Nos últimos 40 anos, o Brasil registrou um ritmo de crescimento per capita equivalente a pouco mais da metade do ritmo dos Estados Unidos. Esse desempenho contrasta com o resultado brasileiro da primeira metade do século XX, quando a produção do país se expandia como mais vigor em comparação a nações mais desenvolvidas, como a americana.
Na tese de doutorado que apresentou em 1974, na Universidade de Chicago, Claudio Haddad apresenta estimações para desempenho econômico do Brasil de 1900 a 1947. Como este último ano marca o momento em que o PIB (Produto Interno Bruto) começou a ser calculado de forma sistemática e padronizada, havia dificuldades de saber como a atividade tinha se comportado antes disso.
A partir da série pioneira de dados formulada por Haddad, o Insper Conhecimento agregou informações oficiais das contas nacionais e da demografia e realizou um exercício para ilustrar o desempenho do PIB per capita brasileiro de 1901 a 2019. Foram utilizadas médias móveis de cinco anos (a taxa mostrada é sempre uma média geométrica dos cinco anos anteriores) para destacar melhor os diversos períodos e comparar a evolução do Brasil com a dos Estados Unidos.
O trabalho de Haddad é uma minuciosa reconstrução do volume total de produção no país em cada ano do período com base em informações setoriais da agricultura, da indústria, de transportes e comunicações, do comércio e também do governo em todas as suas esferas. Foi o primeiro a apontar que na primeira metade do século XX, a economia brasileira rompeu a paralisia que havia predominado no anterior e começou a acelerar. A produção por habitante elevou-se mais depressa que em nações mais desenvolvidas, o que deu início à recuperação do atraso relativo do Brasil.
Quando encontrou lacunas nos dados, Haddad recorreu a técnicas de estimação estatística para preenchê-las. O método de cálculo escolhido, baseado no que foi desenvolvido pelo economista francês François Divisia (1889-1964), tem a vantagem de incorporar mudanças na estrutura dos bens produzidos no país ao longo dos anos.
Com o acréscimo de dados demográficos, chega-se à evolução da produção per capita, um indicador mais apropriado para avaliar o enriquecimento do Brasil comparado ao de outras nações em períodos mais longos.
Considerando alguns subperíodos escolhidos ao longo dos últimos 119 anos, o desempenho brasileiro supera o americano em todas as comparações destacadas, com exceção do período historicamente mais recente, de 1980 em diante, em que registra pouco mais da metade do ritmo dos Estados Unidos.