da Covid-19 afeta a reação de brasileiros em relação à doença. A pesquisa foi conduzida por Carolina Melo, doutoranda em economia dos negócios, e Sandro Cabral, coordenador do mestrado em políticas públicas, ambos do Insper. Foi utilizado o método conhecido como “randomized control trial”, ou RCT na sigla em inglês. Os 571 adultos que aceitaram responder a um questionário foram divididos em três grupos de forma aleatória, como em um sorteio. Cada grupo recebeu uma mensagem inicial diferente com dados e informações sobre a pandemia e depois responderam a três questões. A única diferença entre os três foi a mensagem inicial recebida. Assim, foi possível inferir quais diferenças observadas nas respostas podem ser atribuídas a diferenças nas mensagens. O primeiro grupo recebeu a seguinte mensagem: “Vamos falar especificamente sobre a pandemia do novo coronavírus. Segundo a OMS e dados disponíveis até 25 de março, o vírus já atingiu 196 países, e a sua taxa de letalidade é de 4,46%. No entanto, ela pode variar bastante entre os países”. Os outros dois se viram diante desse mesmo trecho, porém com a inclusão de informações no final. Levou-se ao segundo grupo um quadro considerado pelos pesquisadores como mais realista –e mais pessimista– a respeito da gravidade da doença: “Na Itália e na Espanha, por exemplo, a taxa de letalidade é maior. Na Itália, é de 9,86% e, na Espanha, de 6,79%”. Para o terceiro, houve o acréscimo de dados que amenizam a situação –e que, segundo os autores, são mais otimistas: “Na Noruega e na Austrália, por exemplo, a taxa de letalidade é mais baixa. Na Noruega, é de 0,39% e, na Austrália, de 0,33%”. Depois de lerem a mensagem, todos responderam a três questões. Uma abordava o nível de preocupação do entrevistado com a pandemia. Outra buscava saber se considerava o isolamento social um exagero. A última, se pretendia ou não intensificar medidas de proteção diante da expectativa de aumento de casos no país. Entre os resultados obtidos, chama a atenção os que foram apurados entre as pessoas mais velhas. Participantes acima de 60 anos expostos à mensagem mais otimista se mostraram menos propensos a reforçar os cuidados do que aqueles da mesma idade que viram…
Novo coronavírus desafia comunidade científica
CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL A eclosão da pandemia do novo coronavírus, o Sars-Cov-2, desafia a comunidade científica e as autoridades de saúde a produzirem respostas rápidas para um fenômeno pouco conhecido. Faltam dados consolidados sobre a extensão dos infectados, sem os quais as taxas de risco apuradas e divulgadas até agora ainda são aproximações. A lacuna, entretanto, não tem anulado a formação paulatina de concordância científica e sanitária, principalmente pelo fato de a pandemia provocar uma corrida súbita aos serviços de saúde, cuja saturação desencadeia ela própria a elevação da mortalidade. Publicado em 16 de março, um estudo do Imperial College, do Reino Unido, produziu grande impacto nesse debate. Estimou que, mesmo adotado o conjunto mais draconiano de restrições à circulação de pessoas, a capacidade dos sistemas de saúde britânico e dos Estado Unidos seria superada em oito vezes no pico das infecções. Dez dias depois, o mesmo grupo em torno do centro londrino divulgou projeções sobre os efeitos das estratégias de contenção mais severas para diversos países e regiões. Se as medidas forem adotadas cedo, quando a taxa semanal de mortes não ultrapassa 2 por milhão de habitantes, cerca de 38 milhões de vidas seriam poupadas. Se ocorrerem mais tarde, com a mortalidade a 16 por milhão, evitariam em torno de 30 milhões de óbitos no mundo. O cálculo toma por base um cenário hipotético em que nenhuma ação restritiva é implementada para deter a velocidade do contágio, num período de 250 dias. Embora essas publicações estejam influenciando a política pública inclusive em nações, como os EUA e o Reino Unido, que resistiam a adotar intervenções mais profundas na movimentação popular, suas bases e suas conclusões não deixaram de ser questionadas. Um exercício de especialistas da Universidade de Oxford, também no Reino Unido, sugere que a infecção naquele país começou em janeiro, um mês antes do primeiro caso registrado. O espalhamento, em meados de março, teria ultrapassado 50% da população, freando novas infecções, pois o vírus teria cada vez menos pessoas não infectadas em quem se instalar, e indicando carga mais suportável para a infraestrutura de saúde. Algumas premissas do modelo esboçado pelos pesquisadores de Oxford também foram questionadas, num debate que deve ficar mais adensado com o correr dos próximos meses e com a evolução dos processos de revisão por pares da academia. A crítica aos trabalhos pioneiros, que hoje orientam os governos na pandemia, alerta para a necessidade de pesquisas demográficas representativas, destinadas a estabelecer a prevalência do novo coronavírus nas populações e subpopulações nacionais. Essa informação, associada a outras que têm sido buscadas por equipes de pesquisa em…
Covid-19 põe à prova sistemas de saúde
CONHECIMENTO| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL A pandemia de Covid-19, a doença causada pelo vírus Sars-CoV-2, é um desafio imediato para os sistemas de saúde dos países porque a velocidade com que se espalha concentra no tempo um volume excepcional de pessoas necessitando de cuidados hospitalares intensivos. É como uma estrada que em poucas semanas tem de suportar o tráfego previsto para um ano. Na China, onde começou, a Covid-19 se expandiu a uma taxa diária média de cerca de 33% durante as primeiras quatro semanas e depois se estabilizou em torno de 80 mil casos confirmados. Estimou-se naquele país que 5% dos acometidos precisaram de internação em UTI. Na Itália, com população mais idosa, um dos fatores de agravamento dos quadros infecciosos, a demanda por cuidado intensivo tem sido de 9% a 11% dos casos notificados. Num estudo sobre os Estados Unidos, a Universidade Harvard estimou que, se 40% dos americanos forem infectados, 40% dos sistemas locais de saúde não suportariam a demanda mesmo se estivessem completamente dedicados a tratar da Covid-19. Cientistas têm feito avanços rápidos, embora a maioria sujeita a consolidação, na detecção das características do patógeno e da doença. O vírus sofreu poucas alterações significativas em sua passagem pelos continentes. Os temores de que pudesse voltar a infectar pessoas curadas da doença não foram confirmados numa pesquisa com macacos. Essas duas características, se confirmadas, facilitam o desenvolvimento de terapias e vacinas e também prognosticam o declínio da epidemia assim que um número crítico de pessoas sejam infectadas e curadas. Um estudo extensivo feito com mais de 72 mil pessoas na China detectou que o perfil de risco está associado a pacientes mais velhos e pessoas fragilizadas por condições preexistentes, como doença cardiovascular, diabetes, deficiência respiratória, hipertensão e câncer. Nesse estudo também se constatou uma demora, de cerca de uma semana, entre a ocorrência da infecção e a notificação do caso pela autoridade de saúde. O dado epidemiológico de outros países, como a Itália, vai confirmando os perfis de risco da China. Médicos atendem paciente com Covid-19 em hospital em Roma, na Itália Em termos dos esforços para diminuir a velocidade de alastramento da infecção e, por conseguinte, para evitar a sobrecarga do sistema de saúde, países como China e Coreia do Sul parecem ter obtido os melhores resultados parciais. Valeram-se de políticas altamente intervencionistas, restringindo drasticamente a circulação de pessoas desde as fases iniciais, aplicaram testes para detectar a doença em larga escala, isolaram os infectados e os suspeitos e ampliaram depressa a capacidade de atendimento hospitalar específico. Já nações europeias ocidentais, onde ocorreu a segunda onda da epidemia, foram menos incisivas nas fases preliminares, mas aumentaram as restrições e a mobilização da política pública conforme os casos foram escalando. O Brasil, onde os casos detectados começaram mais tarde, parece seguir a trajetória…
Governos priorizam gastos para combater enchentes?
Área alagada na região do Cebolão, na zona oeste de São Paulo A cidade de São Paulo gasta, em média, cerca de metade do que é planejado no Orçamento para combater enchentes como as que a castigaram no início deste ano. De 2009 a 2019, as despesas efetuadas com ações para reduzir as cheias atingiram em média 48% do projeto aprovado. Nesse período, ficaram no papel projetos de canalização de córregos, planos de elaboração de projetos de ampliação de redes de galerias de águas pluviais e obras de contenção de muros, conforme dados da prestação de contas do Orçamento paulistano. Todos esses dados estão disponíveis para consulta no site da prefeitura e revelam o que as gestões têm priorizado nos últimos anos. “Às vezes, a sociedade civil pressiona na Câmara para que a prefeitura se comprometa com um investimento, mas não acompanha as escolhas orçamentárias feitas a partir daí”, afirma Mariana Almeida, professora do curso de planejamento e acompanhamento de orçamento público no Insper. Mesmo aprovada, a previsão orçamentária deve ser considerada somente como um ponto de partida. “Muitas escolhas serão feitas no dia a dia e determinam se um investimento vai mesmo sair ou não. E, quando o caminho parece indicar que a escolha foi por não fazê-lo, isso pode ser observado por meio do acompanhamento dos dados públicos", acrescenta a professora. Essa informações constam do Orçamento municipal, que reúne as estimativas de receitas, a exemplo da arrecadação com impostos, e de despesas, como o pagamento de salários de servidores e da execução de obras. O projeto é definido todo ano pelo Executivo em conversas com a Câmara e sua execução é atualizada no site da prefeitura. Execução significa pôr em prática o que foi discutido e, consequentemente, gastar o dinheiro. Porém, antes de decidir se vai desembolsá-lo ou não, a prefeitura avalia os recursos que terá. Além disso, parte do Orçamento já nasce com fatias comprometidas com despesas obrigatórias, como os gastos mínimos com saúde e educação e o pagamento de salários para funcionários que prestam o serviço no dia a dia, de aposentadorias e de precatórios “O Executivo acompanha esse cenário para determinar quanto deve liberar das despesas não-obrigatórias. E boa parte dos investimentos acaba ficando no final dessa fila", diz Mariana. No caso das medidas de combate a enchentes na cidade de São Paulo, por exemplo, raros são os anos da última década em que a execução de investimento se aproximou do valor total orçado. Ponto de alagamento na avenida Marquês de São Vicente, na zona oeste paulistana “Como o modelo orçamentário brasileiro é autorizativo, e não impositivo, é legítimo que a taxa fique abaixo…
Eleger prefeita eleva participação das mulheres na administração pública
Como os cargos públicos são ocupados quando um município elege uma mulher para chefiar o Executivo? Ela se cerca de homens para assessorá-la, como uma abelha rainha rodeada de zangões? Ou, pelo contrário, nomeia mais mulheres para altos postos administrativos? Essas foram as perguntas de “The queen bee: A myth? The effect of top-level female leadership on subordinate females”, estudo de Paulo Roberto Arvate (EAESP-FGV), Gisele Walczak Galilea (Insper) e Isabela Todescat (EAESP-FGV). Avaliaram 8,3 milhões de organizações municipais brasileiras, públicas e privadas, de 2000 a 2008. Concluíram que a história da abelha rainha –hipótese que ficou famosa após o padrão de nomeações masculinas de Margaret Thatcher, premiê britânica de 1979 a 1990— não é a regra nos municípios do Brasil. Abelha rainha é a mulher que observa a valorização de traços estereotipados como masculinos para postos de liderança e se cerca de homens para projetar-se na carreira. É a atitude deliberada da chefe de se distanciar das demais mulheres, cujas chances de assumirem cargos de alta hierarquia ficam por isso diminuídas. Efeito direto desse comportamento é a reduzida quantidade de mulheres em cargos de comando. Mas nem toda escassez de chefias femininas deriva desse fenômeno. Às vezes, as chefes podem estar rodeadas de homens simplesmente porque há poucas mulheres com habilidades necessárias para exercer as funções. É preciso, portanto, tentar isolar o vetor da abelha rainha de outros que também possam interferir no resultado. Para isso, os autores comparam municípios onde a disputa eleitoral entre um homem e uma mulher pela prefeitura foi acirrada. Nesses casos, a pequena diferença de votos entre vencedor e derrotado sugere que a população não demonstrou nenhuma preferência explícita entre ter um homem ou uma mulher na prefeitura. O fato de um dos dois ter vencido equivale a um lance de sorte. Na comparação com municípios chefiados por homens, a gestão das prefeitas eleva a participação feminina nos cargos de destaque da máquina pública. Esse efeito persiste nas nomeações para escalões inferiores, sugerindo a ação indireta do exemplo que vem de cima. Esse efeito exemplar do setor público, contudo, não parece influenciar o setor privado. As empresas não aumentam a participação feminina em posições de maior status nos municípios em que uma prefeita foi eleita. Ainda que o efeito seja restrito aos cargos em que a prefeita detém poder de nomeação, os resultados indicam que o comportamento de abelha rainha é inexpressivo. Pelo contrário, mulheres em altos cargos públicos criam um ambiente favorável ao desenvolvimento de outras mulheres. Acesse o estudo: The queen bee: A myth? The effect of top-level female leadership on subordinate females
Como chegar à porta do consumidor com eficiência nas favelas
Entregar produtos na porta do consumidor em favelas pode custar de 20% a 50% mais que em outras regiões da cidade. Os desembolsos associados aos últimos quilômetros da entrega (“last-mile delivery”, no jargão) representam até 40% do custo total das empresas de distribuição. Por isso, o correto gerenciamento de risco e a adoção de práticas adaptadas às características das comunidades determinam o nível de eficiência dessa atividade empresarial. Nas favelas, onde cerca de 6% da população brasileira habita, ruas e becos sem nome, casas sem número, locais sem iluminação e maior chance de roubos são alguns dos obstáculos para a entrega aos consumidores. Além de aumentarem o custo do frete, frequentemente também impedem a realização da entrega pela impossibilidade seja de acesso dos veículos, seja de localização do destinatário. Para entender como as empresas contornam esses obstáculos, um grupo de pesquisadores conduziu uma pesquisa qualitativa com 26 empresas de distribuição que atuam nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em artigo recente, André Duarte e Lars Sanches, ambos do Insper, Cristiano Silva, ex-aluno do Mestrado Profissional em Administração no Insper e doutorando em Sistemas de Transportes no Programa MIT Portugal, e Flavio Macau, da universidade australiana Edith Cowan, encontraram cinco dimensões cruciais para a efetividade da entrega na porta dos consumidores nas favelas. São elas: empregar pessoas da localidade, relacionar-se bem com a comunidade, conhecer criminosos que porventura atuem na região, fazer o transporte com discrição e usar pontos de entrega flexíveis. Contratar localmente significa empregar entregadores que conheçam as ruas, a geografia e os moradores e sejam capazes de evitar situações como roubos. Sendo precário o mapeamento de risco em favelas, ter funcionários com bom trânsito local supera as melhores tecnologias de monitoramento. A segunda dimensão envolve o estabelecimento de uma relação de confiança com os líderes das comunidades mediante engajamento da empresa em ações sociais e realização de doações. Lidar com grupos de criminosos que eventualmente atuem na região é uma tarefa importante para a redução de roubos. Contribuem para essa finalidade o emprego de funcionários da localidade e o engajamento com a comunidade. Empresas também evitam determinadas regiões e horários e, embora muitas não admitam falar abertamente desse tema, pagam taxas a agentes do crime na região. Utilizar veículos menores, abastecidos com meia carga, despojados do logotipo da empresa é um modo de não chamar a atenção para o valor transportado, o que reduz o risco de roubos e furtos. Por fim, por meio da adoção de pontos de entrega intermediários, onde os clientes podem retirar as mercadorias, as empresas deixam de circular em áreas de difícil acesso e com alto risco. Além disso, eliminam…
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