Às vésperas da nacionalização conduzida durante o Estado Novo, em fins da década de 1930, imigrantes japoneses, italianos e alemães haviam fundado o maior número de escolas estrangeiras em São Paulo. Nas três primeiras décadas do século XX, alemães e japoneses apresentavam as maiores taxas de alfabetização entre os imigrantes no Brasil. Com instrução menor que a destes dois grupos, os italianos tinham larga vantagem sobre a média brasileira.
Em “Immigration and the path dependence of Education: the case of German-speakers in São Paulo, Brazil (1840-1920)” [Imigração e a dependência da trajetória na educação: o caso dos germanófonos em São Paulo, Brasil (1840-1920)], Bruno Gabriel Witzel de Souza conclui que escolas alemãs, privadas, favoreceram o aumento de matrículas no estado de São Paulo durante a década de 1910, efeito que se propagou pelas redes públicas de ensino primário.
Imigrantes de língua alemã estiveram associados às duas principais políticas imigratórias conduzidas em São Paulo. Desde fins da década de 1840 até a de 1870, eram contratados como trabalhadores endividados para as fazendas de café. A partir de fins de 1880, também foram atraídos pelas colônias oficiais fundadas pelo governo central e pelo regional.

Os alemães em São Paulo fundaram ao menos 44 escolas, várias com existência precária, que nem chegaram a constar de relatórios de associações escolares alemãs no Brasil.
Witzel de Souza lançou mão de almanaques de 1872 e 1888 numa tentativa de quantificar o nível de habilidades profissionais (“on-the-job skills”) desses imigrantes. Principalmente nas décadas de 1870 e 1880, alemães e suíços tinham participação relevante em atividades artesanais e precursoras da manufatura. Ainda que indiretamente, esses ofícios podiam estar relacionados a uma procura por alfabetização e conhecimentos básicos de matemática.
Além disso, ocorreu uma demanda educacional direta da parte desses imigrantes de língua alemã. Existe forte evidência de que a sua escolaridade era marcadamente mais elevada do que a média dos brasileiros livres.
O estudo de Witzel de Souza testa a importância destas três dimensões dos imigrantes de língua alemã sobre o nível educacional paulista: fundação de escolas, habilidades profissionais e presença na população paulista no século XIX.
Os resultados mostram que a mera presença dos imigrantes não afetou os níveis educacionais no estado. Os efeitos das habilidades profissionais variaram conforme o período analisado. Isso possivelmente indica que suas contribuições foram menos diretas à demanda por educação, mas podem estar relacionadas a mudanças na composição produtiva dos municípios e na adoção de novas tecnologias ao longo do tempo, questão ainda em aberto.
As escolas alemãs, embora tenham exercido impacto apenas indireto no capital humano, elevaram substancialmente os níveis de matrícula no ensino primário na década de 1910, e isso não apenas entre as escolas privadas, mas também nas do governo. Provavelmente, as escolas alemãs à época fomentaram a procura por educação de maneira mais geral, além de contribuírem para a oferta de serviços que podiam beneficiar escolas públicas de São Paulo, como o treinamento e a circulação de professores e de material didático.
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