Adaptação e aprendizado marcam origens da indústria de máquinas em SP
Estudo sugere que parte da historiografia negligenciou a importância da indústria
28/01/2020
Seção mecânica das oficinas Dedini, no interior paulista
Tradicionalmente, os estudos sobre a industrialização brasileira deram mais relevo ao setor de máquinas e equipamentos em uma fase já avançada do processo de desenvolvimento da manufatura, no período pós-Segunda Guerra Mundial. Mas o surgimento e a evolução desse segmento são bem mais antigos. Remontam ao período da economia agroexportadora.
Em livro recentemente publicado, o economista Michel Deliberali Marson, da Universidade Federal de Alfenas, explora esse tema em São Paulo, em análise que cobre o período de 1870 a 1960, recorrendo a uma base ampla de fontes primárias e à constante discussão com a historiografia.
Em suas origens, no final do século 19, o setor de máquinas e equipamentos paulista se compunha sobretudo de oficinas e fundições destinadas a reparar máquinas importadas, tipicamente vinculadas à demanda local, em segmentos em torno da exportação de produtos primários, em especial café, algodão e açúcar. Logo em seguida, algumas dessas empresas começaram a produzir máquinas e equipamentos completos para a agricultura e, depois, para a indústria emergente.
Após a Primeira Guerra Mundial e ao longo das décadas de 1920 e 1930, a indústria de máquinas e equipamentos de São Paulo acompanhou a evolução da economia e se adaptou às mudanças do mercado. À medida que a indústria de transformação se desenvolvia e ganhava peso, acelerava-se e aprofundava-se a diversificação no setor de equipamentos, com o crescimento de produtores de maquinário para a indústria e da participação relativa do segmento no conjunto da indústria.
Formou-se um núcleo produtor de máquinas para vários setores industriais, enquanto algumas empresas se especializavam em máquinas operatrizes. Esse núcleo se tornaria um esteio dos estágios mais avançados da industrialização brasileira, no período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial.
Dois casos representativos dos traços gerais dessa evolução são os das firmas Dedini e Romi, que iniciaram suas atividades no interior de São Paulo na década de 1920 como pequenas oficinas e se tornaram, nas décadas seguintes, líderes nos segmentos de máquinas e equipamentos para o setor canavieiro e de máquinas operatrizes, respectivamente.
O exame de suas origens no final do século 19—e das modificações por que passou nas décadas de 1920, 1930 e 1940— mostra que a indústria de máquinas e equipamentos estabeleceu relações precoces e diversificadas seja com a agricultura, seja com o próprio setor industrial. Outra característica que sai destacada do estudo é a capacidade de aprendizado e adaptação do segmento a um ambiente econômico em rápida transformação.
O livro de Michel Marson questiona a periodização ainda mais aceita da industrialização brasileira, sugerindo que boa parte da historiografia negligenciou o papel do setor de máquinas e equipamentos no final do Império e nas primeiras décadas da República.