O que faz um economista, afinal? Com esta pergunta, José Roberto Mendonça de Barros provocou o interesse dos novos alunos da graduação do Insper. O economista, com doutorado pela USP e pós-doutorado em Yale (EUA), ministrou aula magna do segundo semestre de 2016.
“Pessoalmente, tive a resposta quando estudava em Yale, ainda em 1973. Um professor convidado da Universidade de Chicago disse: ‘a economia é um processo determinado pela demanda (…) para responder às questões colocadas pela sociedade’. Ou seja, já que a sociedade vive em constante transformação, o trabalho de um economista nunca se esgota”.
Assim, explicou, é fundamental que o economista tenha um profundo entendimento da sociedade e uma visão abrangente do contexto em que os acontecimentos se dão. Ele ressaltou a importância da história e de ‘se olhar para trás’. “O passado ensina sobre como a riqueza de um país foi construída e dá indícios para uma projeção mais acertada”.
Desenvolvimento econômico
Quando o assunto é desenvolvimento, o economista destacou que é preciso dedicar especial atenção às instituições dos países. Elas são importantes para se entender sobre o funcionamento, formação, natureza e dinâmica de uma nação. “Instituições democráticas e inclusivas proporcionam maior potencial de inovação e crescimento”.
A qualidade dessas instituições, acrescentou, está intimamente relacionada ao conhecimento e à estabilidade das regras do jogo. Países em que os agentes econômicos reconhecem as regras de mercado e a competição acontece sem favorecimentos construíram economias robustas. O Brasil certamente avançou nas últimas décadas, mas ainda encontra excesso de intervencionismo estatal e decisões que sugerem políticas especiais para os “amigos do rei”, avaliou.
Assista a aula na íntegra:
Mendonça de Barros lembrou que, mesmo vivendo um período demograficamente favorável, em que a população idosa é pouco representativa, o país tem à frente uma crise fiscal e um sistema previdenciário deficitário. “Estamos perdendo a oportunidade de alavancar o crescimento econômico, o temor é que o país fique velho antes de ficar rico”.
Futuro promissor
Ele admitiu, porém, enxergar um ambiente bastante propenso ao desenvolvimento nos próximos anos. Dois setores, em particular, chamam a atenção: o de serviços, principalmente relativos às chamadas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), e o agronegócio, que bateu recordes de crescimento em 2015. Avaliado como modelo, o desempenho do agronegócio está atrelado ao enfrentamento da competição internacional, além do conhecimento tecnológico impulsionado pela agência de inovação Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
“O Brasil é um país novo e muito aberto para a inovação e o desenvolvimento tecnológico. Se soubermos tirar o melhor proveito de cada oportunidade, poderemos revolucionar muitos segmentos”, avaliou Mendonça de Barros. E completou dizendo que cabe ao economista contextualizar, saber o que é perene e o que é temporário para esboçar novas perspectivas e cenários, concluiu.