Governo deve assumir ações coesas de combate à inflação
Se acreditarmos no que diz a teoria econômica, a decisão do comitê de política monetária do Banco Central de aumentar a taxa de juros de curto prazo deveria elevar o custo de empréstimo das empresas e restringir o crédito para consumidores. Esse aumento provocaria queda no investimento e em compras de bens duráveis, como casas, automóveis e eletrônicos, entre outros. Vale aqui a lógica pura e simples de que, se a demanda cai, o lado da oferta responde, reduzindo a produção e o ritmo de elevação dos preços. A pergunta que nos cabe fazer é: por que o combate da inflação no Brasil requer doses tão elevadas de juros? A pergunta é ainda mais relevante se olharmos para outros países emergentes, que crescem a um ritmo maior e que possuem inflação mais baixa. A resposta passa por entender as condições nas quais a política monetária funciona bem. Existem pelo menos duas: que a economia não sofra outros choques e que a taxa básica de juros reflita diretamente o custo de tomar dinheiro emprestado. A economia não sofrer outros choques significa que não devem ocorrer outras políticas do governo que estimulem a demanda, anulando, assim, parte do efeito da política monetária. Embora o governo tenha ações nessa área, sendo a mais relevante a do anúncio de um corte de R$ 50 bilhões do Orçamento, a verdade é que, na prática, o gasto do governo aumenta acima da inflação ano após ano. Mesmo se acreditarmos no cumprimento da promessa de corte, o Orçamento que fica é ainda cerca de 7% acima do valor do ano passado, o qual já representava um nível elevado de gastos. Contando uma história longa em poucas palavras: a política fiscal joga contra a política monetária. A segunda condição é que exista uma relação direta e forte entre taxa básica de juros e custo do empréstimo. Essa hipótese é também questionável no Brasil. Aí entra o papel do governo via BNDES, concedendo crédito com juros subsidiados. Também entra o fato de que, para as pessoas físicas, os juros são tão elevados que apenas pequena parcela da população toma empréstimos no sistema financeiro, seja na forma de financiamentos imobiliários, crédito direto ao consumidor, uso do rotativo no cartão de crédito ou cheque especial. Com empresas que pouco são afetadas no seu custo de empréstimo e poucos consumidores se financiando, o efeito também será limitado. Dito isso, cabe agora ao governo assumir uma posição mais clara de coesão de políticas que visem controlar a inflação de forma mais eficiente. É como pedir que os 11 jogadores tentem fazer gol no mesmo lado do campo. Será que é tão difícil perceber?…
Brasil e México são os Falcões da América Latina
Brasil e México são os países da América Latina que adotam as políticas mais rígidas para controle da inflação, por meio do uso de taxas de juros, aponta pesquisa realizada pelos professores Marcelo Moura, do Insper, e Alexandre de Carvalho, da UFABC. O levantamento estudou as políticas monetárias adotadas nas sete maiores economias da América Latina. O estudo, que divide os países em “falcão” (duros no combate à inflação) de “pombos” (tolerantes com relação à inflação), usou dados mensais de 1999 a 2008. Para cada país, a política de definição da taxa de juros pelo Banco Central foi estimada estatisticamente através da Regra de Taylor, que pressupõe que os juros são positivamente relacionados com o nível de inflação e nível de atividade da economia. Segundo Moura, os resultados obtidos separaram os países em três grandes grupos. México e Brasil são as duas nações que apresentaram posturas de “falcão”, subindo a taxa de juros real quando a inflação estava acima da meta de inflação. “Os resultados mostram, de forma matemática, a forte reação da política monetária quando o índice de inflação passada ou a expectativa de inflação estão acima da meta”, explica o pesquisador. O segundo grupo, que inclui Chile e Peru, mostra uma postura mais branda em relação ao primeiro grupo. Já Argentina, Venezuela e Colômbia se qualificaram como ”pombos”, ou seja, não aparentam ter uma política monetária ativa para controlar os índices de inflação quando eles ficam acima do previsto. Leia paper sobre o assunto.
Regimes cambiais e escolhas monetárias
O tema da valorização da moeda brasileira tem pautado diversas discussões há algum tempo. Para o Brasil, a combinação de um ano eleitoral, o aumento do déficit em conta corrente, o aumento nos gastos de brasileiros no exterior e o “choro” dos exportadores colocam o assunto ainda em maior evidência. Muito se discute os efeitos da valorização cambial, não só no Brasil, mas em vários países que adotam câmbio flutuante. No caso brasileiro, porém, o debate não dá a devida atenção às suas causas e às escolhas envolvidas em termos de política econômica. É nestes pontos que este artigo se concentrará. De forma a ilustrarmos a situação, é importante entendermos o regime cambial brasileiro, o qual está diretamente relacionado com o sistema de metas de inflação adotado desde 1999. Como exemplo, vejamos os regimes cambiais e arranjos de política monetária adotados nos Brics segundo a classificação do FMI: o Brasil adota câmbio flutuante, sistema de metas de inflação e usa a taxa de juros para o controle da inflação; a Rússia adota câmbio fixo com relação a uma cesta de moedas e usa essa âncora cambial para o controle da inflação; a Índia tem um câmbio gerenciado (sem valor pré-determinado) e não possui âncora definida ou meta explícita para a inflação; finalmente, a China adota um câmbio fixo com relação ao dólar americano e, assim como a Rússia, utiliza a âncora cambial. Como se pode perceber, nenhum desses países adota a mesma combinação de regime cambial e arranjos/instrumentos de política monetária para controlar a inflação. No caso de Rússia, Índia e China, é possível influenciar o apetite dos investidores externos e a entrada de moeda estrangeira através da definição da taxa de juros. Desta forma, nestes países, o que o Banco Central faz é definir a taxa de câmbio (Rússia e China) ou definir um caminho escolhido para o câmbio (Índia). Assim, cabe ao mercado escolher a taxa de juros e ao BC definir o nível ou trajetória do câmbio. No Brasil, devido ao sistema de metas de inflação, os juros são definidos com o único propósito de controlar a inflação – ou seja, a taxa de juros não pode ser determinada de forma a influenciar a taxa de câmbio. Em nossa economia, se o governo federal optar por um câmbio mais desvalorizado que incentive exportações em prejuízo de importadores, consumidores e turistas ocasionais, então, terá de abrir mão do sistema de metas de inflação e adotar um câmbio fixo ou gerenciado. Basicamente, seria adotar um sistema que controlou a inflação brasileira de 1994 a 1999, com um fim bastante conturbado, e abandonar o sistema de metas de inflação, o…
Empresários veem piora no cenário para 3º trimestre
O Índice de Confiança do Empresário de Pequeno e Médio Negócios (IC-PMN) mostra que os empreendedores de pequeno porte estão menos otimistas com as perspectivas econômicas para o terceiro trimestre. Houve queda de 4.10% no indicador, que passou de 74,3 pontos no segundo trimestre para 71,2 pontos no próximo. No entanto, as previsões com relação ao faturamento, lucro e contratações de empregados mantiveram-se praticamente estáveis, revela a nova pesquisa. O Índice de Confiança do Empresário de Pequenos e Médios Negócios no Brasil (IC-PMN) foi desenvolvido pelo Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, em parceria com o Banco Santander. Para a pesquisa do IC-PMN, foram ouvidos 1,2 mil pequenos empresários, entrevistados nas cinco regiões do país, nos três ramos de atividade (comércio, serviços e indústria) e que faturam até R$ 30 milhões por ano. Para explicar a menor confiança na economia e, ao mesmo tempo, a manutenção do lucro e faturamento do pequeno negócio, o professor do Insper, José Luiz Rossi, integrante da equipe que desenvolve o índice, afirma que os empresários podem estar mais pessimistas em função do agravamento dos acontecimentos no exterior, como a crise da dívida pública da zona do euro, iniciada na Grécia, e com extensão na Itália, Espanha, Portugal, entre outros países. O empresário também considera, em sua percepção futura da economia, o recuo da projeção de crescimento do Produto Interno Brasileiro (PIB) do país para 2012. “Mas, o microempresário brasileiro não teme crise aguda no próximo semestre, já que pretende manter o número de empregados. Para ele, será um período de crescimento baixo, mas contínuo”, diz. O resultado da pesquisa aponta que o setor de serviços, que se beneficiou do aumento de renda da população ao longo de 2011 e início de 2012, já está sentindo a desaceleração da economia. Enquanto isso, o dono de pequenas empresas no setor industrial demonstra otimismo com os incentivos do governo para a indústria manter-se aquecida, explica Rossi. Durante o levantamento do índice IC-PMN, pelo Insper e Santander, foi feita uma pesquisa com os empresários sobre os empréstimos tomados pelo segmento de pequena e média empresa. A pesquisa, feita com exclusividade para o Valor, mostrou que mais da metade dos entrevistados (60,2 %) contrata financiamento para investimentos no próprio banco onde a empresa tem conta. Outros 14,6% solicitam a amigos e familiares, outros bancos ou outras fontes. Mais de 25% declararam não precisar de financiamento para investir. A mesma pergunta foi realizada com relação às expectativas no 1o trimestre deste ano. Na época, os percentuais obtidos ficaram próximos aos atuais. Na análise do professor do Insper, José Luiz Rossi, o atual resultado da pesquisa revela que, mesmo com a…
Tá com medinho 02?
Na semana passada pudemos observar mais uma vez o ativismo infatigável do governo, que, pela quinta vez, alterou as regras do Imposto sobre Operações Financeiras para as operações de câmbio, agora reduzindo o prazo mínimo para isenção de cinco para dois anos. Com isso, fica claro como o regime cambial no Brasil mudou de flutuante para um sistema de bandas: embora seja difícil precisar os limites exatos, aparentemente não querem o dólar abaixo de R$ 1,90 nem acima de R$ 2,05. À luz de tudo da retórica governamental não é difícil entender a resistência ao barateamento do dólar. Afinal de contas, passaram os últimos anos reclamando do tsunami monetário (que, diga-se, não acabou nem parece em vias de terminar, embora a moeda tenha se depreciado), da especulação e do estado do gramado. O curioso, para não dizer irônico, é a resistência ao encarecimento do dólar, visível na alteração das regras, assim como na política de intervenção do BC. O que teme o governo? Em 2008 e em 2009, a exposição de empresas nacionais a derivativos de câmbio exóticos levou várias delas a situações complicadas, fazendo com que bancos restringissem o crédito por causa da incerteza sobre a saúde financeira do setor corporativo. No entanto, tal exposição não se verifica hoje, indicando que as chances de repetição daquele fenômeno parecem ser bastante baixas. É verdade que a dívida externa do setor privado aumentou bastante de 2008 para cá, de pouco mais de US$ 200 bilhões em dezembro de 2008 (o equivalente a um ano de exportações) para cerca de US$ 340 bilhões em março deste ano (algo como 16 meses de exportações). Todavia, nesse mesmo horizonte os ativos brasileiros no exterior, exceto as reservas internacionais, saltaram de US$ 214 bilhões para quase US$ 380 bilhões. Colocando na balança todos os ativos e passivos em moeda estrangeira, calculo que o setor privado brasileiro apresentava em março deste ano um passivo líquido em moeda estrangeira da ordem de US$ 48 bilhões (em 2008 havia um ativo líquido de US$ 12 bilhões). Parece muito, mas representa menos de 20% das exportações e cerca de 2% do PIB. Para fins de comparação, à época da crise de 2002 o passivo líquido em moeda estrangeira do setor privado atingia mais de 10% do PIB e equivalia a 80% das exportações anuais. Vale dizer, o efeito da desvalorização da moeda sobre os balanços das empresas é mais do que compensado pelo efeito da desvalorização sobre suas exportações. Não há motivos, portanto, para temer que o enfraquecimento do real possa levar ao mesmo tipo de crise financeira observada em 2002 e em 2008. Diga-se, aliás, que a mesma…
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