Autor:
José Luiz Rossi Júnior
Nos últimos meses, economistas, empresários e governo vêm discutindo a necessidade ou não de intervenções por parte do Banco Central do Brasil no mercado de câmbio. Neste debate podem-se observar duas posições claras. De um lado os defensores da intervenção culpam a apreciação do Real como causadora da piora das contas externas brasileiras, da redução das exportações principalmente no setor manufatureiro e o aumento das importações. Para estes o Banco Central deveria agir fortemente no mercado cambial com o intuito de interromper este processo de apreciação do Real. De outro lado, há os defensores do fim ou pelo menos de uma redução nas intervenções do Banco Central. Estes arguem que as intervenções são inócuas para combater a evolução da taxa de câmbio e o seu benefício da consequente acumulação de reservas já foram ultrapassados pelo custo que seria o diferencial de taxa de juros interna e externa pago pelo Banco Central.
Infelizmente, a literatura econômica chegou até hoje a conclusões ambíguas sobre o impacto das intervenções na trajetória da taxa de câmbio. O máximo que podemos dizer é que se realmente há um impacto este é de curtíssimo prazo e não se mantém por períodos extensos. No trabalho desenvolvido em sua dissertação de mestrado Profissionalizante em Economia do Insper, Rodrigo da Rosa Borges, orientado pelo Prof. José Luiz Rossi Júnior, analisa as intervenções do Banco Central sob uma ótica diferente do que o impacto na trajetória da taxa de câmbio. Os autores procuram identificar se as intervenções introduzem algum tipo de previsibilidade no comportamento da taxa de câmbio.
Os autores calculam as médias dos retornos diários gerados por uma regra de negociação baseada em análise técnica no período de 2004 a 2009 no mercado brasileiro. Os resultados indicam que quando os períodos de intervenção fazem parte da amostra, a estratégia analisada apresenta retornos positivos e estatisticamente significantes, já quando os períodos de intervenção são retirados da amostra não se pode rejeitar que os retornos da estratégia sejam nulos. Portanto, os autores concluem que as intervenções oficiais geram previsibilidade na taxa de câmbio que pode ser identificada através da análise técnica, gerando assim lucros para os agentes privados. É interessante observar que os autores mostram que esta previsibilidade é tão maior quanto maior for o volume da intervenção do Banco Central.
A explicação mais plausível para os resultados parece estar relacionada à atuação “leaning against the wind” do Banco Central. O Banco Central do Brasil tende a intervir no mercado contra uma tendência em curso da taxa de câmbio. Se esse é o caso, e essa percepção está suficientemente difundida entre os agentes privados, toda vez que o Banco Central atua, a convicção dos especuladores em uma determinada direção da taxa de câmbio será reforçada, dado que a intervenção oficial por parte de um órgão que possui informações privilegiadas acerca do mercado de câmbio estaria sinalizando mais claramente uma tendência que ele estaria tentando suavizar os movimentos da taxa de câmbio. Desta maneira, o Banco Central estaria transferindo recursos para o setor privado baseado que este custo seria mais do que compensado pela segurança propiciada pelo acúmulo de reservas internacionais, como visto durante a crise financeira mundial iniciada em 2008.
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