A escravidão no Brasil chegou ao fim num contexto em que o emprego da mão de obra cativa não se mostrava tecnologicamente defasado nem pouco lucrativo. Derrotou-a um fenômeno político –a pressão e as conquistas do Abolicionismo.
Ao longo do período derradeiro dessa instituição, em especial após a lei de 1871 que libertou todos os que a partir de então nascessem de mãe escravizada, os preços dos escravos passaram a refletir as expectativas sobre o fim da escravidão.
“The Economics of Labor in Brazilian Coffee Plantations – 1850-1888″, tese de doutorado de Pedro Carvalho de Mello na Universidade de Chicago em 1977, chega a essas conclusões por caminhos analíticos pioneiros e bases de dados originais no estudo da economia da escravidão no Brasil.
As informações demográficas e econômicas sobre os escravos nas regiões cafeeiras do Sudeste, que concentraram cada vez mais essa mão de obra conforme o século XIX avançava, foram colhidas, entre outras fontes, de estudos feitos à época por especialistas, inventários de fazendas, hipotecas bancárias e anúncios no Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), além do Censo de 1872.

A evolução dos preços de venda e de aluguel de escravos foi traçada de 1835 até a Abolição, em 1888, possibilitando testar hipóteses como a de que haveria tecnologia de trabalho mais eficiente desestimulando o emprego dos cativos. Não foi encontrada evidência a esse respeito.

A longevidade dos escravos foi estimada, o que permitiu a comparação do retorno econômico que propiciavam a seus proprietários com o rendimento de ativos disponíveis naquele tempo. Apurou-se uma taxa de retorno com escravos pelo menos equiparável às alternativas.

Com a evolução no tempo das curvas de variação do preço dos escravos por idade, Pedro Carvalho de Mello mostrou como o prêmio pago pelos que estavam no auge do vigor, padrão esperado num mercado estável, desapareceu com a aproximação da Abolição.

Na comparação de preços de compra e aluguel de escravos entre, de um lado, um período em que a pressão abolicionista era baixa e, do outro, a conflituosa década de 1880, o estudo mostrou o rápido aumento do pessimismo dos proprietários sobre o futuro da instituição escravista.

Num exercício para estimar a vida econômica útil esperada do trabalho escravo que estava embutida nos preços, o estudo ilustra a velocidade com que as expectativas foram afetadas pelo Abolicionismo. Em 1881, os preços indicavam que a escravidão fosse durar ainda mais 29 anos, até 1910. Em 1885, a duração embutida caíra para 5 anos. Em 1887, os preços já carregavam a informação, correta, de que a escravidão acabaria no ano seguinte.

A tese de Pedro Carvalho de Mello se filia a um extenso programa de estudos sobre a economia da escravidão conduzido, entre outros, pelos americanos Robert W. Fogel (1926-2013) e Stanley L. Engerman desde o final da década de 1950. Suas principais características –como a coleta e a análise exaustivas de informações quantitativas e o emprego de técnicas estatísticas, econométricas e demográficas — estão presentes em “The Economics of Labor in Brazilian Coffee Plantations”.
Trata-se de um clássico sobre a economia da escravidão no Brasil.