É possível aproveitar o momento e se destacar no mercado mesmo diante do cenário desfavorável que a economia brasileira vive atualmente. Essa foi a premissa do evento 2016 – Cenário Econômico: Oportunidades na Crise, realizado no auditório Steffi e Max Perlman, do Insper, em 19 de abril. A apresentação foi conduzida por Guilherme Mammana, sócio da consultoria Doxa Partners, que imprimiu um tom de bate-papo ao conteúdo ministrado com a participação de Marcos Lisboa, presidente do Insper. Cerca de 150 pessoas compareceram ao evento.
Cenário de crise
“A crise é algo inesperado. Gera incerteza e desconforto, além de ter um resultado totalmente imprevisível. Em compensação, traz oportunidades, evolução de aprendizado e a chance de mudar estrategicamente para crescer e desenvolver vantagens competitivas”, afirmou Mammana. De acordo com o palestrante, nos últimos 25 anos, o mundo passou por 160 crises do gênero, algumas de grande impacto e outras mais brandas. Entre elas destaca-se uma recente, ocorrida entre 2008 e 2009, que se deu a partir de uma sucessão de falências de instituições financeiras nos Estados Unidos e na Europa.
Apontadas como uma consequência do próprio sistema capitalista, a dinâmica das crises econômicas foi comparada por Mammana ao jogo de cartas rouba-monte. “Em meio à crise, é mais viável que alguém que esteja em situação desfavorável melhore de posição. Já quem está muito acomodado acaba caindo”, explicou.
Durante o evento, Mammana e Lisboa mostraram que as crises econômicas despontam ao longo de um período dividido em quatro etapas: equilíbrio econômico, no qual há um momento de racionalidade e os agentes econômicos estão funcionando bem; crescimento econômico, quando ocorre a euforia em um cenário em que tudo dá certo; crise econômica, quando há uma quebra do paradigma que estava funcionando anteriormente; e, finalmente, crise financeira sistêmica, que pode ocasionar na quebra de bancos e acarretar em colapso e pânico total da sociedade. “Quando chegamos às duas fases finais, a tendência é tentar voltar para as duas primeiras”, comentou Mammana.
Em meio a esse cenário, as pessoas tendem a assumir dois tipos de perfis: incumbent ou attacker. O primeiro identifica aqueles que não funcionam diante de um terreno incerto. Eles são “pé no chão” e precisam ter uma projeção do que vai acontecer. Já o segundo grupo vive com a expectativa de surpresas – e até gosta da crise. “Reagir de uma maneira diferente, entretanto, não quer dizer que os incumbent não tenham chance de vencer nesse momento. Eles têm, mas é fato que a crise acaba propiciando mais oportunidades para quem é mais criativo. E tem muita gente boa no mercado hoje. Talvez essa seja uma forma do Brasil se destacar: investindo no novo”, afirmou Mammana.
No Brasil
Segundo Lisboa, o Brasil vive uma recessão de 4% desde 2015 e, provavelmente, deve repetir essa performance em 2016. “Nosso maior problema não foi a crise, mas a reação de negá-la por algum tempo, de criar mecanismos para garantir a expansão da economia e não fazer o ajuste. Isso acabou gerando – somado a outras questões – o cenário que vivemos hoje. É curioso como uma reação equivocada em momentos difíceis pode tornar o problema várias vezes maior”, disse. O presidente do Insper ainda comparou a situação econômica atual à de 1974. À época, com o fim do chamado “milagre econômico”, o país viu os empréstimos estrangeiros se tornarem escassos e o preço do petróleo aumentar significativamente. “O mundo passou por alguns anos de dificuldade, se acertou e voltou a crescer. O Brasil não”, afirmou.
Em comparação com as últimas crises vividas pelo país, Mammana concluiu que, em média, levamos cerca de três anos e dois meses para nos recuperarmos. Porém, como cada período tem comportamentos distintos, o número pode mudar. “Essa é apenas uma reflexão sobre o histórico brasileiro. Se a atual crise vai durar esse tempo ou não, é difícil dizer”, ressaltou o sócio da consultoria Doxa Partners. Vale lembrar que o Brasil já passou por 10 crises históricas e uma das mais profundas perdurou durante seis anos.
Oportunidades
Reveses à parte, tanto Mammana quanto Lisboa acreditam que é possível apostar e se dar bem mesmo diante da retração da economia. Para isso, no entanto, é preciso colocar as ideias em prática e ser criativo. “A gente sempre acha que um grupo com maior poderio de mercado já pensou no nosso projeto e, por conta disso, deixamos de investir nele. Eu digo para vocês: não é assim”, comentou Mammana. “Esqueça a crise. Deixe-a para os pessimistas, que vão ficar chorando e deixarão de se mexer. De repente é hora de vender lenço para eles. Quem for mais ágil é que se dará bem, pois sempre há oportunidade para quem observa o cenário por outro ângulo”, acrescenta.
Durante o evento 2016 – Cenário Econômico: Oportunidades na Crise, foi revelado ainda que as três melhores áreas para investir hoje no Brasil são: bens de consumo, serviços de saúde e mudanças estruturais – por exemplo, a população de idosos vai aumentar no país, então esta é uma boa oportunidade.
Em relação aos setores, Mammana usou como referência uma média das três últimas crises brasileiras, fez um ranking e verificou que Energy, Consumer Staples e Materials foram os menos impactados. “É claro que, conforme o período, o comportamento muda. Seria bom se pudéssemos montar um sistema para saber em que lugar investir uma graninha para aproveitar o momento de crise e a saída dela. Não é assim, mas dá para arriscar”, disse.
Entre as ideias expostas para explorar nos momentos de crise estão: tomar a decisão de investimento de maneira correta, aumentar eficiência e produtividade, focar no novo consumidor pós-crise (quem saiu dela já queimou a mão no crédito e vai voltar diferente), pensar nos mercados externos (as empresas que mais acertam do ponto de vista estratégico são aquelas que sempre têm um pezinho no mercado externo), apostar na consolidação (compra e venda na crise) e procurar pessoas qualificadas.
Outra dica de Mammana é deixar de usar o exterior como base. Por mais que o brasileiro trabalhe o mesmo número de horas que um norte-americano, a renda é alta, mas a produtividade é baixa. Isso porque a infraestrutura é pior. “Vamos parar de ficar pensando que o Brasil está bom porque a soja está em um momento favorável ou porque o dólar fez isso ou aquilo. Todo dia a gente tem que pensar: ‘o que eu faço melhor do que os que estão lá fora?’. Esse pensamento é o que leva ao efeito de produtividade que, no final, traz o resultado positivo para você”, afirmou. As oportunidades, portanto, estão à frente de todos. Basta saber aproveitá-las da melhor maneira.
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